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Caetano, Chico e ex-petistas dão apoio a Boulos em SP e reforçam resistência da esquerda a nome do PT

Artistas e intelectuais assinaram manifesto que exalta candidatura do PSOL e faz críticas a Bolsonaro e PSDB

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São Paulo

Artistas como Caetano Veloso e Chico Buarque, intelectuais e personalidades historicamente ligadas ao PT assinaram um manifesto em apoio à pré-candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) à Prefeitura de São Paulo, ampliando o isolamento na esquerda do nome do PT, Jilmar Tatto, escolhido em prévias do partido.

O texto "São Paulo precisa de Boulos e Erundina", que exalta a chapa formada pelo líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e pela deputada federal e ex-prefeita da capital Luiza Erundina (PSOL), será divulgado nesta quinta-feira (6) pela equipe da pré-campanha.

Boulos abraça Erundina durante a campanha presidencial em 2018 - Nelson Antoine/Folhapress

Entre os cerca de 200 signatários estão pessoas que, no passado, declararam apoio ao Partido dos Trabalhadores ou participaram de gestões da legenda.

Algumas colaboraram com o governo da ex-petista Erundina (1989-1992), casos da escritora Marilena Chaui, que foi secretária de Cultura, e da urbanista e professora universitária Raquel Rolnik, que coordenou o projeto do Plano Diretor na gestão da ex-prefeita.

O professor universitário Renato Janine Ribeiro, que foi ministro da Educação em 2015, durante o governo Dilma Rousseff (PT), foi outro que endossou a carta.

A lista dos entusiastas da campanha Boulos-Erundina reúne ainda os atores Wagner Moura, Camila Pitanga, Marieta Severo, Sônia Braga e Maria Fernanda Cândido, os cineastas Fernando Meirelles e Petra Costa, os músicos Arnaldo Antunes, Maria Gadú, Teresa Cristina, Tom Zé, Zélia Duncan e José Miguel Wisnik e a ilustradora Laerte Coutinho, cartunista da Folha.

Os escritores Luis Fernando Verissimo e Ferréz, o fotógrafo Bob Wolfenson, o antropólogo Luiz Eduardo Soares, o filósofo Vladimir Safatle, o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, os advogados Celso Antonio Bandeira de Melo e Walfrido Warde e o economista Eduardo Moreira (criador da campanha Somos 70%, de resistência a Bolsonaro) também ratificaram o documento.

Parte dos signatários, como Chico Buarque, declarou voto em Fernando Haddad (PT) na corrida presidencial de 2018, vencida por Jair Bolsonaro (à época no PSL, hoje sem partido).

Outros nomes da lista (caso de Caetano Veloso) fizeram campanha no primeiro turno para Ciro Gomes (PDT). E Fernando Meirelles, por exemplo, é aliado longevo de Marina Silva (Rede Sustentabilidade).

Como mostrou a coluna Painel, da Folha, porta-voz e secretário de imprensa da Presidência no governo Lula, o cientista político André Singer escreveu carta de apoio à pré-candidatura de Boulos.

A adesão ao manifesto pró-Boulos evidencia uma divisão nos campos da esquerda e da oposição a Bolsonaro em relação à candidatura do PT na capital, personificada no ex-deputado federal Jilmar Tatto.

Escolhido em prévias, Tatto tem ascensão sobre a burocracia partidária, mas foi pouco produtivo até o momento na missão de energizar a militância petista, que já começa a registrar sinais de debandada para outras pré-candidaturas, principalmente a do PSOL.

Boulos, que é próximo do ex-presidente Lula, tem mantido postura de diálogo e se afastado de eventuais embates. Em entrevista à Folha há alguns dias, ele evitou polemizar ao ser questionado sobre a possibilidade de herdar votos de eleitores do PT que rejeitam o nome escolhido pelo partido.

"Qualquer apoio que venha de pessoas que concordem com o nosso projeto evidentemente é bem-vindo", afirmou.

Diante das pressões contrárias à sua candidatura dentro da legenda, Tatto iniciou um movimento para solidificar sua presença na disputa, levando para sua campanha o casal Fernando e Ana Estela Haddad. Os dois deverão contribuir na elaboração do plano de governo.

O postulante petista também busca obter uma sinalização pública de apoio de Lula, na expectativa de turbinar os simpatizantes da sigla e nacionalizar a disputa na capital, polarizando com Bolsonaro.

Como mostrou a Folha, Lula foi novamente pressionado há alguns dias a convencer Haddad de que ele deveria ser o candidato, mas o ex-prefeito não cedeu.

Há alguns dias, Haddad encabeçou a lista de assinaturas de um manifesto de professores universitários que defendem a candidatura de Tatto. No texto, os docentes afirmam que o pré-candidato pode unir "as formulações da intelectualidade progressista com o mundo real" da periferia.

As bancadas do PT na Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal de São Paulo também emitiram notas reafirmando apoio ao nome escolhido em votação pelos filiados.

Em meio ao temor de que a candidatura de Tatto afunde, o PT trabalha ainda para preencher a vaga de vice com um nome de peso, quesito em que Boulos tem um trunfo. Prefeita da capital no início da década de 1990, Erundina goza de ampla admiração na esquerda paulistana.

Para aliados de Tatto, a entrada de Lula poderá atrair a atenção do público cativo da legenda. A estratégia, no entanto, será orientada por pesquisas que mostrem o humor dos eleitores sobre o ex-presidente, que até agora está distante da guerra eleitoral.

O ex-presidente, por exemplo, não participou da live de lançamento da plataforma virtual da campanha de Tatto, no último dia 24. Respondeu que já tinha outros compromissos marcados e que não poderia aparecer no encontro virtual.

Gleisi Hoffmann e Jilmar Tatto, do PT, em manifestação contra Bolsonaro na av. Paulista
Gleisi Hoffmann, presidente do PT, e Jilmar Tatto, pré-candidato do PT à Prefeitura de SP, em manifestação contra Bolsonaro na av. Paulista - Carolina Linhares/Folhapress

O texto dos artistas e intelectuais em apoio à campanha do PSOL contém ainda duras críticas ao governo Bolsonaro e ao PSDB, partido do prefeito Bruno Covas, que tentará a reeleição.

"Em São Paulo, a maior cidade do país, temos o desafio de derrotar o projeto autoritário de Bolsonaro e projeto elitista dos tucanos, que relega os territórios populares ao esquecimento", afirma o documento.

O manifesto diz que a chapa Boulos-Erundina representa uma alternativa que pode fazer a cidade "voltar a sonhar". Também exalta a gestão da ex-prefeita por políticas em áreas como educação, saúde, transporte, habitação e cultura e destaca a participação dos cidadãos na definição dessas políticas.

O governo Bolsonaro, segundo o texto, representa "um momento sombrio", com a "aliança perversa entre a extrema direita e o neoliberalismo".

"Em São Paulo, o projeto do PSDB liderado por João Doria está neste mesmo campo, ainda que estejam separados por conveniências eleitorais", acrescenta.

Outro trecho ressalta "o encontro entre Erundina e Boulos" e menciona a atuação do pré-candidato na liderança da frente de esquerda Povo sem Medo: "Encontro entre a sabedoria e a esperança para atravessar o abismo na construção de um novo presente".

A carta é encerrada com a afirmação de que "São Paulo precisa de Boulos e Erundina. O Brasil precisa deles".

Além de Boulos e Tatto, outros postulantes identificados com o campo da esquerda em São Paulo são o deputado federal Orlando Silva (PCdoB) e a ativista sindical Vera Lúcia (PSTU). O período de oficialização das candidaturas é de 31 de agosto a 16 de setembro, quando serão realizadas as convenções partidárias.

O pré-candidato a prefeito Guilherme Boulos (PSOL) na Vila Fundão, no Capão Redondo (zona sul de São Paulo)
O pré-candidato a prefeito Guilherme Boulos (PSOL) na Vila Fundão, no Capão Redondo (zona sul de São Paulo) - Danilo Verpa/Folhapress
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