Descrição de chapéu Ao Vivo em Casa

Collor critica Bolsonaro por acordos obscuros com centrão e pela participação em protestos

Senador e ex-presidente comentará crises do governo Bolsonaro, impeachment e coronavírus

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Brasília

O ex-presidente e senador Fernando Collor (PROS-AL) criticou nesta segunda-feira (25) o atual chefe do Executivo, Jair Bolsonaro, por sua participação nos protestos antidemocráticos e pelas negociações obscuras com partidos do chamado centrão para construir uma base no Congresso.

Com a experiência de quem se viu afastado da presidência, Collor sugere uma mudança de retórica e procedimentos, para que o fim do governo Bolsonaro seja diferente do seu.

“Por eu ter visto esse filme, por eu ter vivido esse filme, é que eu não gostaria de vê-lo repetido”, disse o senador durante transmissão do Ao Vivo em Casa, série de lives da Folha.

Em 1992, Collor foi alvo de um impeachment instaurado pela Câmara, após o surgimento de acusações de corrupção. O processo não chegou a ser concluído, pois o então presidente apresentou sua carta de renúncia antes de seu julgamento pelo Senado.

O atual senador acabou inocentado das últimas ações em 2014 referentes a esse período. Em 2019, no entanto, se tornou réu novamente, dessa vez no âmbito da Lava Jato.

Collor recomenda a Bolsonaro mudar sua retórica de confronto com as demais instituições. Em particular, o ex-presidente aconselha a busca por um entendimento político com partidos, visando à construção de uma base sólida e não apenas para garantir votos para evitar o afastamento do cargo.

O primeiro presidente eleito democraticamente após a ditadura militar (1964-1985) reconhece que um de seus principais erros foi justamente “não ter dado atenção” para construir uma maioria no Congresso.

Nesse ponto, no entanto, ele afirma que sua posição se deveu a uma animosidade já existente entre os parlamentares eleitos depois do início de seu governo, contrários a seus planos de estabilidade econômica.

Bolsonaro, argumenta o senador, carrega por sua vez esse discurso desde o período de campanha. Além disso, vem reforçando essa sua posição na participação nos protestos, como no ocorrido em frente ao QG do Exército em Brasília, onde havia faixas pedindo intervenção militar e fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.

“Ele participando e emprestando sua presença física numa manifestação como aquela, é muito difícil a gente não depreender que de alguma forma há uma certa simpatia dele pelo que dizem aquelas faixas”, disse.

Collor reconhece que ele próprio errou ao tentar se apoiar em manifestações populares e que notou que seu governo havia terminado no dia em que convocou uma manifestação para pessoas vestirem verde e amarelo, que terminou depois com uma multidão de roupas pretas. No caso de Bolsonaro, o ex-presidente não acredita que o caráter confrontacionista não indica se tratar de uma estratégia.

“Eu quero crer que não há estratégia. Eu acho que ele está agindo muito por instinto. Mas, querendo ou não, vamos supor que ele esteja agindo por instinto, esse instinto se coordena muito intimamente com um método. E esse método nos conduz, no seu limite, ao fascismo."

Collor diz acreditar que a discussão política é um dever inerente ao cargo do presidente da República. No entanto, o senador coloca ressalvas na forma como o governo Bolsonaro vem conduzindo a aproximação com os partidos do centrão. Essas, segundo o ex-presidente, deveriam ser feitas “à luz do dia”, em torno de um projeto e não apenas com o intuito de garantir a permanência no cargo.

“Agora, mais recentemente, ele resolve fazer entendimentos políticos. Mas acontece que esses entendimentos políticos, é fundamental que sejam feitos à luz do dia, com transparência, com a participação da mídia, da imprensa, da população, para que todos nós sejamos informados de quais as pessoas e quais os partidos políticos que estão sendo chamados para fazer parte do governo e em torno de quem projeto eles estão tratando”, disse o ex-presidente.

“A questão do toma lá, dá cá é derivada de uma não transparência dos procedimentos”, acrescentou.

Collor disse que assistiu ao vídeo da reunião ministerial, tornada pública na última sexta-feira (22) por decisão do ministro do STF Celso de Mello. O senador classificou como lamentável o encontro, principalmente porque Bolsonaro usou a ocasião para tratar de assuntos pessoais.

“Todos os assuntos que foram tratados foram de ordem pessoal e não institucional. O presidente da República não estava ali exercendo a Presidência da nação. Estava ali como pessoa física, tratando de questões pessoais que estavam lhe afligindo naquele momento."

Collor afirmou que as falas do presidente, usando um “linguajar, sem comentários”, liberou os outros ministros presentes para manifestarem suas ideias e com um “modo vernacular” ofensivo. A reunião também deixou clara a total falta de coordenação da equipe de governo, na visão do senador.

O senador Fernando Collor de Mello (Pros-AL), ex-presidente da República, convidado desta segunda-feira (25) do Ao Vivo em Casa
O senador Fernando Collor de Mello (PROS-AL), ex-presidente da República, convidado desta segunda-feira (25) do Ao Vivo em Casa - Núcleo de Imagem

O ex-presidente aproveitou para comentar o histórico episódio da invasão da Polícia Federal ao prédio da Folha em 1990, no início de seu mandato.

Como já havia informado anteriormente, Collor argumentou que foi surpreendido com a notícia, trazida pela então ministra Zélia Cardoso de Mello (Economia). O atual senador alagoano afirma que nem mesmo o ministro da Justiça (Bernardo Cabral) e o diretor da PF (Romeu Tuma) tinham ciência da ação.

A versão dele coincide com explicações sobre o caso dadas pelo então chefe da Polícia Federal e da Receita, Romeu Tuma (1931-2010). Segundo Tuma, o delegado responsável pela incursão, João Lourenço, não avisou os superiores.

O relato, porém, difere da apuração de jornalistas da época a partir de informações de pessoas próximas ao governo. No livro “Notícias do Planalto”, Mario Sergio Conti também afirma que Collor “fora informado previamente da diligência” na Folha e “concordou com a inspeção”.

Em seus dias de quarentena, Collor disse que tenta conciliar suas atividades parlamentares, lendo e usando uma ferramenta que descobriu recentemente, mas que se viciou: o Twitter.

O ex-presidente recentemente usou suas redes sociais para se desculpar pelo confisco, ocorrido em março de 1990, do saldo das cadernetas de poupança —ele rebate que os recursos não foram confiscados e sim retidos.

Por outro lado, o senador considera que o uso das tecnologias empobrece um pouco a forma de fazer política e por isso ele aguarda com ansiedade a volta dos trabalhos presenciais no Senado.

“Os debates não podem se dar somente via remota, porque isso tira muito do calor, distorce muito da forma como os senadores votam, não há aquele embate, troca de informações."

As lives sobre política da Folha são sempre às segunda-feiras. Collor conversou com o editor de Poder, Eduardo Scolese, e com o diretor da Sucursal de Brasília, Leandro Colon.

As lives têm duração média de 40 minutos, sempre às 17h. O Ao Vivo em Casa é transmitido no site do jornal e pelo canal da Folha no YouTube.​

PROGRAMAÇÃO DAS LIVES

  • Segunda-feira

    Poder

  • Terça-feira

    Folhinha

  • Quarta-feira

    Saúde

  • Quinta-feira

    Mercado e Painel S.A

  • Sexta-feira

    Ilustrada, Turismo e Comida

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