Vice do Rio já planeja governo alinhado com deputados após eventual impeachment de Witzel

Cláudio Castro (PSC) é visto como conciliador, mas sem voz de comando

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Rio de Janeiro

De estilo discreto, o vice-governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PSC), já sinaliza e recebe sugestões sobre como deve comandar o estado caso o afastamento de Wilson Witzel (PSC) do Palácio Guanabara se confirme.

O vice chegou a usar o termo "gestão parlamentarista" com deputados para demonstrar a disposição em ouvi-los e ceder-lhes espaço, segundo interlocutores. Recebeu como sugestão que se afaste completamente da eleição municipal que se avizinha.

Castro sempre se apresentou como um primeiro assessor de Witzel, sem protagonismo nas ações governamentais. Ao longo de um ano e meio de mandato, por diversas vezes buscou apaziguar os ânimos entre os palácios Guanabara e Tiradentes nas sucessivas crises entre Executivo e Legislativo.

Desde a aprovação da abertura do processo de impeachment, contudo, o vice não se pronunciou em defesa do titular do cargo. Em suas redes sociais, não publicou nenhuma mensagem de apoio a Witzel. A interlocutores ele tem se queixado sobre a suposta produção de dossiês contra ele por pessoas ligadas ao governador.

O vice-governador do RJ, Cláudio Castro (PSC), em seu gabinete
O vice-governador do RJ, Cláudio Castro (PSC), em seu gabinete - Zô Guimarães - 27.fev.19/Folhapress

Nas conversas com deputados, ele não estimula a queda do governador, mas também não se empenha mais na defesa como antes. Castro também se comunicou com o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) a fim de criar pontes com o governo federal caso assuma o cargo.

Segundo relato de parlamentares, ao ser consultado sobre a hipótese de Castro assumir o governo, o senador disse que só não colocaria um tapete vermelho por não gostar da cor, usualmente associada à esquerda.

Cantor católico membro da Renovação Carismática, o vice é visto como um político conciliador, mas sem voz de comando. Ex-vereador da capital, ele tem a carreira atrelada ao deputado federal Hugo Leal (PSB), com quem iniciou na política no Detran-RJ, e ao deputado estadual Márcio Pacheco (PSC), ex-líder de Witzel na Assembleia Legislativa do Rio, de quem foi chefe de gabinete e dividiu o palco em shows gospel.

Leal já aparece como aposta de eminência parda de uma futura gestão Castro —cogita-se que o deputado ocupe a Casa Civil. Outros nomes cotados para um eventual secretariado são os deputados estaduais Rodrigo Barcellar (Solidariedade), Thiago Pampolha (PDT) e Jair Bittencourt (PP).

Leal nega. “Este assunto está fora de entendimento. Temos ainda um governador em exercício. Apesar de ficar feliz pela lembrança, não está no meu radar.”

A Assembleia Legislativa instaurou na semana passada o processo de impeachment contra Witzel, na esteira da Operação Placebo, que vinculou o governador a fraudes na contratação de hospital de campanha para tratamento de doentes do novo coronavírus. Ele também é investigado por sua relação e de seu entorno próximo com o empresário Mário Peixoto, preso sob suspeita de corrupção.

Nesta semana, os partidos vão indicar nomes para compor a comissão processante, colegiado que elegerá um presidente e relator. Após a definição dos nomes, o governador tem dez sessões para apresentar defesa.

A comissão especial emitirá um parecer sobre a admissibilidade da denúncia em até cinco sessões, contadas a partir do recebimento da defesa ou do fim do prazo de dez sessões para a defesa, caso ela não seja apresentada pelo governador.

Esse parecer será votado em plenário. Caso os deputados fluminenses decidam pelo recebimento da denúncia por maioria absoluta, o governador é afastado e Castro assume o governo até que ocorra o julgamento definitivo.

Enquanto assiste à sequência de denúncias contra o governador, o vice também enfrenta problemas nos órgãos que comanda.

O Ministério Público do Rio de Janeiro investiga a compra de cestas básicas para distribuição durante a pandemia no projeto Mutirão Humanitário. O trabalho é coordenado por Castro.

O vice também foi indiretamente atingido por uma operação policial dentro do próprio governo.

Dados apurados pela CGE (Controladoria-Geral do Estado) e compartilhados com a Polícia Civil levaram à deflagração da Operação Catarata, que investigou fraudes em licitações da Fundação Leão 13. Das 7 pessoas presas na ocasião, 1 era ex-funcionário de Castro na Câmara, e outro, amigo do vice-governador.

Sob o comando dele também está o Detran-RJ, que já teve quatro presidentes ao longo de um ano e meio em razão das disputas políticas pelo órgão. Uma das pessoas influentes no departamento é Mário Peixoto, como apontam as investigações do Ministério Público Federal.

Em nota, Cláudio Castro afirmou que “sua relação com o governador Wilson Witzel é de plena confiança”. “Por este motivo, tem conversado com deputados e deputadas para se posicionar contra o impeachment”, disse o vice, em nota.

“É bom esclarecer também que a Vice-Governadoria não executa nenhuma política pública e nem ordena despesas. Sobre as investigações em curso, é papel do Ministério Público apurar, e tem toda a colaboração do governo do estado. Além disso, todos os órgãos que estão abaixo da estrutura da Vice-Governadoria possuem autonomia política, administrativa e financeira”, acrescentou.

Próximos passos do processo de impeachment

  • Partidos devem indicar representantes para uma comissão especial que irá analisar a admissibilidade da denúncia contra Witzel
  • O colegiado tem 48 horas para se reunir e eleger um presidente e um relator
  • O governador deve apresentar sua defesa dentro de dez sessões. A denúncia será lida em plenário
  • Em até cinco sessões, a comissão deve emitir parecer sobre a admissibilidade. O prazo começa a correr a partir do recebimento da defesa de Witzel ou do fim do prazo de dez sessões
  • O parecer é lido e discutido em plenário. Depois, segue para votação
  • Se houver maioria absoluta pelo recebimento da denúncia, Witzel é afastado até o julgamento definitivo
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