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Bolsonaro tenta amarrar PSD e dá tiro de advertência a Ramos com novo ministério

Presidente do partido, Gilberto Kassab afirma que sigla não está dentro do governo

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São Paulo

O presidente Jair Bolsonaro busca objetivos distintos com a recriação do Ministério das Comunicações: amarrar o PSD a seu projeto de poder e dar um tiro de advertência ao general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo.

A escolha do deputado Fábio Faria (RN) simboliza tentativa número 1. Ele não é próximo do presidente do seu partido, Gilberto Kassab, mas para membros do governo sua presença traz o PSD para o time de Bolsonaro.

Jair Bolsonaro durante sessão de apreciação de contas da Presidência
Jair Bolsonaro durante sessão de apreciação de contas da Presidência - Isac Nóbrega - 10.jun.2020/Presidência da República

Eles ressaltam que a área das comunicações, responsável pelo gigantesco leilão das frequências 5G, sempre esteve no radar de Kassab, que foi ministro da área no governo Michel Temer (MDB).

O cacique discorda. "Isso não traz o partido para o governo, eu não acompanhei essa escolha pessoal do presidente", afirmou, ressaltando que "o que eu puder fazer para ajudar, farei".

Ao fim, é um jogo de espertezas. Bolsonaro espera que a amarração ajude a lhe cabalar os 37 votos do PSD na Câmara para seu seguro antiimpeachment, já iniciado com a atração de partidos do centrão com cargos na Esplanada.

Quer fazer isso sem dizer que deve a Kassab. Do lado do pessedista, por sua vez, a presença no ministério com um nome não alinhado a si garante prestígio e acesso, mas com distanciamento público suficiente no caso de o governo esfarelar.

Quem não gostou do movimento foi o centrão, de quem Kassab sempre ressalta as diferenças de seu PSD. O grupo ainda não levou um ministério nas suas barganhas com Bolsonaro, apenas cargos polpudos em pastas como a da Educação.

Sobre o objetivo secundário, envolvendo Ramos, o jogo tem mais nuances.

De tempos em tempos, o general é bombardeado pelos bolsonaristas do Congresso, que consideram sua atuação como articulador político fraca. Ele é visto como desafeto pelo líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO).

Na nova rodada, deputados governistas começaram a procurar nomes para apresentar a Bolsonaro como opção ao general, que é seu mais longevo amigo presente no Planalto.

Eles foram cadetes juntos, o que Ramos sempre lembra a interlocutores, esquecendo o destino dado a seu antecessor, o também general Carlos Alberto dos Santos Cruz e amigo de décadas do presidente.

Assim, a retirada da área de comunicação de governo de sua secretaria serve como uma advertência a Ramos, que perde poder.

Já para o chefe da antiga Secom, Fábio Wajngarten, a confusão com o chefe nominal lhe retirou da linha de ataque direta que sofria de dois generais do Planalto, Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Walter Braga Netto (Casa Civil).

Ambos trabalhavam para isolar Wajngarten de decisões sobre propaganda. Numa reunião recente, convocada pelo então secretário, os dois vetaram sua presença.

O desastre de imagem da retirada de R$ 84 milhões do Bolsa-Família para a Secom, abortada depois, só fez subir a pressão, ainda que aliados do secretário digam que ele foi vítima de um erro do Ministério da Economia.

A nova configuração é mais cômoda politicamente. Wajngarten aproximou Silvio Santos, o sogro do novo ministro, de Bolsonaro. Sempre que pode, chama o empresário de "o maior comunicador do Brasil", e é amigo de Faria.

Os questionamentos já são previstos. A proximidade da dupla com o dono do SBT, em um governo cujo presidente sempre que pode fala que gostaria de cassar a licença da Rede Globo, fará todo movimento ser escrutinado.

Se a excisão da área da Secretaria de Governo se reverterá em maior liberdade de ação e verbas, é uma questão a ver. Do ponto de vista de orientação, dada a agressividade oficial direcionada à mídia, parece improvável que alguma relação diferente seja estabelecida a partir do afastamento físico do Planalto.

O presidente, afinal de contas, não faz distinção entre propaganda institucional e mídia profissional, sempre se queix ando de que as ditas agendas positivas não repercutem na imprensa.

Além disso, Bolsonaro, de tempos em tempos, busca enviar um sinal público de que desagradou a área militar de seu governo, para evitar a imagem pública de tutela por parte dos generais.

Apenas o tempo, que anda escasso para o governo, demonstrará a efetividade da mudança. Como propaganda, como de costume no governo, foi a pior possível.

NÚMERO DE MINISTÉRIOS

Antes de Bolsonaro
29 (gestão Michel Temer), sendo 1 (3,4%) comandado por mulher

​Promessa de campanha de Bolsonaro
15

Na posse de Bolsonaro e até quarta (10/06/2020)
22, sendo 2 (9,1%) comandados por mulheres

A partir de agora (com a criação da pasta das Comunicações)
23, sendo 2 (8,7%) comandados por mulheres

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