Apoio a impeachment chega cedo a Bolsonaro, mas ainda não no nível de Collor e Dilma, indica Datafolha

Desejo pelo processo aferido pelo instituto mostra semelhanças e diferenças entre presidentes

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São Paulo

A abertura de um processo de impeachment contra Jair Bolsonaro racha o eleitorado brasileiro, mas o presidente ainda está em posição mais confortável do que a de seus dois antecessores impedidos desde a redemocratização de 1985.

O presidente Jair Bolsonaro fala com jornalistas e apoiadores na saída do Palácio da Alvorada
O presidente Jair Bolsonaro fala com jornalistas e apoiadores na saída do Palácio da Alvorada - Marcos Corrêa - 29.abr.2020/Presidência da República

É o que se depreende da análise de outros momentos de crise política nos quais o Datafolha perguntou à população se era conveniente o movimento por parte da Câmara dos Deputados.

Relativizando essa leitura há um fato: a intenção contrária a Bolsonaro é alta, 45%, e ele tem um 1 ano e 4 meses no cargo. Outros 48%, um empate na margem de erro de três pontos, são contra a abertura do processo. Os dados foram divulgados na segunda (27).

A palavra impeachment ronda conversas políticas há poucos meses, devido à erosão acelerada da relação entre o Planalto e os outros Poderes e entes federativos. A condução conflituosa da emergência do novo coronavírus, rejeitada por 46% e na qual Bolsonaro se isolou politicamente, acelerou o desgaste político.

A tensão chegou ao paroxismo com a saída de Sergio Moro do governo, com o ministro da Justiça acusando o ex-chefe de querer interferir na Polícia Federal —algo confirmado por Bolsonaro ao insistir no nome de Alexandre Ramagem, próximo à sua família, para a direção do órgão.

O presidente, contudo, mantém um patamar alto de apoio popular no cômputo geral, 33% de ótimo e bom.

O primeiro presidente eleito diretamente depois da ditadura de 1964, o hoje senador Fernando Collor de Mello (então no partido sob medida PRN), foi afastado sob acusação de corrupção em setembro de 1992 —viria a renunciar três meses depois para tentar evitar a perda de direitos políticos, sem sucesso.

Ele passou os dois primeiros anos do mandato, 1990 e 1991, decaindo devido ao caos econômico e à perda de sustentação no Congresso. Fritou na cadeira, de fato, em 1992, quando foi acusado pelo irmão Pedro de envolvimento em um grande esquema de corrupção e acabou alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito e o subsequente impeachment.

O Datafolha aferiu o ânimo da população nos dias 3 e 4 de setembro, pouco mais de 20 dias antes da abertura do processo. Naquele momento, 75% dos brasileiros desejavam a medida, ante 18% que a rejeitavam.

Já Dilma Rousseff (PT) foi reeleita em 2014, assumindo em 2015 sob grave crise econômica decorrente de opções feitas em seu primeiro mandato.

Politicamente, o governo começou a sangrar pelas revelações da Operação Lava Jato, que atingia não só seu partido como vários aliados, em 2014. No ano seguinte, a oposição ferrenha do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB), acelerou sua decadência política.

Em março de 2015, o Datafolha mostrou que 63% dos brasileiros desejavam o impeachment de Dilma, enquanto 33% eram contra. Em outras quatro pesquisas, o índice oscilou até um máximo de 68% a favor (março de 2016), chegando ao derradeiro levantamento de abril de 2016 em 61%.

A presidente acabou afastada em maio daquele ano, sendo julgada e impedida em agosto, devido às pedaladas fiscais que promovera.

Esses dados são referenciais, dado que há diferenças metodológicas —as duas pesquisas sobre Bolsonaro foram feitas por telefone devido à pandemia da Covid-19, enquanto as anteriores eram presenciais.

Outros dois presidentes no período tiveram o impeachment especulado, mas permaneceram no cargo com apoios díspares. Em agosto de 2005, no auge do escândalo do mensalão, o Datafolha quis saber se os brasileiros desejavam um impeachment contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O resultado: 63% eram contrários, 29% a favor. A oposição acompanhou o sentimento popular e preferiu deixar Lula sofrer o desgaste. Deu errado: em 2006, ele havia se recuperado e foi reeleito.

Já em maio de 2017, foi a vez do ex-vice de Dilma, Michel Temer (MDB), ir para a grelha. Pego em uma conversa indevida com o empresário Joesley Batista, ele teve duas denúncias apresentadas pela Procuradoria-Geral da República à Câmara —conseguiu vê-las suspensas até o fim de seu mandato.

O fez pelo apoio expressivo que tinha na classe política e pela anemia da oposição recém-retirada do Planalto. O desejo popular era por impeachment: o Datafolha apontou em junho daquele ano que 81% desejavam o instrumento contra Temer, enquanto 15% o poupavam.

O caso de Bolsonaro é comparável com o de seu antecessor imediato pelo tempo semelhante que ambos tinham no cargo quando o impeachment começou a rondar. Mas Temer tinha quase uma unanimidade popular contra si, algo que está longe do atual presidente por ora.

O que se vê são os traços comuns de todos os presidentes que foram removidos da cadeira: amplo desejo popular pelo processo de impeachment, falta de apoio congressual e crise econômica.

Sobre algo bastante mais intangível, a renúncia de Bolsonaro, o Datafolha mostrou que 46% dos brasileiros a desejam –o valor aferido na segunda (27) é maior do que aquele registrado há duas semanas, 37%.

Em três rodadas questionando sobre a hipótese, entre novembro de 2015 e abril de 2016, o Datafolha ouviu um alto apoio a ela no caso de Dilma, oscilando de 60% a 65%. Já Temer teve a renúncia desejada, no auge de sua crise em 2017, por 76%.

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