Governadores criticam Bolsonaro, lamentam saída de Moro e lhe oferecem cargos

Gestores estaduais também demonstraram preocupação com crise política em meio ao coronavírus

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São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba

Governadores pelo país lamentaram a demissão de Sergio Moro do Ministério da Justiça e elogiaram o trabalho do ex-juiz da Lava Jato. Alguns, como Wilson Witzel (PSC-RJ), Ratinho Júnior (PSD-PR) e Carlos Moisés (PSL-SC), ofereceram a Moro cargos em seus governos.

Parte dos governadores, como Flávio Dino (PC do B-MA), também criticaram Jair Bolsonaro, afirmando que Moro indicou crimes cometidos pelo presidente ao anunciar sua demissão nesta sexta-feira (24).

Os governadores ainda demonstraram preocupação com o agravamento da crise política em meio à pandemia de coronavírus que atinge o país.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou em entrevista coletiva que Bolsonaro é um vírus. "A saída de Sergio Moro é um golpe na Justiça, na democracia do Brasil. Lamento muito que o nosso país tenha que combater e lutar contra dois víruus: o coronavírus e o outro vírus que está no Palácio do Planalto, em Brasília", disse.

O governador João Doria (PSDB) durante homenagem que prestou a Sergio Moro, em junho de 2019 - Eduardo Knapp/Folhapress

"São Paulo reconhece e agradece o trabalho do ministro ao longo de sua atuação sempre foi republicano, correto e agiu de forma diligente", completou. Doria disse ainda que Moro "ajudou a escrever as melhores páginas da história do Brasil".

No Twitter, Doria afirmou que "o Brasil perde muito com saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça". "Moro mudou a história do país ao comandar a Lava Jato e colocar dezenas de corruptos na cadeia. Deu sinal de grandeza ao deixar a magistratura, para se doar ainda mais ao nosso país como ministro", disse.

Durante a tarde, após o pronunciamento de Bolsonaro sobre a demissão de Moro, o tucano afirmou que a fala do presidente foi estarrecedora. "Tentou justificar o injustificável. Atacou Sergio Moro, falou coisas desconexas e flertou com o autoritarismo", tuitou.

Pela manhã, o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), comentou: "Assisto com tristeza ao pedido de demissão do meu ex-colega, o juiz federal Sergio Moro, cujos princípios adotamos em nossa vida profissional com uma missão: o combate ao crime".

"Ficaria honrado com sua presença em meu governo porque aqui, vossa excelência, tem carta branca sempre", afirmou convidando Moro para o governo.

Mais tarde, Witzel também comentou o pronunciamento de Bolsonaro. "Permanece a dúvida dos brasileiros: por que o presidente quer um diretor da Polícia Federal com quem possa interagir?", questionou.

O governador do Paraná, estado natal de Moro, Ratinho Jr. (PSD), lamentou a saída do ex-juiz do governo federal. Por uma rede social, o governador afirmou que Moro “é o maior paranaense da história recente”.

“Como juiz e como ministro ajudou a combater a corrupção em nosso país. Lamento muito a sua saída do Ministério da Justiça e Segurança Pública, mas tenho certeza de que ele vai continuar contribuindo com a nação em outros desafios. O Paraná te recebe de braços abertos”, escreveu.

Fontes do Palácio Iguaçu, sede do governo paranaense, afirmam que alguns secretários já pedem que Moro assuma a pasta da Justiça. Outros sugerem que, para tornar o convite mais atrativo, uma estatal, como a companhia de energia elétrica do Paraná, seja oferecida ao ex-ministro.

Atual titular da secretaria de Justiça, o deputado federal Ney Leprevost (PSD) deve deixar a função em junho para disputar a prefeitura de Curitiba. “Mas, se for para dar lugar a ele [Moro], eu posso até antecipar a saída. Para mim, seria uma honra imensa”, afirma o secretário, um dos que fazem coro para a concessão do cargo para o ex-juiz da Lava Jato.

Ainda segundo fontes internas do governo, a polícia do estado teria sido colocada à disposição para cuidar da proteção de Moro e de sua família, já que ele possui moradia fixa em Curitiba. A informação é negada pela assessoria do governador.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), avalia que, com o desembarque de Moro, Bolsonaro perdeu força política. “Ruiu definitivamente o seu suposto compromisso com a luta contra a corrupção”, afirma.

“Mais do que isso: O depoimento de Moro é uma forte prova de vários crimes de responsabilidade. Crimes contra a probidade na administração, em face da falsificação de um ato administrativo, e também crimes contra o livre exercício dos Poderes do Estado, pela interferência política na Polícia Federal para abafar investigações”, complementa.

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), afirmou que Bolsonaro não está interessado em salvar vidas em meio à pandemia do novo coronavírus, mas sim atuar em defesa de parentes e amigos em possíveis investigações da Polícia Federal. "A cabeça de quem está no comando do governo federal não é salvar vida humana. É pensar nas investigações que estão sendo feitas com parentes ou amigos ligados ao presidente da República", afirmou.

Ronaldo Caiado (DEM), governador de Goiás que rompeu recentemente com Bolsonaro, afirmou que "Moro tem uma vida de grandes serviços prestados ao país na moralização e no combate à corrupção". "Lamentável que essa situação tenha chegado a esse ponto", disse.

O governador do Pará (MDB), Helder Barbalho, afirmou que Moro foi um grande parceiro e lhe desejou sucesso. "Com seu apoio, atravessamos crises e reduzimos a violência, que continua em queda histórica em nosso estado. O país perde um colaborador da maior grandeza", escreveu.

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), lamentou a saída de Moro. "Manifesto minha admiração por tudo que Moro representa ao país no combate à corrupção, seja como juiz ou ministro. O Brasil agradece o trabalho e dedicação daquele que trouxe mais esperança para o nosso povo."

O governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), afirmou que os brasileiros perdem com a saída de Moro. "Moro é sinônimo de luta contra a corrupção, condição essencial para a construção de Brasil um melhor. Lamento. Seu trabalho sempre foi correto e ético."

Também convidou Moro para trabalhar em seu estado: "Será bem-vindo aqui".

Camilo Santana (PT), governador do Ceará, afirmou que os fatos alegados por Moro para deixar o governo Bolsonaro são graves. "Órgãos de controle e investigação como a Polícia Federal, devem estar blindados de interferências políticas e atuar sempre com autonomia e isenção, imprescindíveis numa democracia", declarou.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), afirmou que o trabalho técnico, o combate à corrupção e a valorização do mérito foram derrotados. "A saída de Moro, na forma como se deu e pelas motivações apresentadas, em um momento delicado da vida do país, abala os brasileiros que lutam por um país mais justo e transparente."

O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), afirmou que a saída de Moro evidencia a instabilidade do governo federal e preocupa pela ingerência política nas ações policiais. "É inaceitável a insistência em criar problemas, diante de uma crise crescente, que ameaça a vida das pessoas. Serenidade e responsabilidade são princípios imprescindíveis", disse em crítica a Bolsonaro.

Renato Casagrande (PSB), governador do Espírito Santo, disse que a demissão de Moro agrava a crise do governo Bolsonaro. "A permanente instabilidade política mesmo em meio a pandemia fragiliza as instituições democráticas e mantém a angustia dos brasileiros. Governo Bolsonaro perde seu maior selo de qualidade", afirmou.

O governador do Amapá, Waldez Góes (PDT), afirmou que a demissão de Moro em meio à pandemia de coronavírus "traz profunda preocupação quanto à situação política e institucional do nosso país".

"As denúncias apresentadas por Moro, ao anunciar sua demissão, são gravíssimas e comprometedoras, exigindo esclarecimentos convincentes do presidente da República, sob pena de fragilizar as nossas instituições republicanas e democráticas, exatamente quando o Brasil precisa, mais do que nunca, de estabilidade para enfrentar o momento crítico que vivemos", completou.

No fim da tarde, em transmissão nas redes sociais, Caiado, Zema, Leite e Barbalho, ao lado do vice Doria, Rodrigo Garcia (DEM), discutiram políticas de enfrentamento ao novo coronavírus e voltaram a falar sobre a demissão de Moro.

Para Zema, a saída do ministro "veio em um momento muito ruim, de crise econômica, de crise na saúde, o que acaba agravando tudo mais um pouco".

Caiado seguiu na mesma linha: “Eu acho que foi inoportuna essa tomada de decisão e só faz dificultar e agravar esse processo que estamos precisando, de construir harmonia política”.

Já Barbalho disse esperar que "o governo federal não perca o foco no combate ao coronavírus e que todos nós possamos ter a capacidade, neste momento, de cada vez mais nos unir”, disse Barabalho.

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