Empresário ligado à gestão Witzel é preso em operação sobre desvios na saúde

Mário Peixoto é investigado por crimes cometidos durante a administração Sérgio Cabral

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São Paulo e Rio de Janeiro

O empresário Mário Peixoto, ligado ao secretário de Desenvolvimento Econômico do Rio de Janeiro, Lucas Tristão, braço-direito do governador Wilson Witzel (PSC), foi preso na manhã desta quinta-feira (14) na Operação Favorito, deflagrada pela Polícia Federal.

A detenção na Operação Favorito ocorreu no âmbito das investigações da Operação Lava Jato sobre atos durante a gestão do ex-governador Sérgio Cabral. Mas, de acordo com a PF, a organização criminosa alvo da apuração manteve sua atuação nas contratações emergenciais voltadas para o combate à pandemia do novo coronavírus, o que motivou as prisões preventivas.

É atribuída a Peixoto a nomeação de cargos-chave no Detran, Cedae, Inea (Instituto Estadual do Ambiente), Loterj, entre outros órgãos da atual administração estadual. A empresa de sua família, a Atrio Rio, já firmou R$ 81 milhões em contratos com a gestão Witzel, boa parte sem licitação. Ela atua na terceirização de mão-de-obra para o estado.

O empresário também contratou, durante a campanha eleitoral de 2018, o escritório de advocacia de Lucas Tristão, de quem Witzel declarou ser sócio. O acordo foi encerrado após o início do novo governo, em janeiro de 2019.

Além do empresário, também é alvo da ação o ex-presidente da Assembleia Legislativa fluminense Paulo Melo (MDB), e outros três pessoas cujos nomes não foram divulgados. A PF cumpre ainda 42 mandados de busca e apreensão.

Segundo a PF, a organização criminosa supostamente integrada por Peixoto usava laranjas na constituição de cooperativas de trabalho e organizações sociais para desviar recursos públicos da saúde.

O Ministério Público deflagrou operação de mesmo nome nessa quinta, que tem um preso em comum com a PF—sua identidade não foi revelada. De acordo com a Promotoria, a operação investiga uma organização criminosa que desviou R$ 3,95 milhões em recursos públicos da área da Saúde, por meio de uma organização social para administração de UPAs (Unidade de Pronto Atendimento).

Esta é a primeira fase da Lava Jato deflagrada desde o início da pandemia do novo coronavírus.

Peixoto foi alvo de delação premiada do ex-presidente do TCE (Tribunal de Contas do Estado) Jonas Lopes. Ele afirmou que o empresário era um dos responsáveis por pagar uma mesada de R$ 200 mil aos conselheiros da corte em 2012 e 2013.

Ele passou a ser um personagem do mundo político quando teve fotos e vídeo de seu casamento divulgadas pelo ex-governador Anthony Garotinho. A cerimônia num castelo na Itália reuniu políticos do MDB atualmente acusados de corrupção.

É também sócio num empreendimento imobiliário do ex-presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani (MDB), que chegou a ser preso sob acusação de corrupção —está em prisão domiciliar.

Mesmo sendo alvo de investigações, Peixoto conseguiu se aproximar de Witzel durante a campanha eleitoral de 2018, quando o ex-juiz era ainda um azarão.

No período eleitoral, a Atrio Rio —atualmente comandada por pessoas ligadas ao empresário— contratou Lucas Tristão, à época coordenador da campanha do governador, como advogado num processo contra o estado.

Witzel afirmava durante a campanha que era sócio de Tristão, embora a relação nunca tenha sido formalizada à OAB-ES, responsável pelo registro de escritórios de advocacia. O governador disse à Folha, inclusive, que analisou a petição assinada por seu então coordenador de campanha em favor da Atrio Rio.

“Ele me apresentou a petição para que eu analisasse e verificasse se era uma petição adequada ao direito que se pleiteava. Entendi que estava adequada e que haveria possibilidade de sucesso”, disse o governador.

A sociedade de Tristão, ex-aluno do governador, foi uma das justificativas apresentadas por Witzel para explicar como depositou R$ 215 mil de recursos próprios na campanha mesmo tendo declarado à Justiça Eleitoral não ter conta bancária —seu patrimônio era apenas uma casa de R$ 400 mil não vendida.

Ele afirmou que o dinheiro veio de luvas pelo ingresso em dois escritórios de advocacia, sendo um deles o de seu atual secretário.

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