Amanhã será qualquer um que se opõe à visão deles, diz Maia sobre agressões a jornalistas

Presidênte da Câmara diz que cabe às instituições democráticas impor a ordem legal a grupo que confunde fazer política com tocar o terror

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Brasília

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou neste domingo (3) que o Brasil luta contra "o vírus do extremismo" e se solidarizou aos jornalistas agredidos em manifestação pró-governo, em Brasília.

As declarações, sem citar Jair Bolsonaro, foram dadas após o presidente participar de um ato contra o Congresso e o STF (Supremo Tribunal Federal) em que jornalistas sofreram ameaças e agressões por parte dos manifestantes.

O fotógrafo Dida Sampaio, do jornal O Estado de São Paulo, é agredido por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro
O fotógrafo Dida Sampaio, do jornal O Estado de São Paulo, é agredido por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro - Ueslei Marcelino - 03.mai.2020 /Reuters

"No Brasil, infelizmente, lutamos contra o coronavírus e o vírus do extremismo, cujo pior efeito é ignorar a ciência e negar a realidade. O caminho será mais duro, mas a democracia e os brasileiros que querem paz vencerão.", escreveu em uma rede social.

Maia ainda se solidarizou com os profissionais de imprensa, agredidos neste domingo, e também com os de saúde, alvo de bolsonaristas na sexta-feira (1), na Praça dos Três Poderes.

"Ontem enfermeiras ameaçadas. Hoje jornalistas agredidos. Amanhã qualquer um que se opõe à visão de mundo deles. Cabe às instituições democráticas impor a ordem legal a esse grupo que confunde fazer política com tocar o terror".

Nesta semana, alguns líderes partidários tentavam acertar um encontro entre o presidente da República e o presidente da Câmara, para que ambos pudessem voltar a se entender. Diante das manifestações de Bolsonaro deste domingo, contudo, o encontro pode não ser realizado.

Nesta segunda-feira (4), a Câmara recebe do Senado o projeto que prevê auxílio financeiro para estados e municípios durante a pandemia do novo coronavírus, no valor de R$ 120 bilhões. A Câmara, que já havia votado uma proposta superior, teve seu projeto engavetado pelo Senado.

Diante das divergências entre Maia e a equipe de Bolsonaro, incluindo o ministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente do Senado, Davi Alculumbre (DEM-AP), tomou para si as negociações, e acertou um novo projeto com o governo. A Câmara agora só precisa sacramentar a proposta.

A expectativa de Alculmbre é que o projeto seja sancionado ainda nesta terça-feira (5) pelo presidente da República. Alguns senadores, porém, temem que a proposta possa demorar mais a sair, devido às divergências que Bolsonaro tem tido com governadores e com os parlamentares.

As manifestações deste domingo (3), com a presença de Jair Bolsonaro, contra o STF e o Congresso, em especial os presidentes da Câmara do Senado, foram repudiadas por parlamentares e governadores.

O líder da minoria no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que vai ingressar com uma ação popular contra a participação do presidente Jair Bolsonaro e o estímulo que o presidente faz a eventos com aglomeração, que segundo o senador contrariam as orientações sanitárias. Randolfe quer impedir judicialmente Bolsonaro de aglomerar pessoas.

"Chegamos ao limite! Nós, democratas, é que não vamos mais tolerar essas investidas contra a Democracia! A hora é de nos unirmos contra esse projeto genocida e autoritário. O inimigo deveria ser o vírus, mas Bolsonaro, maior aliado do vírus, não permite!", disse o senador.

O presidente do Senado não se manifestou. Já para o senador Major Olímpio (PSL), que foi um dos defensores da candidatura de Bolsonaro, disse que o presidente tem agido de forma lamentável, atingindo os pilares da democracia.

"É lamentável o que está acontecendo. O presidente está atacando os pilares da democracia. Já têm mais de 30 processos de impeachment na Câmara. Uma hora a Câmara vai perder a paciência e tomar alguma atitude a respeito disso", disse.

À frente do PSB na Câmara, o deputado Alessandro Molon (RJ), disse que irá pedir a Rodrigo Maia que dê andamento ao pedido de impeachment do presidente apresentado pelo partido.

“Bolsonaro avança em sua escalada contra a democracia. A cada dia, sobe o tom. Ele já cometeu, pelo menos, 11 crimes. Não há mais o que esperar. Todos os sinais do que pretende já foram dados. É hora de os poderes constituídos reagirem em defesa da democracia. Se não, será tarde demais”, afirmou, em nota.

Kátia Abreu (PP-TO) também se manifestou. "Esse presidente faz guerra o tempo todo. Ele está brincando na beira do abismo. Ninguém mais consegue viver em paz", disse a senadora.

Presidente da CPI das Fake News, o senador Angelo Coronel (PSD-BA) foi mais crítico.

"O presidente está agindo de uma maneira que só o manicômio salva ele. O presidente, da forma que age, atenta contra a vida das pessoas. Quer fazer as pessoas acreditarem em ato espontâneo que não existe.

A líder do PPS no Senado, Eliziane Gama (MA), lamentou os ataques sofridos por jornalistas durante o protesto.

"Em pleno dia mundial da liberdade de imprensa, bolsonaristas agridem fisicamente repórteres em Brasília e o presidente ataca a mídia. Uma vergonha para a nação, que se construiu na luta pela liberdade. O arbítrio não pode ter vez entre nós, os que verdadeiramente amam o Brasil."

Outros parlamentares também repudiaram a participação e as declarações do presidente nos atos.

“No dia em que o Brasil deve ultrapassar 100 mil casos de Covid-19, é lamentável que Bolsonaro demonstre, mais uma vez, seu apoio a um movimento que está na contramão das orientações das autoridades de saúde”, escreveu o líder do PSDB na Câmara, deputado Carlos Sampaio (SP).

Em um recado a Bolsonaro, Sampaio comentou ainda que “quem verdadeiramente defende a democracia não participa ou aceita manifestações que pedem o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.”

Para o deputado Wolney Queiroz, líder do PDT na Câmara, a agressão a jornalistas, como o fotógrafo Dida Sampaio, do Estadão, que foi agredido com chutes e socos, “reflete o quanto nossa democracia segue ameaçada”.

“Esse estímulo ao ódio, os ataques constantes ao Estado Democrático de Direito e à imprensa livre, vão consolidando o viés autoritário que Bolsonaro alimenta no governo, contra as instituições, contra a Carta Magna e contra o Brasil.”

As declarações do presidente também foram alvo de repúdio do presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz.

“Os limites que existem são os da Constituição, e valem para todos, inclusive e sobretudo para o presidente. A única paciência que chegou ao fim, legitimamente e com razão, é a paciência da sociedade com um governante que negligencia suas obrigações, incita o caos e a desordem, em meio a uma crise sanitária e econômica”, disse.​

Os governadores do Rio de Janeiro e de São Paulo também se manifestaram em suas páginas nas redes sociais.

Wilson Witzel (PSC), governador do Rio, escreveu que "o presidente diz pregar a democracia e fica em silêncio diante das agressões sofridas por profissionais do jornal Estadão na manifestação da qual participou. Alimentar o caos é o único plano de governo do presidente."

Já o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), fez duas publicações sobre os episódios deste domingo em Brasília. Disse que "milicianos ideológicos" precisam ser punidos como criminosos.

"Milicianos ideológicos agridem covardemente profissionais de saúde num dia. Agridem profissionais de imprensa no outro. São criminosos que atacam a democracia e ferem o Estado de Direito. A Justiça precisa punir esses criminosos."

Mais tarde se dirigiu diretamente ao presidente. "O presidente Jair Bolsonaro mais uma vez revela seu desapreço pela democracia, desprezo pelo legislativo, menosprezo pelo judiciário e intolerância com a imprensa", publicou.

"Além de não admitir o contraditório, ainda estimula o povo do seu país na desobediência à saúde e à medicina. O que afronta o direito à vida. Inimaginável um presidente do Brasil sendo um exemplo do mal e conspirador contra a democracia."

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