Inquérito descarta tortura e aponta que miliciano Adriano da Nóbrega disparou 7 vezes contra policiais

Investigação concluída nesta quarta-feira (26) também descarta execução de ex-PM ligado à família Bolsonaro

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Recife

Inquérito da Polícia Civil da Bahia, concluído nesta quarta-feira (26), aponta que o ex-capitão da PM-RJ (Polícia Militar do Rio de Janeiro) Adriano da Nóbrega, morto em fevereiro deste ano, atirou sete vezes contra policiais militares antes de ser atingido por dois tiros.

Laudo do DPT (Departamento de Polícia Técnica) concluiu que não houve tortura e descartou execução.

Apontado como chefe de uma milícia do Rio de Janeiro, Adriano foi citado na investigação que apura a prática de um esquema de devolução de salários no gabinete do então deputado estadual e hoje senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), no caso conhecido como "rachadinha".

O filho do presidente, que nega as acusações, o homenageou duas vezes na Assembleia do Rio de Janeiro. O miliciano teve duas parentes nomeadas por Flávio Bolsonaro.

Conforme o inquérito da Polícia Civil da Bahia, dois disparos feitos por Adriano atingiram o escudo dos policiais que tentavam prendê-lo em um sítio na cidade de Esplanada (170 km de Salvador). Os outros cinco tiros acertaram a parede e uma janela do local.

Três dias após a morte de Adriano da Nóbrega, o senador Flávio Bolsonaro se pronunciou nas redes sociais.

"DENÚNCIA! Acaba de chegar a meu conhecimento que há pessoas acelerando a cremação de Adriano da Nóbrega para sumir com as evidências de que ele foi brutalmente assassinado na Bahia. Rogo às autoridades competentes que impeçam isso e elucidem o que de fato houve", escreveu.

Nesta quarta-feira, ​em entrevista coletiva, o delegado Marcelo Sansão, à frente das investigações, afastou a hipótese de que Adriano tenha sido executado.

"Através dos depoimentos de testemunhas e dos envolvidos, além dos exames do DPT, percebemos que os policiais atuaram na tentativa de efetuar a prisão e acabaram entrando em confronto, após disparos de Adriano", afirmou.

Ele destacou que as declarações das testemunhas e as perícias técnicas convergiram.

O perito José Carlos Montenegro, um dos responsáveis pela reprodução simulada, afirmou que os policiais que participaram da operação foram ouvidos separadamente.

“Remontamos o cenário, com cada um de forma isolada, e a sequência relatada foi a mesma. O cenário analisado retrata um confronto", destacou.

O diretor do Instituto Médico Legal (IML), Mário Câmara, declarou que a necropsia realizada no corpo do ex-capitão da PM não constatou elementos que indicassem tortura e nem tiros com armas encostadas ao corpo.

“Foram dois tiros que atingiram Adriano, em distâncias superiores a um metro", ressaltou.

Conforme as perícias técnicas, a ação policial durou 6 minutos e 30 segundos.

A investigação apontou que Adriano da Nóbrega tentou se esconder dentro de uma casa no sítio. Os policiais, ao se aproximarem da entrada, teriam dito para ele se render.

“Diante da ausência de resposta, o tenente deu a ordem para arrombamento da porta principal”, contou Montenegro. De acordo com ele, neste momento, Adriano teria efetuado os disparos.

“A guarnição estava sob a proteção do escudo. Não só ele recebe os disparos, a parede posterior aos policiais também foi atingida”, declarou Montenegro. Os três policiais dispararam e dois tiros quase simultâneos atingem tórax, pescoço e clavícula.

Adriano ainda chegou a ser levado para um hospital da região, mas não resistiu.

O pecurarista Leandro Guimarães é suspeito de ter ajudado o miliciano. Ele chegou a ser preso por porte ilegal de armas durante a operação que resultou na morte de Adriano, mas teve a sua prisão relaxada pela Justiça mediante fiança e uso de tornozeleira eletrônica.

Em depoimento à polícia, Guimarães afirmou que, na véspera da operação policial, foi ameaçado por Adriano para que o ajudasse a se esconder no sítio de Gilsinho de Dedé — este último, que é vereador de Esplanada pelo PSL, alega que não conhece Adriano e teve o seu sítio invadido pelo ex-policial.

A Polícia Civil informou que as investigações indicam que Gilsinho não sabia que Adriano estaria no sítio.

Adriano da Nóbrega era alvo de um mandado de prisão expedido no início de 2019 a pedido do MPRJ ( Ministério Público do Rio de Janeiro), que investiga integrantes de uma milícia com atuação em Rio das Pedras, na zona oeste do estado.

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