Ministro do STF verá vídeo na próxima 2ª antes de decidir sobre sigilo de reunião com Bolsonaro

Corte diz que Celso de Mello vai examinar pessoalmente a gravação que faz parte de inquérito aberto após saída de Moro

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Brasília

O ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), vai assistir ao vídeo da reunião ministerial alvo de um inquérito que apura se o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir indevidamente na Polícia Federal. Só depois disso ele decidirá se dá publicidade total ou parcial ao registro.

Em nota divulgada nesta sexta (15), o Supremo informou que Mello irá “examinar pessoalmente” a gravação.

“Sem o conhecimento do conteúdo do vídeo, o ministro não terá condições de avaliar os argumentos apresentados pelo advogado-geral da União, pelo procurador-geral da República e pelos advogados do ex-ministro Sergio Moro”, justificou.

O ministro, segundo o comunicado, já tem “uma visão geral do teor da reunião”, a partir do relato feito pelo juiz federal Hugo Sinvaldo Silva da Gama Filho, que o auxilia.

"O relator deverá assistir ao vídeo na segunda e somente então terá condições de elaborar sua decisão sobre o levantamento, total ou parcial, do sigilo por ele temporariamente imposto”, acrescentou o Supremo.

Por questões de segurança, informou a corte, o ministro vai usar um sistema que lhe permitirá ver as imagens em sua residência em São Paulo. No gabinete em Brasília, dois de seus auxiliares acompanharão simultaneamente a exibição.​

Mello é o relator do inquérito no Supremo.

O vídeo da reunião, ocorrida em 22 de abril, no Palácio do Planalto, é considerado um elemento fundamental para a investigação. O encontro foi citado pelo ex-juiz da Lava Jato em depoimento à PF e também por ministros do Executivo.

A defesa de Moro pede que a íntegra do vídeo seja divulgada e componha o inquérito. Já a AGU (Advocacia-Geral da União) e a PGR (Procuradoria-Geral da República) defendem apenas a abertura de alguns trechos da gravação.

Na agenda presidencial, foram tratados diversos temas.

De acordo com a transcrição de algumas falas, entregue pela AGU ao Supremo, na reunião Bolsonaro classificou como uma “vergonha” não ter acesso a informações de órgãos de inteligência.

“Me desculpe o serviço de informação nosso —todos— é uma vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado, e não dá para trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final.”

O presidente também disse que não hesitaria em fazer substituições na sua equipe para evitar “sacanagem” com pessoas próximas.

"Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f. minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança da ponta de linha que pertence à estrutura. Vai trocar; se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira."

Bolsonaro também afirmou que não pode ser “surpreendido com notícias” e se queixa de órgãos vinculados à segurança.

“Pô, eu tenho a PF que não me dá informações; eu tenho a inteligência das Forças Armadas que não tem informações; a Abin tem os seus problemas, tem algumas informações, só não tem mais porque tá faltando realmente… temos problemas… aparelhamento etc. A gente não pode viver sem informação."​

Bolsonaro trocou responsável por segurança antes de reunião com Moro

Apesar de ter dito que se referia à segurança pessoal e de sua família quando disse que não conseguia trocar o comando da "segurança" no Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro fez trocas nessa área antes da reunião ministerial do dia 22 de abril, apontada pelo ex-ministro Sergio Moro como prova de interferência presidencial na Polícia Federal.

A contradição foi inicialmente apontada pelo Jornal Nacional, da TV Globo, na noite desta sexta (15). O Diário Oficial da União confirma que Bolsonaro na verdade promoveu o responsável pela segurança pessoal, em vez de demitir por descontentamento com o rendimento. Foi o general André Laranja Sá Corrêa, que virou comandante da 8ª Brigada de Infantaria do Exército, em Pelotas (RS).

O decreto de Bolsonaro foi publicado no dia 26 de março, pouco menos de um mês antes da reunião na qual ele alega ter reclamado justamente da dificuldade de fazer mudanças na sua segurança, e não na PF. A promoção do general passou a valer a partir do dia 31 de março.

Além disso, o presidente escolheu Gustavo Suarez, então diretor-adjunto da Segurança Presidencial, para assumir o comando após a promoção de Sá Corrêa, o que também não indica insatisfação com o rendimento da área. À TV Globo o Planalto não respondeu sobre quais seriam, então, as dificuldades que Bolsonaro alegava ter para fazer trocas na segurança.

Colaborou UOL

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