Decisão de afastamento de Witzel é 'no mínimo estranha', diz Doria

Medida deveria ser adotada 'por um colegiado e não por um único juiz', afirmou o governador de São Paulo

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São Paulo

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), classificou como "no mínimo estranha" a decisão do ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Benedito Gonçalvez que afastou o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC).

A declaração foi dada durante entrevista coletiva sobre a pandemia do coronavírus, no Palácio dos Bandeirantes, na tarde desta sexta-feira (28).

“Eu não estou aqui para fazer juízo de valor nem juízo de mérito. Mas eu defendo sempre que investigações e esclarecimentos de denúncia sejam feitos. Porém, quero registrar como governador que uma decisão dessa dimensão monocrática, e não de colegiado, é no mínimo estranha. Uma decisão como essa, a meu ver, dada a sua importância e sua dimensão, deveria ser adotada por um colegiado e não por um único juiz”, afirmou.

Doria em coletiva de imprensa - 24.ago.2020/Governo do Estado de São Paulo

Witzel e a cúpula de sua gestão foram alvos de uma operação da Polícia Federal na manhã desta sexta, sob acusação de corrupção em contratos públicos da saúde.

O governador, que nega todas as acusações, foi afastado do cargo inicialmente por 180 dias por uma decisão do ministro Benedito Gonçalves, do STJ (Superior Tribunal de Justiça). Ele pode permanecer na residência oficial, no Palácio Laranjeiras, mas está impedido de entrar nas dependências do governo e de se comunicar com funcionários públicos.

Também sofreram buscas e apreensões o vice-governador Cláudio Castro (PSC), que assume o Executivo no lugar de Witzel; o presidente da Assembleia Legislativa do Rio, André Ceciliano (PT); e a primeira-dama do estado, Helena Witzel.

Os policiais ainda prenderam o presidente nacional do PSC, Pastor Everaldo, um dos responsáveis pela eleição de Witzel em 2018, e Lucas Tristão, ex-secretário estadual de Desenvolvimento Econômico e braço direito do governador.

A operação desta sexta foi um desdobramento de outra deflagrada em maio, a Placebo, da qual o governador e a primeira-dama já haviam sido alvos. A nova ação foi batizada de Tris in Idem, sugerindo que o esquema repete práticas criminosas dos dois últimos chefes do Executivo fluminense, Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão (MDB).

A Procuradoria chegou a pedir a prisão de Witzel, mas o pedido foi negado pelo ministro do STJ Benedito Gonçalves. Ele entendeu que o afastamento seria suficiente para impedir a continuidade das supostas ações ilícitas, já que o governador não tem mais poder para liberar recursos e fazer contratações.

Witzel continua respondendo a um processo de impeachment na Alerj impulsionado pelas suspeitas de irregularidades na saúde. Ele é o sexto governador do Rio implicado em denúncias de corrupção desde a redemocratização.

Em entrevista à imprensa, Witzel negou qualquer ato ilícito, incitou a PGR a apresentar provas e disse que “interesses poderosos” o querem longe do governo. Também disse que “a delação desse canalha do Edmar é mentirosa".

O ex-juiz também afirmou que Lindôra mantém relações com o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos), filho de seu ex-aliado Jair Bolsonaro (sem partido). "O senhor presidente da República, com todo o respeito, fez acusações extremamente graves e levianas contra mim porque acredita que vou ser candidato a presidente”, criticou.

Assim como Witzel e outros governadores, Doria entrou em rota de colisão com Bolsonaro durante a pandemia. Em reunião de março, os dois chegaram a protagonizar um embate após pronunciamento do presidente.

Doria pediu "serenidade, calma e equilíbrio" a Bolsonaro, que respondeu, aos berros, para o governador sair "do palanque".

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