Eduardo Bolsonaro diz que defende 'qualquer empresa' de armas a vir ao Brasil

Lobby de deputado aproxima americana de acordo de fabricação com empresa ligada ao Exército

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São Paulo

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) fez uma postagem em rede social defendendo a abertura do mercado de armas, dizendo que é a favor da entrada de "qualquer empresa no Brasil".

Eduardo Bolsonaro, com boné da SIG, e instrutor com pistolas da empresa americana
Eduardo Bolsonaro, com boné da SIG, e instrutor com pistolas da empresa americana - Eduardo Bolsonaro no YouTube

Sem citar a Folha, a postagem no Twitter respondia a uma reportagem publicada pelo jornal mostrando que o Exército está prestes a fechar negócio com a sucursal americana da fabricante SIG Sauer, após intenso lobby do filho do presidente Jair Bolsonaro.

A reportagem expôs o desconforto no Exército com a associação do negócio a Eduardo. Em repetidas ocasiões, Eduardo fez a defesa da quebra do virtual monopólio da CBC/Taurus, maior fabricante nacional, devido ao arcabouço legal brasileiro.

A Folha havia procurado o deputado, sem sucesso, na segunda (8). Sua posição histórica sobre o mercado havia sido registrada.

Nesta quarta (10), ele repetiu os argumentos. "Sempre foi pauta minha a quebra do monopólio da CBC-Taurus no Brasil, pois a concorrência melhora o produto e o preço cai", escreveu.

No ano passado, Eduardo recebeu o representante da SIG Sauer, Marcelo Costa, e publicou a promessa de ajudar a empresa a se instalar no Brasil. Neste ano, promoveu pistolas da marca em um vídeo em sua canal no YouTube e em sua conta no Facebook, que foi replicado pela fabricante.

No Exército e entre observadores do mercado de armas, Eduardo é visto como um garoto-propaganda da SIG.

Ele não respondeu diretamente a essa colocação na sua postagem desta quarta, mas fez questão de publicar novamente um texto de 6 de janeiro de 2019 mostrando uma pistola austríaca Glock que acabara de comprar.

"É o sexto post de maior alcance do meu Instagram", escreveu. Apesar da propaganda de uma concorrente da SIG, não se tem notícia de um trabalho dele em favor da fabricante europeia no mesmo nível.

"Sou a favor de qualquer empresa de armas vir produzir e gerar empregos no Brasil, bem como trabalho para trazer montadoras de carros, aeroespaciais e quaisquer outras que beneficiem nosso Brasil com tecnologia, empregos e consequentes melhorias sociais", disse.

Ele voltou a criticar a qualidade dos produtos Taurus, que já apresentaram problemas no país. "Várias pistolas portadas por policiais no Brasil são de qualidade duvidosa, havendo relatos de disparos com meras chacoalhadas, o que põe em risco não só o policial, mas também o cidadão abordado", escreveu.

A SIG não é isenta de problemas, tendo tido de fazer um recall de sua pistola P320 no ano passado nos EUA justamente por disparos espontâneos. O modelo, adotado pelas Forças Armadas americanas, é o que o Exército deseja ver fabricado com a Imbel.

Entre setores da Força, há o temor que a associação ao nome do filho do presidente contamine a negociação. Ela havia começado em 2018, antes de Bolsonaro chegar à Presidência com uma retórica armamentista idêntica à dos filhos, e envolvia outras empresas estrangeiras.

Mas os contatos com a SIG deslancharam após a chegada da família presidencial ao poder, e evoluíram não só para uma licença para instalação no Brasil, mas para uma parceria com a Imbel.

As conversas começaram após a Assembleia Nacional da Suíça vetar que a estatal local Ruag abrisse uma fábrica em Pernambuco, em 2018.

O governo Michel Temer (MDB) havia dado a autorização para tanto em 2017, mas a má imagem internacional do Brasil no campo da segurança foi vista como uma ameaça à reputação da empresa.

Segundo o Exército, o objetivo é a aquisição de tecnologias não existentes no país. A Força afirma que só faltam autorizações dos governos brasileiro e americano para a parceria sair do papel.

É a segunda vez no ano em que a cruzada pró-armas dos Bolsonaro se choca com interesses do Exército. Na primeira, duas portarias que controlavam munições e armamentos foram derrubadas por ordem do presidente —que prometeu armar a população em reunião ministerial de 22 de abril.

Agora, o episódio SIG-Imbel.

Como a Folha mostrou nesta quarta, o imbróglio adensou a contrariedade de alguns setores do serviço ativo com o presidente.

Reclamações da Aeronáutica derrubaram uma portaria do Ministério da Defesa que dava ao Exército o poder de operar aviões, e há uma queixa crescente à exposição dos militares no episódio da tentativa de ocultação de dados sobre mortos pelo novo coronavírus no país.

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