Flávio Bolsonaro critica Folha e diz que repasses a advogado foram feitos pelo PSL

Reportagem mostrou que partido contratou ex-assessor do senador com verba do fundo partidário

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Brasília

O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) contestou na noite desta terça-feira (19) título de reportagem da Folha, afirmando não ter repassado recursos públicos ao escritório de seu ex-assessor e advogado Victor Granado Alves. Ele ressaltou que o dinheiro foi pago pelo diretório nacional do PSL, seu ex-partido.

A contratação da banca pelo PSL nacional, no entanto, foi feita a pedido de Flávio, afirma o partido, informação não contestada pelo senador.

Em publicação nas redes sociais, o filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) classificou como “calúnia” o título da reportagem.

“A Folha de São Paulo, mais uma vez, mente! Produz “FAKE NEWS”, na verdade crime de calúnia, representado pelo título da matéria publicada nesta terça (19), que afirma que Flávio Bolsonaro teria ‘repassado’ 500 mil do fundo público partidário a advogado investigado no caso Queiroz”, escreveu.

A reportagem da Folha mostrou que o PSL nacional contratou o escritório de Victor Granado Alves (Granado Advogados Associados, do qual Victor é sócio) com dinheiro do fundo partidário —a verba pública que abastece as legendas no país— para prestar serviços jurídicos ao diretório do Rio, comandado por Flávio, a partir de fevereiro do ano passado.

A indicação do escritório foi feita pelo próprio senador quando assumiu o cargo. O valor mensal era de R$ 40 mil. Flávio admite que a reportagem deixa claro que a contratação foi feita pelo PSL nacional e diz que optou por fazer as despesas por meio do diretório nacional do partido.

“O senador não ‘repassou’ nada e, mais, enquanto no comando do diretório estadual do Rio de Janeiro, optou por não receber recursos partidários e manter as despesas jurídicas, contábeis e administrativas à cargo do Diretório Nacional”, diz a postagem.

Victor, assessor de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio, foi citado pelo empresário Paulo Marinho, em entrevista a Mônica Bergamo, colunista da Folha, como um dos auxiliares do senador que teriam recebido de um delegado da Polícia Federal a informação de uma operação envolvendo pessoas do gabinete de Flávio.

À Folha, o advogado Frederick Wansseff, que defende o presidente Bolsonaro e o senador, afirmou que Victor Granado Alves é de confiança da família, tendo representado os dois em “muitos processos, inclusive pessoais”.

​Para a defesa do senador, as acusações do empresário Paulo Marinho são inverídicas e estão sendo usadas como cortina de fumaça para as investigações de corrupção no governo do Rio.

“Isso não nos preocupa nem um pouco porque eu sei que jamais o senador Flávio Bolsonaro e o presidente Jair Bolsonaro, à época dos fatos, tiveram conhecimento de investigações dessa natureza”, afirmou o advogado.

De acordo com o relato de Marinho, Flávio foi avisado sobre a Operação Furna da Onça entre o primeiro e o segundo turnos das eleições por um delegado simpatizante da candidatura de Bolsonaro à Presidência.

O delegado-informante teria aconselhado Flávio a demitir o ex-assessor Fabrício Queiroz e a filha dele, que trabalhava no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro.

Segundo o relato, ambos foram exonerados em 15 de outubro de 2018 por ordem do então candidato à presidência.

“Meu cliente me disse que nada disso é verdade ou procede”, afirmou o advogado. “Na verdade, era um fim de mandato e ele [Flávio] mandou todo mundo embora. Encerrou, acabou. Ele estava fechando o gabinete”, disse.

Contudo, nem todos os assessores de Flávio foram mandados embora naquele momento. Um dos que ficaram foi o advogado Victor Alves Granado.

“Impossível de se comparar pessoas e circunstâncias. Fabricio Queiroz era um assessor regular do seu gabinete e já a pessoa de Victor Granado trata-se de um advogado de confiança de Flávio”, disse Wansseff.

Para o advogado, mesmo que “hipoteticamente” a versão de Marinho for verdadeira, não há crime por parte de Flávio nem do presidente Jair Bolsonaro.

“Ainda que hipoteticamente nós quiséssemos levar em conta as palavras dele [Marinho], ele mesmo disse que foi uma atitude unilateral, isolada por parte de um delegado. Ou seja, em momento algum o empresário diz que Jair Bolsonaro ou Flávio Bolsonaro foram à Polícia Federal, pediram ajuda, requisitaram ou fizeram algum tipo de ingerência política. Jamais”.

Para ele, se há ilegalidade, neste caso, seria do delegado.

“Então, hipoteticamente falando, ainda que um dia venha a ser comprovado que isso ocorreu, o que eu acho difícil, o que nós temos aqui contra o senador Flávio Bolsonaro? Nada. Contra o presidente Jair Bolsonaro? Nada. O máximo que isso pode ensejar é um processo administrativo disciplinar na corregedoria da PF para apurar a conduta do delegado.”

O empresário Paulo Marinho citou na entrevista a Mônica Bergamo uma reunião ocorrida em 13 de dezembro de 2018 onde eles teriam discutido uma estratégia jurídica para o caso Queiroz.

“Eu desconheço esses fatos. Novamente, nós temos aqui a narrativa de uma pessoa que narra fatos de 2018 e estamos em 2020.Nunca ouvi isso de nenhum membro da família Bolsonaro”, afirmou Wansseff.

Marinho é esperado para depor nesta quarta (20), às 15h, na Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro. A corregedoria da corporação abriu um inquérito que também deve ouvir policiais federais e delegados para apurar os fatos.

Na segunda (18), o Controle Externo da Atividade Policial do MPF (Ministério Público Federal) também instaurou procedimento investigatório criminal para apurar os supostos vazamentos.

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