Vou sair em 1º de janeiro de 2027, diz Bolsonaro ao ser indagado sobre renúncia ou impeachment

Presidente é alvo de pedidos de impeachment na Câmara e desde o início do mandato disse que pretende disputar a reeleição em 2022

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Brasília

Confrontado sobre a possibilidade de renúncia ou impeachment, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que vai sair do Palácio do Planalto somente em 1º de janeiro de 2027, sugerindo que será reeleito em 2022.

Bolsonaro não quis falar com a imprensa neste domingo (10), mas conversou com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente.

Em meio ao público, um dos visitantes afirmou: a “democracia pede sua renúncia ou impeachment”. Surpreso com a declaração, o presidente disse: “Vou sair em 1º de janeiro de 2027”.

Pedidos de impeachment de Bolsonaro foram apresentados à Câmara, mas o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ainda não se decidiu sobre isso.

Justamente por seu isolamento político e pelas dezenas de pedidos de impeachment na Câmara, Bolsonaro tem se articulado com siglas do centrão, distribuindo cargos a essas legendas em troca de apoio no Congresso. ​

Bolsonaro esteve neste domingo em evento para revelação do sexo do filho de Eduardo Bolsonaro, deputado federal do PSL por São Paulo, e Heloísa Wolf.

Nas redes sociais, Eduardo publicou um vídeo, no qual ele usa uma arma para estourar um balão, que revelou a cor rosa, indicativo de sexo feminino.

Jair Bolsonaro foi neste domingo ao chá de revelação do sexo da filha que Eduardo Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro foi neste domingo ao chá de revelação do sexo da filha que Eduardo Bolsonaro e Heloisa Wolf esperam, em Brasília. Eduardo, filho do presidente, fez a revelação dando um tiro em um balão - Reprodução

Após o evento, Bolsonaro retornou ao Palácio da Alvorada. Questionado por alguns apoiadores sobre qual o sexo da futura neta, o presidente disse que não responderia para não gerar polêmica. “Se eu falar, dá polêmica”.

Bolsonaro anunciou ainda que nesta segunda-feira (11) irá decretar mais atividades como serviços essenciais, que podem continuar em funcionamento durante a pandemia do novo coronavírus.

Nesta quinta (7), ele ampliou a lista, ao incluir, por exemplo, construção civil. O presidente não informou quais atividades passarão a ser classificadas como essenciais.

“Amanhã [segunda] devo botar mais algumas profissões como essenciais. [...] Já que eles [governadores] não querem abrir, a gente vai abrindo aí”, declarou o presidente.

Segundo Bolsonaro, nesta segunda também será sancionado o projeto que cria o pacote de socorro financeiro aos estados e municípios diante da pandemia. Com a crise, a arrecadação desses entes cai. Governadores e prefeitos pedem mais dinheiro ao Palácio do Planalto para combater a Covid-19 e pagar salários do funcionalismo.

O governo ofereceu um plano de auxílio estimado em R$ 125 bilhões, mas, em contrapartida, o ministro Paulo Guedes (Economia) pediu que os salários dos servidores públicos fossem congelados até o fim de 2021.

No entanto, o Congresso, em articulação apoiada por Bolsonaro, blindou diversas categorias, como professores, policiais militares, policiais federais, garis, agentes socioeducativos, profissionais de assistência social, além das Forças Armadas. Isso incomodou Guedes.

Para agradar as bases eleitorais, parlamentares governistas, de oposição e de partidos independentes aprovaram emendas ao projeto de socorro para permitir que essas categorias possam ter aumento nos próximos meses.

O ministro, então, pediu que Bolsonaro vetasse o trecho que flexibiliza a regra de congelamento salarial. O presidente afirmou a apoiadores neste domingo que irá sancionar o projeto com veto.

Na conversa, Bolsonaro voltou a atacar a imprensa. “Se você ler jornal, você se envenena”.

Gigantes do chamado centrão, como PP, PL e Republicanos, estão gerenciando a distribuição de cargos do governo federal para atrair partidos menores para a base de apoio de Bolsonaro.

Eleito com a promessa de acabar com o que chama de “velha política”, moldada no toma lá dá cá, o presidente iniciou nas últimas semanas negociações com o novo centrão.

O “toma lá” são os vários cargos de segundo e terceiro escalão da máquina federal, postos cobiçados por caciques partidários para manter seu grau de influência em Brasília e nos estados. O “dá cá” é uma base de apoio mínima no Congresso para, mais do que aprovar projetos de seu interesse, evitar a abertura de um possível processo de impeachment.

Para se ver fora da cadeira presidencial, Bolsonaro precisa ter ao menos 342 dos 513 deputados contra ele e um clima propício à destituição —economia em frangalhos, tensão nas ruas, por exemplo.

Líderes de partidos do chamado centrão afirmam que Bolsonaro enquadrou ministros que resistiam em ceder cargos de suas pastas ao grupo, deixando claro que quem se opuser pode ser demitido do governo.

Segundo relato desses parlamentares, a atitude de Bolsonaro se deu em dois atos: primeiro, forçou a demissão de Sergio Moro (Justiça), que no começo da gestão chegou a ser considerado “indemissível”, justamente em um contexto de que tem a palavra final sobre cargos-chave. ​

Antes da exoneração, ele havia deixado claro em reunião com todos os ministros que a prerrogativa de fazer nomeações no governo era dele.

Depois, reafirmou a quem ficou, em encontros coletivos e a sós, que ele irá distribuir postos de segundo e terceiro escalão ao centrão e que não aceitará recusas. A conduta do presidente foi confirmada por integrantes do governo à Folha.

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