Em reunião, Bolsonaro reclamou de nota que lamentava morte de policial rodoviário por coronavírus

Presidente tem minimizado desde o início os efeitos da pandemia e ainda pedido o fim do isolamento

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Brasília

Em reunião ministerial no dia 22 de abril, o presidente Jair Bolsonaro reclamou da divulgação de uma nota oficial da PRF (Polícia Rodoviária Federal) que lamentava a morte de um integrante da corporação por coronavírus.

No dia anterior, a PRF havia divulgado uma manifestação de pesar pela morte de Marcos Roberto Tokumori, 53, ocorrida naquela madrugada. Ele atuava em Santa Catarina.

A nota oficial informava que a morte ocorrera devido à Covid-19. "A doença, a Covid-19, não escolhe sexo, idade, raça ou profissão", disse a nota, assinada pelo diretor-geral da PRF, Adriano Furtado. "Contra ela, Marcos lutou bravamente", ressaltou. ​

Segundo relatos feitos à Folha, Bolsonaro criticou na reunião de 22 de abril o tom da nota, alegando que poderia assustar as pessoas e que não levava em conta possíveis comorbidades de Tokumori.

O video desta reunião é alvo de embate entre o ex-ministro Sergio Moro e a Advocacia-Geral da União (AGU). A AGU recorreu ao STF (Supremo Tribunal Federal) para entregar à corte apenas o trecho da reunião em que o presidente Bolsonaro teria ameaçado demitir Moro caso não trocasse o diretor-geral da Polícia Federal, segundo depoimento do ex-ministro.

No recurso, a AGU pede autorização para não encaminhar a íntegra da reunião, mas apenas a parte que tenha relação com as investigações do inquérito que apura as acusações de Moro contra Bolsonaro.

Celso de Mello, que na terça (5) determinou a entrega do vídeo em 72 horas, deu nesta sexta (8) 24 horas para o procurador-geral da República, Augusto Aras, se manifestar sobre o pedido da AGU.

Segundo a Folha mostrou, no início do encontro de 22 de abril, ministros presentes fizeram críticas tanto ao Supremo quanto ao Congresso. O comentário foi o de que o STF exagerou ao ter aberto, no dia 21, um inquérito para apurar a organização de protesto promovido em Brasília com bandeiras contra a democracia, do qual Bolsonaro participou.

A crítica principal, segundo assessores palacianos, foi feita pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub. Além disso, de acordo com relatos de presentes, foi feito também um comentário negativo sobre o Congresso, de que ele adota uma postura de enfrentamento contra o Executivo.​

No encontro, Bolsonaro cobrou da sua equipe de ministros o acesso a relatórios de inteligência e disse que cabe a ele a palavra final em nomeações de seu próprio governo. A bronca foi relatada à Folha em caráter reservado por quatro ministros.

A captura de imagens da reunião foi feita pela EBC (Empresa Brasil de Comunicação) e armazenada na íntegra pela Secom. Segundo presentes na reunião, o presidente disse que é a prerrogativa dele fazer indicações em qualquer pasta ministerial. E acrescentou que o ministro que se opusesse a obedecê-lo poderia ser substituído.

Bolsonaro também cobrou acesso a relatórios de inteligência, mas ele não fez referência apenas à Polícia Federal. Ele solicitou dados também das Forças Armadas e da Abin (Agência Brasileira de Inteligência). E ressaltou que, sem ter acesso a informações estratégicas, não tinha condições de gerir o país, sobretudo durante a pandemia do coronavírus.

A PF agendou para a próxima segunda-feira (11) os depoimentos de Maurício Valeixo, demitido por Bolsonaro da diretoria-geral da PF, e de Alexandre Ramagem, nome escolhido pelo presidente para o cargo, mas que foi barrado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Na terça (12), depõem os ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Heleno Augusto (Gabinete de Segurança Institucional) e Braga Netto (Casa Civil). No dia seguinte está prevista a oitiva da deputada Carla Zambelli (PSL-SP). Todos foram citados por Moro em depoimento.

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