Witzel nega atos ilícitos, desafia PGR e diz que 'interesses poderosos' o querem longe do governo

Ex-juiz questionou suposta proximidade entre a subprocuradora Lindôra Maria Araújo e a família do presidente Jair Bolsonaro, seu desafeto

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Rio de Janeiro

Afastado pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) do cargo de governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) afirmou à imprensa nesta sexta-feira (28) que está sendo "massacrado politicamente" porque há interesses poderosos que não o querem governando o estado.

Ele negou atos ilícitos, atacou a PGR (Procuradoria-Geral da República) e sugeriu uma possível influência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), seu desafeto, sobre o órgão.

"Minha indignação é a de um cidadão que está aqui com o compromisso de governar o estado, reduzir os indices de criminalidade, enfrentando todas as dificuldades. Querem me tirar do governo, organizações criminosas estão perdendo dinheiro", disse.

Witzel questionou a suposta proximidade entre a família Bolsonaro e a subprocuradora-geral da República Lindôra Maria Araújo, que reiterou ao STJ a denúncia de que o ex-juiz está possivelmente na cúpula de uma organização criminosa no governo.

Witzel diante de vários microfones de veículos de impresa. Ele fala gesticulando com uma das mãos
O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, discursa para jornalistas no Palácio das Laranjeiras - Pilar Olivares/ Reuters

"Uma procuradora cuja imprensa já notificou seu relacionamento próximo com a família Bolsonaro. Bolsonaro já declarou que quer o Rio de Janeiro. Já me acusou de perseguir a família dele. Mas, diferentemente do que ele imagina, aqui a Polícia Civil é independente, o Ministério Público é independente", disse Witzel.

"O senhor presidente da República, com todo o respeito, fez acusações extremamente graves e levianas contra mim porque acredita que vou ser candidato a presidente."

Questionado se acredita na participação do presidente em seu afastamento, Witzel respondeu: "Não cabe a mim investigar. Cabe ao STF, através do procurador-geral da República, investigar. Agora, a procuradora Lindôra tem relação, já foi inclusive divulgado na imprensa, com o [senador] Flávio Bolsonaro. Essas questões precisam ser respondidas no Conselho Nacional do Ministério Público."

Witzel também afirmou que a PGR, na figura da subprocuradora, está se especializando em perseguir governadores, desestabilizar os estados com investigações rasas e buscas e apreensões preocupantes. "Eu, assim como outros governadores, também estamos sendo vítimas do possível uso político da instituição."

O ex-juiz criticou ainda um suposto uso político do instituto da delação premiada e afirmou que o processo penal brasileiro está se transformando em um circo.

A denúncia apresentada pela PGR contra Witzel ocorreu na esteira da homologação do acordo de colaboração premiada do ex-secretário de Saúde Edmar Santos, solto no início do mês.

"Reafirmo que não tenho medo de delação, porque a delação desse canalha do Edmar é mentirosa. Foi pego com a boca na botija."

Witzel afirmou que não cometeu atos ilícitos e que não recebeu vantagens indevidas. Ele desafiou Lindôra a apresentar provas que comprovem a afirmação de que ele atuou como chefe de uma organização criminosa em seu governo.

"Quero que ela apresente um único email, um único telefonema, uma prova testemunhal, um pedaço de papel, em que eu tenha pedido qualquer tipo de vantagem ilícita para mim", disse.

"Não existe nenhum ato de corrupção na decisão de afastamento e na representação. Que provas são essas que eu sou o chefe da organização criminosa? Para ser chefe, você tem que praticar ato ilícito. Qual foi o ato que eu pratiquei? Nunca, não vão achar."

Witzel rebateu a acusação da PGR de que o escritório de advocacia da primeira-dama, Helena Witzel, teria sido utilizado para lavar dinheiro da propina obtida por meio de contratos fraudulentos firmados pelo governo.

"Para haver lavagem de dinheiro, tem que ter vantagem ilícita. Qual foi o ato ilícito que eu pratiquei? Estão criminalizando a advocacia."

O ex-juiz negou ter relações com o empresário Mario Peixoto, um dos investigados no esquema, que firmou contrato com o escritório da primeira-dama. Também disse que nunca pediu para seus secretários a contratação de qualquer empresa.

Witzel afirmou ainda que seu afastamento é um ultraje à democracia e que não tentou atrapalhar as investigações.

"Eu estou incomodando prendendo miliciano, traficante de drogas? Afastamento de 180 dias por que, se em dezembro eu tenho que escolher o novo procurador-geral de Justiça? Busca e apreensão na casa do vice-governador? Na casa do presidente da Alerj [Assembleia do Rio]? Com base numa delação mentirosa, de um homem desesperado?", questionou.

O governador defendeu que delações mentirosas estão sendo produzidas e usadas politicamente e citou o caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para dizer que está preocupado "com os caminhos pelos quais nosso país está seguindo".

"Não sou a favor de Lula nem contra Lula. Mas o STF está chegando à conclusão de que, infelizmente, o ex-ministro Sergio Moro foi parcial. Com essa decisão, [o ministro do STF e do TSE Edson] Fachin foi muito claro, evitou-se que Lula disputasse a Presidência", afirmou.

"Já falei várias vezes como morrem as democracias. Morrem assim, aniquilando os adversários, com uso da máquina pública, e cooptando as instituições."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.