Russomanno exalta alinhamento com Bolsonaro e atrai o PTB de Roberto Jefferson para sua vice

Marcos da Costa, que era o candidato do PTB, vai compor a chapa com o postulante do Republicanos

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São Paulo

Numa convenção em que exaltou o alinhamento com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o deputado federal Celso Russomanno (Republicanos) oficializou sua candidatura à Prefeitura de São Paulo nesta quarta-feira (16), com o advogado Marcos da Costa (PTB) como vice.

"Nós estaremos alinhados com o presidente da República. Não tenho dúvida disso. Não porque sou amigo dele desde 1995, quando cheguei à Câmara. Não porque hoje sou vice-líder do governo no Congresso. Mas porque estamos imbuídos, os dois, de fazer o melhor pelo nosso país", disse Russomanno.

O candidato, porém, não respondeu a questões de jornalistas sobre como se dará a participação de Bolsonaro em sua campanha —se haverá um aceno explícito ou não.

O PTB, de Roberto Jefferson, agora aliado de primeira hora do presidente, já havia lançado Costa em sua convenção, mas vai abrir mão da candidatura do ex-presidente da OAB-SP.

A convenção do Republicanos que oficializou Celso Russomanno (Republicanos), à dir., e seu candidato a vice, Marcos da Costa (PTB) - Adriano Vizoni/Folhapress

Russomanno, que é apresentador de TV e atua na área de defesa do consumidor, largou como favorito nas eleições de 2012 e de 2016, mas acabou em terceiro lugar. Ele vinha resistindo a entrar na disputa, mas assumiu a tarefa após ter a indicação de que Bolsonaro o apoiaria.

Russomanno também tentou uma aliança com o PSDB, do prefeito Bruno Covas, e uma costura de última hora com o PSL, numa articulação do Palácio do Planalto que derrubaria a candidatura de Joice Hasselmann (PSL) —as duas tentativas falharam.

A ideia da chapa Republicanos-PTB, patrocinada por Bolsonaro, é unir os candidatos conservadores de São Paulo na tentativa de alcançar mais votos. O presidente procurou Jefferson e Campos Machado, dirigente do PTB paulista, para defender a aliança.

Os dois partidos, PTB e Republicanos, podem ser destinos de Bolsonaro, que hoje está sem partido. As duas legendas já sinalizaram que gostariam de filiar o presidente, que flerta ainda com o PSL.

Bolsonaro havia dito que não se envolveria nas eleições municipais, mas deu aval à candidatura de Russomanno. Adversários apostam, porém, que ele só aparecerá na campanha num segundo turno.

Na convenção, Russomanno prometeu que São Paulo terá "o maior e melhor" colégio militar do país e afirmou que no seu escopo estão "Deus, pátria e família", temas caros a Bolsonaro. Seu vídeo de divulgação fala em "apoio do governo federal".

"As pessoas podem falar muitas coisas do presidente Bolsonaro. E até não concordar com sua forma de administrar. Mas ninguém pode dizer que ele não tem boas intenções, que ele não é um patriota, que ele não está construindo um Brasil para todos", completou. ​

Em entrevista, Russomanno afirmou que seu alinhamento com Bolsonaro não é novidade, é algo natural e deve durar por muitos anos.

"Estaremos juntos com certeza absoluta", respondeu o candidato, sem dar detalhes de como Bolsonaro atuará na campanha.

Russomanno defendeu sua bandeira dos direitos do consumidor, afirmou querer ser um zelador da cidade e provocou o governador e ex-prefeito João Doria (PSDB), declarando que vai governar por quatro anos —o tucano só ficou um ano no cargo. "Não abandonarei São Paulo de forma nenhuma."

Ele afirmou ainda que aprendeu com as derrotas passadas. "Ao longo desses anos, eu quis ser prefeito porque eu gosto da zeladoria. Eu gosto de ir pra rua, eu gosto de fiscalizar. Eu serei o prefeito da rua."

Costa, candidato a vice, afirmou que os partidos têm uma aliança histórica, defendeu a geração de empregos e afirmou que "acredita muito no Criador".

Na segunda-feira (14), ao comentar a confirmação de Russomanno sobre a candidatura, Costa disse à Folha que seu diferencial na briga pelo voto dos bolsonaristas em São Paulo era o fato de nunca ter ocupado cargo eletivo.

"Na hora em que começar a campanha e as pessoas me virem, saberão que há uma opção para quem está cansado dos mesmos nomes e dos mesmos partidos", afirmou ele, que tem se apresentado como um representante do conservadorismo e do cristianismo.

Como a Aliança pelo Brasil não se viabilizou a tempo, os bolsonaristas ficaram sem um candidato na capital paulista. Levy Fidelix (PRTB) se apresenta como o candidato de Hamilton Mourão e quer o apoio de Bolsonaro, mas é visto como nanico.

Russomanno, conservador e membro de um partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, quer preencher esse vazio, mas também é visto com receio pelos eleitores do presidente.

O Republicanos é o partido que abriga 2 dos 3 filhos com mandato de Bolsonaro (o vereador carioca Carlos e o senador fluminense Flávio).

A parceria com o PTB repete as dobradinhas das eleições municipais de 2012 e 2016, quando Russomanno ficou fora do segundo turno.

O presidente do Republicanos, deputado federal Marcos Pereira (SP), afirmou que as derrotas não se repetirão. "Vai ser um sonho realizado desta vez. Desta vez vai ser diferente. Ele [Russomanno] está mais maduro. Nós estamos mais maduros."

Pereira exaltou a coligação com o PTB, afirmou que seu partido é conservador nos costumes e liberal na economia, além de mencionar Bolsonaro. "Vamos respeitar a posição de Bolsonaro de não se envolver nas eleições, mas, se ele pode torcer, a única candidatura que ele pode torcer em São Paulo é a de Russomanno e Marcos da Costa", disse.

Machado, deputado estadual e cacique do PTB, afirmou em nota que “essa união de forças amplia –e muito– as chances de vitória e a possibilidade de uma administração na maior cidade da América Latina alinhada com as diretrizes do presidente Bolsonaro”.

A coligação, segundo Machado, atende a orientação de Roberto Jefferson de apoio total a Bolsonaro. Um ponto que aproxima Machado dos bolsonaristas é sua oposição ferrenha a Doria.

A princípio, Russomanno negociou ser vice de Covas, mas não houve acordo. O Republicanos acabou entregando os cargos que mantinha na gestão municipal.

Para ganhar tempo em negociações com partidos, Russomanno adiou sua convenção para esta quarta, último dia permitido pela legislação eleitoral para que os partidos oficializem suas chapas.

O Palácio do Planalto, como revelou a Folha, tentou um acordo com o presidente do PSL, Luciano Bivar, para rifar a candidatura de Joice, desafeto de Bolsonaro, em São Paulo e indicar um vice a Russomanno.

A jogada, naufragada por um tuíte de Eduardo Bolsonaro que desgastou Bivar, favoreceria Russomanno. Bolsonaro espera que a vitória do aliado lhe dê uma base eleitoral na maior cidade do país na eleição de 2022.

A união entre PSDB, DEM e MDB, além de outros sete partidos incluindo alguns de sua base, em torno da candidatura à reeleição de Covas acendeu um alerta no Planalto. Se formava ali o embrião de aliança a favor da candidatura de Doria em 2022.

Joice e seus aliados, como o presidente do PSL paulista, deputado Júnior Bozzella, e o senador Major Olímpio (PSL-SP), não aceitaram abrir mão e registraram a candidatura na terça (15). Caso Bivar insistisse em derrubá-la, a questão se arrastaria em processos judiciais, perspectiva que ajudou a enterrar a tentativa.

Isso também selou a esperança, no Republicanos, de que pudesse haver um acordo espontâneo entre Joice e Russomanno, que havia ofertado à deputada sua vaga de vice. Não houve negócio.

Russomanno esteve com Bolsonaro em duas agendas privadas no Planalto e também apareceu ao lado do presidente no último dia 5, durante visita à obra da pista do aeroporto de Congonhas, na capital.

O lançamento oficial da candidatura do deputado era a única peça importante que faltava no xadrez eleitoral paulistano. Com o período de convenções encerrado, a eleição na capital terá 14 candidatos.

Russomanno lançou a pré-candidatura em 7 de agosto, após ser pressionado pelo partido. Sua candidatura era vista com ceticismo por adversários, já que ele não se engajou em eventos de pré-campanha.

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