Motivo de crise no governo Bolsonaro, gravações são proibidas na Casa Branca

Sistema de captação de áudio no Salão Oval foi removido após caso Watergate

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Washington

Se o vídeo de uma reunião ministerial gerou uma nova crise no governo de Jair Bolsonaro (sem partido), nos Estados Unidos a ordem geral é que não se pode gravar nada dentro da Casa Branca.

Na década de 1970, havia um sistema de captação de áudio dentro do Salão Oval, na mesa onde despacha o presidente americano, mas ele foi desinstalado após o governo de Richard Nixon (1969-1974) e o escândalo Watergate, em 1972.

Na época, gravações telefônicas mostraram que Nixon tinha conhecimento do roubo de documentos da sede do Partido Democrata, seu adversário, e ajudaram a interromper na metade o segundo mandato do republicano —que renunciou ao cargo antes de sofrer um impeachment no Congresso.

O trauma e a obsessão por segurança têm reflexos até hoje no governo dos EUA. Com exceção a jornalistas durante eventos públicos, funcionários e visitantes são instruídos sobre as regras claras que proíbem gravações desde os primeiros minutos na Casa Branca.

Mas há exceções para registros escritos e verbais que devem seguir um longo protocolo de segurança e são permitidos apenas a pessoas autorizadas.

A Lei de Registros Presidenciais, de 1978, estabelece que o presidente e o vice devem registrar conversas com autoridades de outros países inclusive para garantir a segurança nacional americana.

Dessa forma, durante um telefonema ou uma sessão de videoconferência, a equipe da sala de situação da Casa Branca faz anotações em tempo real, que serão comparadas ao fim da reunião com as feitas por outras autoridades do governo —geralmente, um integrante do Conselho de Segurança Nacional responsável pelo país com quem o presidente ou vice-presidente americano está conversando.

Juntas, essas notas vão dar origem a um rascunho oficial, que é enviado ao secretário de Segurança Nacional, que pode fazer edições antes de aprovar a versão final, enviada a pessoas-chave do governo.

As anotações podem também ser transferidas para um sistema com acesso restrito caso contenham informações consideradas sensíveis. Todos os registros são enviados para o Arquivo Nacional dos EUA após a conclusão de cada mandato presidencial e lá ficam armazenadas —só perdem o caráter de "confidencial" após período que vai de 10 a 25 anos.

Autoridades e analistas afirmam que o governo Trump não cumpre esse processo com o rigor que deveria, omitindo informações de anotações e transferindo para o sistema restrito informações que poderiam prejudicá-lo pessoalmente. O site Politico afirma que isso foi feito, por exemplo, no caso da transcrição do telefonema entre Trump e Volodimir Zelenski, presidente da Ucrânia, que gerou a abertura de um processo de impeachment contra o republicano, absolvido pelo Senado em janeiro.

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