Saiba quais são os alvos da operação que prendeu Fabrício Queiroz, amigo dos Bolsonaros

Ação também mirou esposa de ex-assessor, além de funcionários e ex-funcionários da Assembleia Legislativa do Rio

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Rio de Janeiro

Fabrício Queiroz foi preso na manhã desta quinta-feira (18) em Atibaia, no interior de São Paulo. Queiroz estava em um imóvel do advogado Frederick Wassef, responsável pelas defesas de Flávio e do presidente Bolsonaro.

Além do mandado de prisão para Queiroz, expedido pela Justiça do Rio de Janeiro, há um para sua mulher, Márcia de Oliveira Aguiar, e medidas cautelares contra outras quatro pessoas na Operação Anjo, um desdobramento da Operação Furna da Onça, fase da Lava Jato que começou em 2018 e investigava casos de corrupção na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).

Saiba quem são os alvos das operações.

Operação Anjo

Fabrício José Carlos de Queiroz

Ex-assessor do hoje senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) e amigo do presidente, o policial militar aposentado é investigado por participação em suposto esquema de "rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, quando Flávio era deputado estadual.

O filho de Jair Bolsonaro foi deputado de 2003 a 2018 e Queiroz, que conhece o presidente desde 1984, trabalhou com Flavio desde 2007.

Segundo relatório do Coaf, o motorista movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017 —entraram em sua conta R$ 605 mil e saíram cerca de R$ 600 mil.

Entre as transações está um cheque de R$ 24 mil para a atual primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Márcia de Oliveira Aguiar

A mulher de Queiroz trabalhou para Flávio Bolsonaro de 2007 a 2017, como consultora especial para assuntos parlamentares. Aguiar, porém, nunca teve um crachá de acesso à Alerj. Ela é uma das pessoas suspeitas de repassar seu salário no esquema da “rachadinha” e foi uma das 90 pessoas e empresas que teve seu sigilo bancário quebrado em abril do ano passado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro em investigação sobre esses repasses.

Segundo reportagem da revista Época de maio do ano passado, em 2008, Aguiar denunciou Queiroz por agressão e, na ocasião, declarou que sua profissão era cabeleireira.

Ela também teve sua prisão decretada na operação desta quinta (18) mas não foi encontrada em sua casa e agora é considerada como foragida.

Márcia fazendo selfie com celular na mão
Márcia Oliveira de Aguiar, mulher de Fabrício Queiroz - Reprodução/Facebook

Pessoas que foram alvos de medidas cautelares

Além de Queiroz e sua esposa, a operação também determinou busca e apreensão, afastamento da função pública, comparecimento mensal em juízo e proibição de contato com testemunhas para os seguintes alvos:

Matheus Azeredo Coutinho

É servidor em cargo comissionado da Alerj desde 2018, no Departamento de Legislação de Pessoal, responsável por atualizar os cadastros dos parlamentares e dos servidores ativos e inativos. Coutinho trabalha no setor responsável por referendar os cartões de pontos de funcionários da Assembleia.

​Luiza Souza Paes

Ex-funcionária da Alerj, Paes também teve seu sigilo quebrado em abril do ano passado e, assim como Aguiar, nunca teve um crachá que dá acesso à Assembleia Legislativa. Ela foi nomeada assessora do então deputado Flávio Bolsonaro em 2011 e, em 2012 foi transferida para a TV Alerj, trabalhou ainda no Departamento de Planos e Orçamentos e deixou a casa em 2017.

Paes teria repassado R$ 155 mil em salários para Fabrício Queiroz no esquema da “rachadinha”.

Ela é filha de Fausto Antunes Paes, homenageado na Alerj em novembro de 2005 com uma moção de congratulações e louvor de autoria do então deputado Flávio Bolsonaro. Fausto recebeu a homenagem pelo trabalho desenvolvido como presidente do grupo de veteranos Fala Tu que Eu Tô Cansado de futebol soçaite em Oswaldo Cruz, na zona norte carioca. “Este grupo tem como principal objetivo a prática esportiva, com os princípios da união, lealdade, amizade e respeito.Trazendo para as tardes de domingo a união familiar, num convívio harmonioso e saudável”, diz a moção assinada por Flávio.

Alessandra Esteves Marins

Ex-funcionária da Alerj, desde 2019 é auxiliar parlamentar em cargo comissionado no escritório de apoio do senador Flávio Bolsonaro no Rio de Janeiro, com salário de R$ 8.996,28. Em abril de 2019 também teve seu sigilo quebrado, e, na operação desta quinta (18), sua casa, em Bento Ribeiro, bairro vizinho de Oswaldo Cruz, estava vazia.

Em 2008, Marins foi nomeada para trabalhar com Flávio Bolsonaro na Comissão de Defesa Civil da Casa, onde ficou até 2011. A partir dali, foi realocada para o gabinete de Flávio, onde ficou até ele virar senador.

Luis Gustavo Botto Maia

Advogado, atuou na campanha de Flávio Bolsonaro ao Senado em 2018 e foi responsável pela prestação de contas do PSL no Rio. No ano passado, recebeu uma procuração de Flávio para ser seu representante legal junto ao MP no acompanhamento da investigação do caso da “rachadinha”.

Botto Maia ocupa cargo comissionado na Alerj como assessor parlamentar do deputado Renato Zaca, ex-PSL e atualmente sem partido. Ele foi, até o final de março deste ano, chefe de gabinete do deputado estadual Dr. Serginho, líder do PSL na Casa.

O advogado é irmão do bombeiro tenente-coronel Lauro Botto, preso, quando então capitão, durante manifestação dos bombeiros em 2011 por melhor salários e condições de trabalho. Ainda deputado estadual pelo PP, Flávio defendeu Lauro em plenária na Alerj e auxiliou para que fosse solto.

Luis vestido com gravata e suspensórios colocando uma cerveja no copo
Luis Gustavo Botto Maia, advogado e servidor da Alerj - Reprodução - 21.Jul.2017/Facebook

Operação Furna da Onça

A operação Furna da Onça foi assim chamada em alusão a uma sala, nos fundos do plenário do Palácio Tiradentes, sede da Alerj, onde deputados se reúnem para conversar. Na ocasião, dez parlamentares foram alvos de mandados de prisão sob suspeita de receber mesada do ex-governador Sérgio Cabral (MDB) para votar em favor dos interesses do Palácio Guanabara durante seu segundo mandato (2011-2014). Sete foram presos e outros três já haviam sido presos na Operação Cadeia Velha, deflagrada no ano anterior.

André Corrêa (DEM), Marcos Abrahão (Avante), Neskau (PTB), Luiz Martins (PDT), Chiquinho da Mangueira (PSC), todos reeleitos em 2018, além de coronel Jairo (Solidariedade) e Marcelo Simão (PP), que não conseguiram renovar seus mandatos, foram presos pela operação Furna da Onça.

Já alvos da Cadeia Velha, Jorge Picciani, Paulo Mello e Edson Albertassi, do MDB, foram alvo de novos mandados de prisão preventiva.

O relatório do Coaf (Conselho de Controle das Atividades Financeiras) que, no final de 2018, apontou movimentação atípica de Fabrício Queiroz, ex-assessor do deputado estadual e senador Flávio Bolsonaro (Republicanos), mencionou auxiliares de outros 20 deputados da Assembleia fluminense.

A lista incluía deputados de partidos de diferentes matizes ideológicas: PT, PSC, MDB, PDT, DEM, PSB, SD, PHS, PSDB, PSOL, PSL, PRB e Avante. As movimentações atípicas, por si sós, não configuram crime —o que ocorre quando a origem do dinheiro é ilícita. As investigações iniciadas com base nos relatórios financeiros correm sob segredo de Justiça.

O relatório do Coaf foi produzido no âmbito da Operação Furna da Onça e foi elaborado a pedido do Ministério Público Federal, que solicitou todas as comunicações de movimentações atípicas envolvendo pessoas nomeadas na Alerj.

Em abril de 2019, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro autorizou a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Flávio Bolsonaro e de outros oito deputados estaduais do Rio de Janeiro, incluindo o presidente da Casa, André Ceciliano (PT-RJ). Os outros nomes não foram divulgados.

Em julho, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) arquivou a investigação sobre o deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB).

Em setembro, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, determinou a suspensão de todos os processos que envolviam as quebras de sigilo. A medida se baseava em decisão de Dias Toffoli, que determinava a suspensão nacional das apurações com dados repassados sem autorização judicial por órgãos de controle —incluindo o Coaf.

No fim de novembro, porém, o Plenário do Supremo entendeu ser possível o compartilhamento de dados sem autorização entre os órgãos de inteligência e fiscalização e o Ministério Público. Gilmar Mendes revogou, então, decisão de setembro.

Em entrevista à colunista Mônica Bergamo em maio passado, o empresário Paulo Marinho disse que a Polícia Federal havia antecipado a Flávio Bolsonaro que Queiroz seria alvo da Operação Furna da Onça.

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