Ministro do STF determina perícia em vídeo de reunião com Bolsonaro citada por Moro

Celso de Mello afirma ser necessário verificar se a gravação foi editada ou se governo entregou versão integral

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Brasília

A pedido da Polícia Federal, o ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou a perícia no vídeo da reunião em que o presidente Jair Bolsonaro teria ameaçado de demissão o então ministro da Justiça, Sergio Moro, caso não trocasse o diretor-geral da PF.

O magistrado afirma que é necessário verificar se a gravação foi editada ou se o governo entregou, de fato, a versão integral do registro do encontro ocorrido no último dia 22 e citado por Moro em depoimento à Polícia Federal.

Está marcada para esta terça-feira (12) a exibição do vídeo para integrantes da Procuradoria-Geral da República (PGR), advogados do ex-ministro e integrantes do governo e da PF.

Celso de Mello permitiu que as partes tenham acesso à gravação e informou que, depois de a PGR assistir ao vídeo e se manifestar em relação ao sigilo, irá decidir se torna o vídeo público.

O registro audiovisual desta reunião é alvo de embate entre Moro e AGU (Advocacia-Geral da União).

A AGU recorreu para que o STF permitisse que o governo não entregasse o vídeo. Depois, recuou e solicitou autorização para enviar apenas o trecho da reunião em que Bolsonaro teria ameaçado demitir Moro caso não trocasse Maurcício Valeixo do comando da Polícia Federal.

O ex-juiz da Lava Jato, por sua vez, encaminhou petição ao STF em que pede a divulgação integral do vídeo. Nesta segunda-feira (11), Bolsonaro defendeu que tornar público toda a gravação não seria adequado porque teriam sido tratados assuntos sensíveis no encontro.

O temor do Executivo é que o vídeo gere uma crise institucional. Além das possíveis intimidações a Moro, ministros presentes teriam feito duras críticas ao Supremo ao Congresso.

O comentário foi o de que o STF exagerou ao ter aberto, no dia 21, um inquérito para apurar a organização de protesto promovido em Brasília com bandeiras contra a democracia, do qual Bolsonaro participou.

A crítica principal, segundo assessores palacianos, foi feita pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub.

No encontro, Bolsonaro cobrou da sua equipe de ministros o acesso a relatórios de inteligência e disse que cabe a ele a palavra final em nomeações de seu próprio governo. A bronca foi relatada à Folha em caráter reservado por quatro ministros

Na mesma reunião, o presidente reclamou da divulgação de uma nota oficial da PRF (Polícia Rodoviária Federal) que lamentava a morte de um integrante da corporação por coronavírus.

No dia anterior, a PRF havia divulgado uma manifestação de pesar pela morte de Marcos Roberto Tokumori, 53, ocorrida naquela madrugada. Ele atuava em Santa Catarina.

A nota oficial informava que a morte ocorrera devido à Covid-19. "A doença, a Covid-19, não escolhe sexo, idade, raça ou profissão", disse a nota, assinada pelo diretor-geral da PRF, Adriano Furtado. "Contra ela, Marcos lutou bravamente", ressaltou. ​

Segundo relatos feitos à Folha, Bolsonaro criticou na reunião de 22 de abril o tom da nota, alegando que poderia assustar as pessoas e que não levava em conta possíveis comorbidades de Tokumori.

O chefe do Executivo também teria cobrado acesso a relatórios de inteligência, mas ele não fez referência apenas à Polícia Federal. Ele solicitou dados também das Forças Armadas e da Abin (Agência Brasileira de Inteligência). E ressaltou que, sem ter acesso a informações estratégicas, não tinha condições de gerir o país, sobretudo durante a pandemia do coronavírus.

O ministro também determinou a transcrição integral do vídeo para que ele tenha acesso ao conteúdo da gravação, uma vez que não está em Brasília e não pôde ver o vídeo.

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