Apoiadores de Bolsonaro reviram lixo do Alvorada para atacar jornalistas

Homens fizeram vídeos dizendo que imprensa era suja; segurança do palácio disse ter feito eles apagarem imagens

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Brasília

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reviraram o lixo em frente à sala de imprensa do Palácio da Alvorada na manhã deste domingo (10) para atacar jornalistas que faziam plantão no local.

Diante da sala onde trabalham os repórteres diariamente, em meio aos simpatizantes do presidente, dois homens passaram a mexer nas notas fiscais nos lixos para ler os nomes dos profissionais.

Eles reviraram embalagens de um serviço de entrega de comida ao lado de uma lixeira cheia do dia anterior. O material não havia sido recolhido até as 10h deste domingo e estava organizado em sacos de papel, até ser revirado pelos apoiadores com camisetas onde se lia "direita raiz".​

Ao lado de um bebedouro, há sacos do ifood jogados pelo chão, perto de uma lixeira
Apoiadores de Bolsonaro viram lixo da sala de imprensa do Palácio do Alvorada para fazer um vídeo de ataque a jornalistas - Daniel Carvalho/Folhapress

Dois homens gravaram então um vídeo atacando a imprensa. Um outro homem acompanhou o ato dos bolsonaristas. A Folha estava presente e gravou em áudio parte das críticas.

"Não tem o nome da pessoa aqui [na nota fiscal]. Mas, enfim, querendo ou não, isso é um descaso com o meu dinheiro, com o seu dinheiro, é um descaso com o nosso patrimônio porque isso tudo aqui é sustentando com o dinheiro dos nossos impostos."

"E eles não valorizam, não têm capacidade sequer para zelar pela higiene e pela limpeza. E é por isso que quando falam que esta mídia é porca, suja, é nos dois sentidos. Eu pensei que era só em um, mas é literalmente também", disse um dos homens, não identificado pela reportagem.

A lixeira revirada fica em frente à sala onde jornalistas ficam diariamente de plantão à espera do presidente, que costuma falar com apoiadores e repórteres, quando sai e chega à residência oficial. Para ter acesso ao local, é preciso passar por um portal de detecção de metal e por um scanner para, só então, ter acesso à área restrita.

Durante a gravação do vídeo, não houve nenhuma abordagem aos apoiadores por parte da segurança do Palácio da Alvorada, a cargo do GSI (Gabinete de Segurança Institucional).

Quando os apoiadores se deslocaram então para o local onde geralmente interagem com o presidente, um agente de segurança foi até os jornalistas para saber o que havia ocorrido. Em seguida, o agente foi até a área dos apoiadores e retornou informando que o vídeo havia sido apagado. Instantes depois, os três homens foram embora.

Procurada para comentar o episódio, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República informou que deve se manifestar em nota.

Hostilidade à imprensa se tornou algo recorrente na cobertura diante do Palácio da Alvorada, incentivados pelo comportamento do presidente, que, na terça-feira (5), mandou repórteres calarem a boca.

Repórteres e militantes são obrigados a entrar e sair na área reservada pelo mesmo local. Na quarta-feira (6), um homem filmou repórteres enquanto os profissionais, apesar de credenciados pela Presidência, forneciam o número do CPF para ingressar na área reservada.

Na sexta-feira (8), jornalistas foram xingados em frente à sala de imprensa. No o último dia (3), profissionais de imprensa foram agredidos verbal e fisicamente por manifestantes em frente ao Palácio do Planalto.

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