Promoção de chefe de segurança reforça dúvida sobre versão de Bolsonaro para reunião

General foi promovido, apesar de presidente dizer que queixas em encontro eram sobre sua segurança, e não para PF

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro promoveu um general responsável por sua segurança pessoal e de sua família, ato que reforça as dúvidas sobre a versão apresentada por ele para as declarações dadas na reunião ministerial de 22 de abril e que fazem parte de inquérito do STF (Supremo Tribunal Federal).

Conforme revelado pelo Jornal Nacional, da TV Globo, e confirmado pela Folha, André Laranja Sá Correa, general de brigada que era diretor do Departamento de Segurança Presidencial, órgão ligado ao GSI (Gabinete de Segurança Institucional), foi promovido por Bolsonaro em março deste ano.

O militar se tornou, no dia 26 de março, comandante da 8ª Brigada de Infantaria Motorizada​, no Rio Grande do Sul.

Nesta sexta-feira (15), após a transcrição de trecho da reunião ministerial de 22 de abril, Bolsonaro alegou que as críticas desferidas na ocasião diziam respeito à sua proteção pessoal, e não a uma possível ingerência na Polícia Federal, conforme acusou Sergio Moro ao pedir demissão do Ministério da Justiça.

A reunião ocorrida no Palácio do Planalto é considerada um elemento fundamental para a investigação aberta após os relatos de Moro de que Bolsonaro pretendia interferir politicamente na PF.

De acordo com a transcrição de algumas falas, entregue pela AGU (Advocacia-Geral da União) ao Supremo, no encontro Bolsonaro classificou como uma “vergonha” não ter acesso a informações de órgãos de inteligência.

“Me desculpe o serviço de informação nosso —todos— é uma vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado, e não dá para trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final”, afirmou.

O presidente afirmou que não poderia ser “surpreendido com notícias” e se queixou de órgãos vinculados à segurança.

“Pô, eu tenho a PF que não me dá informações; eu tenho a inteligência das Forças Armadas que não tem informações; a Abin tem os seus problemas, tem algumas informações, só não tem mais porque tá faltando realmente… temos problemas… aparelhamento etc. A gente não pode viver sem informação."​

Bolsonaro disse ainda que não hesitaria em fazer substituições na sua equipe para evitar “sacanagem” com pessoas próximas.

"Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f. minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança da ponta de linha que pertence à estrutura. Vai trocar; se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira."

Segundo a defesa de Moro, Bolsonaro se referia à sua intenção de promover mudanças na PF, especialmente na Superintendência do Rio, foco de interesses da família presidencial.

O presidente, por sua vez, nega e diz que se referia à insatisfação com sua segurança pessoal e a de seus familiares.

Promovido por Bolsonaro, Sá Correa deixou em 31 de março a vaga de diretor do Departamento de Segurança Presidencial. Ele mudou de posto após ter sido promovido de coronel para general. A mudança de hierarquia é definida pelo Alto Comando do Exército.

Tudo isso ocorreu antes da reunião ministerial em que, pela versão de Bolsonaro, ele teria falado em possíveis trocas na sua segurança pessoal, e não na PF.

Para a vaga de Sá Correa, foi designado pelo presidente Gustavo Suarez da Silva, coronel que era anteriormente diretor-adjunto ​da estrutura federal.

O Departamento de Segurança Presidencial tem entre as suas obrigações zelar pela segurança pessoal do presidente, do vice-presidente e de seus familiares, além de proteger os palácios presidenciais e as residências oficiais.

O Jornal Nacional também noticiou que a representação do GSI ​no Rio de Janeiro também sofreu mudança neste ano. Em fevereiro, o chefe do escritório, o coronel Luiz Fernando Cerqueira, foi substituído pelo tenente-coronel Rodrigo Garcia Otto.

A transcrição da reunião foi entregue na quinta-feira (14) pela AGU ao ministro do STF Celso de Mello, relator do inquérito que apura as acusações feitas pelo ex-juiz Sergio Moro contra Bolsonaro.

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