Ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni anuncia estar com coronavírus e usando cloroquina

A exemplo de Bolsonaro, Lorenzoni afirma estar se tratando com uso de remédio sem comprovação científica

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Brasília

O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni (DEM), 65, anunciou nesta segunda-feira (20) que foi diagnosticado com o coronavírus.

"Bom dia. Quinta [16 de julho] à noite comecei a sentir sintomas que poderiam ser da Covid. Sexta passei por exames, entre eles o PCR e o resultado saiu hoje e o Covid foi detectado", escreveu Lorenzoni em suas redes sociais.

Lorenzoni é o terceiro ministro do governo Jair Bolsonaro que contraiu a doença. Além dele, os ministros Augusto Heleno (Segurança Institucional) e Bento Albuquerque (Minas e Energia) também tiveram diagnósticos positivos, pouco depois de voltarem de uma viagem presidencial aos Estados Unidos em que outros auxiliares de Bolsonaro também retornaram infectados.

O próprio presidente Bolsonaro informou no dia 7 de julho ter sido diagnosticado com a Covid-19. Ele permanece em isolamento desde então no Palácio da Alvorada, realizando reuniões com assessores por videoconferência.

A exemplo de seu chefe, Lorenzoni também disse no Twitter que está se medicando com um coquetel que inclui a cloroquina —medicamento propagandeado por Bolsonaro, mas ainda sem eficácia comprovada e cujo uso está relacionado a efeitos colaterais.

"Desde sexta estou seguindo o protocolo de azitromicina, ivermectina e cloroquina e já sinto os efeitos positivos", escreveu Lorenzoni. "Estou bem melhor, em isolamento e sigo o trabalho em home office. Boa semana a todos nós".

Bolsonaro afirma estar se tratando com a hidroxicloroquina e tem divulgado o medicamento em transmissões nas redes sociais.

No fim de semana, ele caminhou até a entrada do Palácio da Alvorada e interagiu com apoiadores que o esperavam em frente ao jardim da residência oficial.

Bolsonaro usava máscara e estava separado do grupo por um espelho d'água, mas sua presença no local causou aglomerações entre os simpatizantes que se juntaram para vê-lo.

No domingo (19), em frente ao grupo, o presidente tirou bolso uma caixa de hidroxicloroquina e agitou a embalagem, enquanto os simpatizantes aplaudiam e gritavam.

O vermífugo Annita (nome comercial da nitazoxanida), outro remédio que Bolsonaro afirma estar usando, tampouco tem eficácia comprovada no tratamento da doença.

Fernando Haddad, candidato a presidente pelo PT derrotado em 2018, ironizou Bolsonaro em uma rede social, depois da afirmação dele de que está fazendo uso do remédio contra vermes. “Bolsonaro diz que está tomando vermífugo. Isso pode matá-lo”, afirmou o petista no Twitter.

No final do dia, o presidente distorceu nota pública da AMB (Associação Médica Brasileira) e voltou a defender a utilização da hidroxicloroquina no tratamento do estágio inicial do novo coronavírus.

O presidente Jair Bolsonaro cumprimenta e conversa com apoiadores no jardim do Palácio da Alvorada. Ele acompanhou a cerimônia de arriamento da bandeira, um hábito que tem mantido desde a última semana e que tem juntado apoiadores para cumprimentá-lo no local. Bolsonaro está em isolamento no Palácio da Alvorada após ter sido diagnosticado com Covid-19 - Pedro Ladeira/Folhapress

Na entrada do Palácio da Alvorada, onde cumpre quarentena após ter sido diagnosticado com a doença, o presidente disse a um grupo de eleitores que a entidade médica "recomendou que fosse usado esse medicamento para combater o vírus em fase inicial".

"Hoje, a Associação Médica do Brasil recomendou que fosse usado esse medicamento para combater o vírus em fase inicial. Os ministros da Cidadania e da Educação ontem deram positivo para o vírus e já tomaram a cloroquina. Já estão bons", disse.

Na verdade, o posicionamento público divulgado no domingo (19) pela AMB defendia a autonomia do médico de prescrever tratamentos para a doença, mas ressaltava que, até o momento, "não existem estudos seguros, robustos e definitivos sobre a questão".

A nota da entidade criticou o que chamou de politização na discussão sobre o tratamento para a doença e salientou que é "bastante provável que cheguemos ao final da pandemia sem evidências consistentes sobre tratamentos".

"Nesse cenário, os estudos recentes não podem ser considerados conclusivos, tampouco verdade científica, pois carecem de evidências", disse. "O derby político em torno da hidroxicloroquina deixará um legado sombrio para a medicina brasileira caso a autonomia do médico seja restringida", acrescentou.

O documento ressaltou ainda que a prescrição de um medicamento off-label, ou seja, sem seguir a bula, é consagrado na medicina "desde que haja clara concordância do paciente". "Não se trata de apologia a este ou àquele fármaco. Trata-se de respeito aos padrões éticos e científicos", afirmou.

Mais cedo, nas redes sociais, o presidente já havia citado a nota e ressaltou que, sem a prática do off label, "diversas doenças ainda estariam sem tratamento".

Na semana passada, a SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) defendeu que é urgente que a cloroquina seja abandonada para qualquer fase do tratamento do novo coronavírus. Para a entidade, municípios e estados devem reavaliar orientações que indiquem a substância.

Nesta segunda-feira (20), além de Onyx, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, anunciou que os resultados de seus exames médicos deram positivo para o novo coronavírus.

Segundo relato feito à Folha, Bolsonaro deve fazer um novo exame nesta terça-feira (19). O último, realizado no final de semana, ainda identificou, segundo um assessor presidencial, resquícios do vírus no corpo do presidente.

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