Descrição de chapéu Folha por Folha

Na Redação quase vazia, dá para ouvir os cães latindo na rua

Jornalistas trabalham em casa usando sistemas da Folha

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São Paulo

Instalada no quarto e quinto andares de um prédio da alameda Barão de Limeira, no centro de São Paulo, a Redação da Folha costuma ser um ambiente ruidoso.

Independentemente da plataforma, o jornal é feito a partir de conversas entre editores, repórteres, fotógrafos, designers, infografistas, entre outros profissionais. E todos sabem que mensagens de WhatsApp e emails não se igualam em praticidade aos diálogos frente a frente.

As amplas janelas do prédio ficam fechadas por causa do sistema de ar-condicionado. E todo dia, às 18h, como acontece há décadas, ouve-se ao fundo, sem alarde, o som de uma sirene, uma marca antiga do bairro dos Campos Elíseos.

Hoje, com o coronavírus, tudo está bem diferente. Na segunda (13), só 5% dos jornalistas estiveram na Redação.

Redação da Folha durante a pandemia de coronavírus
Redação da Folha durante a pandemia de coronavírus - Eduardo Knapp/Folhapress

Com as janelas abertas e sem o zum-zum-zum das conversas, dá para ouvir até o latido dos cães da vizinhança. O som da sirene ecoa com mais força dentro do prédio.

A transição para o home office começou em meados de março, com prioridade para os jornalistas do grupo de risco, caso de grávidas e profissionais com mais de 55 anos. Nas semanas seguintes, a mudança ganhou volume.

O departamento de TI (tecnologia da informação) da Folha preparou os desktops e os notebooks pessoais dos jornalistas para que eles pudessem trabalhar remotamente com os mesmos programas usados na Redação.

Para que esse processo funcione, os computadores utilizados por esses mesmos profissionais na sede do jornal ficam permanentemente ligados, com a supervisão dos técnicos em informática.

Avisos foram colados nos monitores para que as máquinas permaneçam ligadas e possam ser acessadas remotamente - Eduardo Knapp/Folhapress

É o que se chama de espelhamento, o computador em casa ligado à máquina instalada na Redação.

​Cerca de 95% dos profissionais estão atuando dessa forma em São Paulo e em Brasília. Mas não só. A repórter de Mundo Flávia Mantovani, por exemplo, foi com a família para Viçosa, no interior de Minas Gerais, e continua trabalhando.

Aqueles que não tinham uma cadeira confortável para trabalhar em casa puderam levar a que usavam na Redação.

Com menos barulho, a tensão que historicamente caracteriza uma Redação de jornal se arrefeceu, mas a produção se tornou mais difícil.

A comunicação entre os jornalistas é agora mais lenta, o que obrigou as editorias a criar novos procedimentos. Um exemplo trivial: antes de deixar seu escritório caseiro pra comer, o jornalista avisa a sua equipe no grupo de WhatsApp: "vou almoçar", "vou jantar".

"O jornal nunca trabalhou dessa maneira, é uma pressão muito grande", afirma o secretário de Redação Roberto Dias. "Mas a produção tem mantido a qualidade porque os jornalistas, em sua grande maioria, estão muito empenhados."

Além dessa transição de centenas de jornalistas para o trabalho em casa, a Folha promoveu outras iniciativas para proteger seus funcionários da contaminação.

Distribuiu 450 máscaras e 200 potes de álcool em gel. Também comprou 48 macacões de segurança, destinados aos jornalistas que têm de passar por áreas de maior possibilidade de contágio, como hospitais.

Liberou ainda mais vagas no estacionamento do jornal para incentivar o uso de carro próprio, desestimulando as viagens de ônibus e metrô.

"As iniciativas têm funcionado bem. Houve suspeitas de pessoas contaminadas, mas nenhuma se confirmou. Estamos conseguindo blindar os dois andares", afirma a gerente administrativa da Redação, Juliana Laurino.

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