Prisão de secretário impõe maior constrangimento político a Doria desde que assumiu governo

Suspeitas não se referem à ação de Baldy em SP, mas atingem imagem de governador que, de olho em 2022, tentava se descolar de tucanos investigados

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São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro

O secretário dos Transportes Metropolitanos da gestão João Doria (PSDB), Alexandre Baldy (PP), foi preso na manhã desta quinta-feira (6) pela Polícia Federal, em uma operação que impôs o maior constrangimento político ao governador tucano desde que ele assumiu o Executivo paulista.

As suspeitas que motivaram a prisão são de período anterior à nomeação dele ao Governo de São Paulo, mas atingem a imagem de Doria, que via Baldy como uma das estrelas de seu secretariado e que, de olho na sucessão presidencial de 2022, buscou se descolar nos últimos anos de tucanos investigados em episódios de corrupção.

Outras acusações envolvendo duas autoridades do alto escalão escolhidas por Doria —Gilberto Kassab (Casa Civil) e Aloysio Nunes Ferreira (InvestSP)— já haviam colocado o governador em saia justa, mas, pela primeira, houve prisão de um secretário.

Alexandre Baldy, então secretário dos Transportes Metropolitanos de São Paulo, durante coletiva de imprensa sobre o coronavírus - Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

Diante das acusações, Baldy pediu licença do cargo a partir desta sexta (7), por um mês, para se defender.

O secretário foi alvo de um dos seis mandados de prisão temporária expedidos pela 7ª Vara Federal do Rio, comandada pelo juiz Marcelo Bretas.

A operação desta quinta, batizada de Dardanários, é um desdobramento de investigações da Lava Jato fluminense que apuram desvios na saúde.

Segundo o Ministério Público Federal, Baldy é um dos investigados por um "esquema que apura pagamento de vantagens indevidas a organização criminosa que negociava e intermediava contratos em diversas áreas".

Em sua decisão, Bretas disse que a suspeita se refere a todos os cargos públicos que ele ocupou de 2014 a 2018 —Baldy foi deputado federal por Goiás e ministro das Cidades na gestão Michel Temer (MDB).

Na casa que o secretário mantém em Brasília os agentes federais apreenderam R$ 90 mil, guardados em dois cofres. Em outra residência do secretário, em Goiânia, a PF achou mais R$ 110 mil.

Nos dois dias anteriores à operação policial, Baldy havia tirado licença não-remunerada para cuidar de "assuntos particulares", segundo o Diário Oficial do Estado.

Em nota, Doria buscou ressaltar que "os fatos que levaram as acusações contra Alexandre Baldy não têm relação com a atual gestão no Governo de São Paulo".

O entorno do tucano esperava o pedido de afastamento de Baldy, que foi comunicado por meio de advogados ao Palácio dos Bandeirantes.

Na segunda nota sobre o tema, Doria fez os elogios protocolares à gestão do secretário à frente da pasta. Ocupará interinamente o lugar de Baldy seu número 2, o secretário-executivo Paulo Galli.

Nos últimos meses, em meio à pandemia do coronavírus e após a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça, houve uma série de operações com participação da PF que atingiram adversários do presidente Jair Bolsonaro.

Em maio, o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), foi um dos alvos, e Bolsonaro deu “parabéns à Polícia Federal". “Vai ter mais. Enquanto eu for presidente, vai ter mais”, afirmou na ocasião.

Nesta quinta, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, publicou uma foto em rede social com imagem de Baldy ao lado de Doria e de Moro.

Baldy era visto com candidato certo a senador ou governador de Goiás em 2022.

Tinha pontes com o centrão, bloco que se aproximou de Bolsonaro nos últimos meses e tem indicado nomes ao governo. Desde 2017 Baldy está no PP, depois de ter entrado na política em 2010 no PSDB e tido uma curta passagem pelo Podemos.

O secretário de Doria também tem grande interlocução tanto com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), aliado de Doria, quanto com o ministro Fábio Faria (Comunicação), o homem do PSD no governo federal.

Essa articulação foi vista como explicação possível por um estranhamento do dia, que foi o fato de o secretário ter pedido licença na terça e na quarta, vésperas da operação.

O trânsito de Baldy também é grande entre personagens da política goiana envolvidos em investigações de corrupção nos últimos anos.

Ele foi citado no relatório da CPI que avaliou os negócios do Carlinhos Cachoeira, que estabeleceu seus vínculos com o bicheiro, mas foi rejeitado por falta de provas de irregularidades. Esses laços já haviam sido apontados como provável dor de cabeça por aliados (e adversários) de Doria.

A prisão de Baldy também significa mais uma rachadura em um dos esteios da gestão Doria, o aproveitamento de ex-ministros de Temer (2016-17) em sua gestão. Foram escolhidos ao todo oito ex-ministros para seis secretarias e outros órgãos.

A ideia sempre foi a de fazer um "mini ministério" em São Paulo, o que aliados e adversários já viam como uma antecipação de pretensões presidenciais do tucano para 2022, mas o ônus acompanhou o bônus.

Inicialmente, houve Kassab. O presidente do PSD era uma das mais vistosas aquisições políticas de Doria, olhando o longo prazo. Até hoje se queixa do governador, segundo seus aliados, pelo tratamento dispensado.

Tanto foi assim que, sem fechar as portas ao PSDB, operou a entrada de seu partido no governo de Jair Bolsonaro, o adversário principal de Doria.

O mesmo valeu para o ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira, que teve de deixar a agência InvestSP depois que a Lava Jato bateu às suas portas.

Eleito em 2016 prefeito paulistano e, dois anos depois, governador, Doria sempre associou-se fortemente ao discurso de moralidade pública típico do "Zeitgeist" do lavajatismo. Daí as execuções sumárias de auxiliares.

A Lava Jato e métodos de seus expoentes, como o próprio juiz Bretas, que levou Baldy à prisão, estão em xeque.

Sofreram reveses com as acusações de impropriedade de condução de processos pelo então juiz Sergio Moro, que podem levar à declaração de sua suspeição no caso em que condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Além disso, o governo de Jair Bolsonaro, eleito presidente também pelo desejo antiestablishment decorrente da erosão da classes política pelo lavajatismo, agora tenta se livrar dos riscos de manter o grupo forte.

Daí decorre o embate no qual saiu Moro do governo e se digladiam o procurador-geral da República, Augusto Aras, e os procuradores associados ao lavajatismo.

Além de Baldy, um pesquisador da Fiocruz também foi preso. A duração das prisões temporárias é de cinco dias, podendo ser prorrogada ou convertida em preventiva.

Segundo a PF, Baldy e os outros presos na operação poderão responder pelos crimes de "corrupção, peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa, e após procedimentos de praxe, serão encaminhados ao sistema prisional e ficarão à disposição da Justiça".

Além das prisões e buscas, o juiz Bretas determinou o bloqueio de bens em valores que ultrapassam R$ 12 milhões.

Em nota, a defesa do secretário afirmou que Baldy não participou de atos ilícitos, que a prisão foi desnecessária e que tomará providências para a sua revogação.​

Membros da gestão Doria investigados

Gilberto Kassab
Secretário da Casa Civil licenciado

Em dezembro de 2018, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao ex-prefeito e presidente nacional do PSD. A operação mirava um suposto esquema de recebimento de recursos ilícitos de 2010 a 2016.

A medida, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, era decorrente da delação da JBS. Wesley Batista, um dos donos do frigorífico, afirmou que pagou propina de R$ 350 mil por mês a uma empresa ligada a Kassab. O valor total atingiria R$ 30 milhões, segundo o empresário.

Com isso, ele perdeu espaço no plano de articulação política de João Doria, ainda no governo de transição, e pediu licença do cargo de secretário da Casa Civil, para o qual foi nomeado em janeiro de 2019. Kassab segue afastado.

Aloysio Nunes
Ex-presidente da Investe SP

Em fevereiro de 2019, a PF deflagrou uma fase da Lava Jato e cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao ex-senador tucano.

Paulo Preto, ex-diretor da Dersa (empresa de estradas) e suposto operador do PSDB, foi preso. Ele também é suspeito de operar propinas da Odebrecht.

A Procuradoria acusou Preto de ter movimentado ao menos R$ 130 milhões em contas na Suíça, de 2007 a 2017. Em uma dessas contas, segundo a Procuradoria, foi emitido um cartão de crédito em favor de Aloysio Nunes, em dezembro de 2007.

No mesmo dia da operação, o tucano pediu pediu demissão de seu cargo na gestão Doria, o de presidente da Investe SP, agência de estímulo a investimentos no estado.


Alexandre Baldy
Secretário dos Transportes Metropolitanos licenciado

Preso nesta quinta-feira (6), Alexandre Baldy (PP) é investigado por supostamente ter recebido vantagens indevidas de 2014 a 2018, período em que ocupou vários cargos públicos. Ele pediu licença do posto na gestão Doria para se defender.

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