Em dia de jejum, Bolsonaro toma xícara de café, vê economia no beleléu e descarta canetada

Presidente se disse preocupado com situação do país, segundo ex-deputado Alberto Fraga

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Evangélico faz oração em frente ao Palácio da Alvorada, em dia de jejum convocado por Bolsonaro

Evangélico faz oração em frente ao Palácio da Alvorada, em dia de jejum convocado por Bolsonaro Pedro Ladeira/Folhapress

Brasília

No dia marcado para um jejum nacional convocado por ele, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) recebeu aliados, tomou uma xícara de café e falou de sua preocupação com a situação econômica do país em meio à crise do coronavírus.

Pela manhã deste domingo (5), o presidente recebeu o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, e o ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF), amigo de longa data.

Por volta das 10h, Fraga chegou ao Palácio da Alvorada, onde grupos religiosos já estavam reunidos para o jejum convocado por líderes evangélicos e pelo próprio presidente para o país superar a crise desencadeada pela pandemia.

Bolsonaro fala com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada nesta sexta (3)
Bolsonaro fala com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada nesta sexta (3) - Pedro Ladeira/Folhapress

De acordo com o ex-deputado, Bolsonaro estava de jejum desde a 0h de domingo e havia tomado apenas uma xícara de café. "Só o cafezinho. Não vi ele comer nada", disse.

Segundo Fraga, que já foi cotado algumas vezes nos últimos meses para se tornar ministro, o presidente relatou sua preocupação com a situação econômica do país.

"Claro que ele está preocupado demais com a situação do país, dizendo que a economia já foi para o beleléu", disse. "O caos social que vai vir vai matar muito mais que o corona. Por enquanto só se fala na morte do corona, mas vai ser muito problemático", afirmou.

Apesar disso, o ex-deputado disse que Bolsonaro não vai editar decreto para reabrir o comércio, como chegou a anunciar que cogitava. "Não vai fazer decreto. Ele tem consciência de que se fizer um decreto, o Congresso derruba", disse Fraga.

Na semana passada, em entrevista à rádio Jovem Pan, Bolsonaro disse que poderia dar uma canetada para derrubar as decisões de governadores e prefeitos e determinar a reabertura do comércio. “Para abrir comércio, eu posso abrir em uma canetada. Enquanto o Supremo e o Legislativo não suspenderem os efeitos do meu decreto, o comércio vai ser aberto. É assim que funciona, na base da lei."

O presidente defendeu que, a partir da próxima segunda-feira (6), estados e municípios determinem uma reabertura gradual da atividade comercial, evitando um aumento no desemprego.

​O especialista em direito constitucional Acacio Miranda da Silva Filho lembra que a Constituição estabelece a divisão de competências entre os entes federados. "Não seria possível porque o pacto federativo dá esta atribuição aos municípios. Ele só poderia fazê-lo a pretexto de regulamentar a ordem econômica, o que acho forçoso neste momento", afirma Silva Filho.

O professor Julio Hidalgo vai além e pondera que não há previsão para que se determine a reabertura do comércio por decreto.

"Um decreto não pode se sobrepor à Constituição, a uma lei. Você pode fazer isso através de lei, mas não por meio de um decreto, que é um ato unilateral do presidente da República. A ideia é natimorta. Horário de funcionamento de comércio é considerado de interesse local, cabe ao município decidir este tipo de situação", diz o jurista.

Neste domingo, Bolsonaro teve também a companhia do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), um de seus filhos, que deixou o Palácio da Alvorada acompanhado da mulher, Heloísa Wolf, pouco antes do fim da tarde.

Evangélicos fazem orações em frente ao Palácio da Alvorada
Evangélicos fazem orações em frente ao Palácio da Alvorada - Pedro Ladeira/Folhapress

Mais cedo, grupos de evangélicos se reuniram em frente ao Palácio da Alvorada para jejuar e rezar pelo presidente Bolsonaro. Após o chefe do Executivo e líderes religiosos convocarem a população para um jejum nacional, fiéis foram a té a residência oficial do presidente para fazer orações para que o país supere a crise do novo coronavírus.

Bolsonaro passou o dia em casa e não saiu para falar com apoiadores na porta do palácio, mas teve reunião com aliados e assessores.

No sábado (4), o presidente havia publicado nas redes sociais um vídeo com diversos pastores chamando para o jejum. O deputado Roberto Lucena (Podemos-SP), que é pastor e participou do vídeo, afirma que está de jejum e que dedicou toda a manhã para rezar.

O objetivo de passar o dia sem se alimentar, explica, é para livrar o país e o mundo da doença. “A campanha tem o sentido de trabalhar como se tudo dependesse de nós e orar como se tudo dependesse de Deus. Fazer tudo que está ao nosso alcance”, disse.​

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