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Eleição em Porto Alegre tem prefeito sob risco de impeachment, racha governista e PT coadjuvante

Nelson Marchezan Jr. (PSDB) é alvo de processo que pode afastá-lo; prefeito rompeu relações com o vice, que é pré-candidato

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Porto Alegre

A corrida eleitoral municipal em Porto Alegre começa com o prefeito Nelson Marchezan Jr. (PSDB) sob risco de impeachment e uma fratura no campo governista.

O vice de Marchezan, Gustavo Paim (PP), é pré-candidato à prefeitura. As relações pessoais e de trabalho entre ambos estão rompidas há cerca de um ano. Paim foi expulso de grupos de WhatsApp da administração e teve seu chefe de gabinete exonerado enquanto estava de férias.

“O prefeito acabou gerando na população uma desilusão e uma decepção por não cumprir seu compromisso”, disse Paim à Folha, ressaltando que pretende retomar agenda de privatizações e desburocratização.

Ele chegou a participar de um protesto de empresários que cobravam a reabertura das atividades econômicas em meio à pandemia do novo coronavírus. Entre os partidos em negociação para vice na chapa de Paim está o PRTB, do vice-presidente Hamilton Mourão.

O prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior (PSDB), durante entrevista - Jefferson Bernardes/PMPA

Além do racha na atual gestão, os vereadores acataram um pedido para instaurar um processo de impeachment contra Marchezan faltando pouco mais de cem dias para a eleição.

O placar da votação na Câmara Municipal na última quarta-feira (5), 31 a favor e apenas 4 contra, mostra o quão frágil é a relação do prefeito até mesmo com sua base.

À divisão governista se soma o fato de que o PT, partido que governou a capital gaúcha de 1989 a 2005, será coadjuvante e não protagonista pela primeira vez. O ex-ministro Miguel Rossetto será vice de Manuela d’Ávila (PC do B).

Ela é a principal adversária de Marchezan no campo da esquerda. O prefeito agora também precisa enfrentar a acusação que embasou o impeachment. O tucano é acusado por usar R$ 3,1 milhões do Fundo Municipal de Saúde para publicidade.

Este é o sexto pedido de impeachment contra Marchezan —os demais foram arquivados. Uma comissão tem 90 dias para apresentar o relatório indicando se o impeachment prossegue ou não.

“Esse impeachment é uma antecipação da eleição”, afirmou Marchezan em um vídeo divulgado após a votação. Ele disse ainda que a verba foi aprovada pelos próprios vereadores para o orçamento do ano e insinuou casos de corrupção nas administrações anteriores.

O prefeito foi procurado pela reportagem para falar sobre sua candidatura, mas não atendeu ao pedido.

“Ele [Marchezan] é muito prepotente e soberbo. Ignora tudo que fizeram ao longo da história de Porto Alegre. Passou três anos e meio olhando pelo retrovisor buscando mais responsabilizar pela sua própria incompetência do que buscando soluções para a cidade”, afirma José Fortunati, pré-candidato pelo PTB e ex-prefeito de 2010 a 2016 pelo PDT.

Fortunati é a favor de uma coalizão de siglas para evitar dividir os eleitores. Ele se dispõe tanto a ser o nome apoiado como retirar a pré-candidatura caso haja consenso em torno de outro nome.

“Defendo uma coalizão para não pulverizar demais o número de candidaturas, o que acaba fracionando o eleitorado. Estamos conversando com partidos de centro, centro-esquerda e centro-direita”, explica Fortunati.

José Fortunati (PTB), ex-prefeito de Porto Alegre e pré-candidato - Sergio Lima/Folhapress

O MDB tem Sebastião Melo, deputado estadual que foi vice de Fortunati, como pré-candidato. Melo concorreu a prefeito em 2016 e foi ao segundo turno contra Marchezan.

O emedebista tem acenado a outras siglas, assim como Fortunati, e não rejeita o apoio de bolsonaristas.

“Não vou entrar em uma campanha assumindo um lado [contra ou a favor de Bolsonaro]. Quero dialogar com todos os campos. São bem-vindos aqueles do campo que apoia o Bolsonaro. Tenho um bom diálogo com esse pessoal. Mas não vou transformar em ‘grenalização’”, disse Melo, comparando a rivalidade futebolística de Grêmio e Inter com a polarização política.

À esquerda, três mulheres são pré-candidatas: Fernanda Melchiona (PSOL), 36, Juliana Brizola (PDT), 45, e Manuela d’Ávila, 38.

Manuela acumula o capital político da última eleição presidencial, quando chegou ao segundo turno concorrendo a vice-presidente na chapa de Fernando Haddad (PT). Agora, é a vez de o PT ser vice. Ela disputou todas eleições municipais desde 2004, exceto em 2016.

Apesar de concordar com o motivo do processo de impeachment contra Marchezan, Manuela diz que seu papel é o de derrotar o projeto do tucano “nas urnas”. “Tenho convicção que o projeto será derrotado”, afirma.

Manuela diz que sempre afirmou a importância da unidade da esquerda, inclusive com a possibilidade de não ser candidata. “Não aconteceu e não vou me furtar das responsabilidades. Torço para que ocorra no segundo turno”, diz ela.

Pelo PSOL, a deputada federal Fernanda Melchiona, que foi a vereadora mais votada em 2016, chegou a defender prévias com os partidos de esquerda para escolher um único candidato.

Para Melchiona, a eleição municipal “terá um certo elemento de plebiscito” de rechaço ou aprovação ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). “Sabemos que Marchezan não é Bolsonaro nos costumes e na visão de democracia, mas é na agenda liberal”, diz.

Por sua vez, a deputada estadual Juliana Brizola defende o legado na educação pública do avô, Leonel Brizola, que foi prefeito de Porto Alegre de 1956 a 1958 e governador do Rio Grande do Sul de 1959 a 1963. Assim como as demais candidatas de esquerda, comemora o número de mulheres do campo na disputa. Mas aponta suas diferenças.

“Somos do mesmo campo, mas com distinções. Se formos ao pé da letra do que defendem os partidos, vemos que o PDT não defende o comunismo. Meu avô era trabalhista. Ele dizia que gostava tanto da propriedade privada que queria para todos”, afirma Juliana.

Juliana Brizola (PDT), neta de Leonel Brizola - Marcos Nagelstein/Folhapress
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