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Contra vidraças, Russomanno adota estratégia de assumir erros em vídeos e lives

Candidato a prefeito se diz vítima de fake news e afirma que não deixará ataques sem resposta

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São Paulo

Em mais uma iniciativa que o aproxima do padrinho Jair Bolsonaro (sem partido), o candidato Celso Russomanno (Republicanos) adotou a estratégia de divulgar vídeos em redes sociais para responder a acusações e se contrapor a vidraças de sua candidatura à Prefeitura de São Paulo.

Assim como o presidente, que faz lives semanais para os seguidores, o deputado federal intensificou suas transmissões ao vivo e a postagem de vídeos. O objetivo é neutralizar pontos frágeis que o abateram nas tentativas anteriores de virar prefeito, em 2012 e 2016, além de rebater novas críticas.

Desta vez, a meta do parlamentar é contestar toda revelação problemática que surgir ou for rememorada. Em parte dos casos, ele admite erros e, com tom de voz sereno, apresenta suas justificativas. Em outras situações, diz ser vítima de fake news, repetindo uma narrativa comum a Bolsonaro.

O candidato Celso Russomanno (Republicanos) durante live na segunda-feira (28)
O candidato Celso Russomanno (Republicanos) durante live na segunda-feira (28) - Celso Russomano no YouTube

A derrota em 2012 foi atribuída à proposta de tarifa proporcional nos ônibus, o que o fez perder votos na periferia, onde os moradores seriam prejudicados com a cobrança conforme o trajeto percorrido.

Na época, adversários exploraram o tema até desidratar Russomanno, que começou as três campanhas liderando as pesquisas —ele tem hoje 29% de intenções segundo o Datafolha, à frente do candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB), com 20%.

Nos pleitos passados, o deputado e apresentador de TV já tinha tentado se desvencilhar das polêmicas, recorrendo ao que se tornaria um bordão toda vez que era questionado: "Vamos falar de São Paulo?".

Russomanno avalia que a postura anterior acabou fazendo com que informações negativas se fortalecessem e passassem a ser tratadas como verdade. A tática agora, segundo seus estrategistas, é reagir com agilidade e passar a impressão de humildade.

A lista de controvérsias que o acompanha é vasta: propostas consideradas pouco factíveis, imbróglios na Justiça, reportagens antigas na TV, suspeitas de irregularidades no mandato parlamentar e na atuação como empresário, contradições em posicionamentos e alianças políticas, entre outros aspectos.

Nesta eleição, a própria associação a Bolsonaro embute o risco de se tornar um calcanhar de aquiles, já que não está claro se o titular do Planalto pedirá voto explicitamente para o aliado nem se o apoio será necessariamente um diferencial, dada a rejeição ao presidente na capital.

Segundo o Datafolha, 46% dos moradores de São Paulo têm aversão a Bolsonaro. O instituto mostrou ainda que 64% dos entrevistados não votariam de jeito nenhum em candidato apoiado pelo presidente.

Russomanno também criou uma "vacina" para falar de Bolsonaro, de quem se diz amigo. Afirma entender quem tem restrições ao presidente por ele ser "sincero e verdadeiro", mas sustenta que ele possui boas intenções e quer o bem do país.

"Ele [Bolsonaro] tem sangue italiano. Ele explode, [mas] daqui a dois minutos já passou."

O candidato Celso Russomanno (Republicanos) visita Jair Bolsonaro no hospital de SP; presidente vestiu camisa do Ferroviário-CE
O candidato Celso Russomanno (Republicanos) visita Jair Bolsonaro no hospital de SP; presidente vestiu camisa do Ferroviário-CE - Reprodução da conta de Celso Russomanno no Instagram

Outro assunto ligado a Russomanno, que ganhou força a ponto de ser tema do primeiro compromisso externo da campanha, na terça-feira (29), é o rumor de que ele seria contra a operação da Uber e de outros aplicativos de transporte.

O candidato foi a um sindicato que reúne motoristas de aplicativos, na zona leste da capital, e procurou desfazer o mal-estar com a categoria por ter dito, em 2016, que a Uber era ilegal.

Russomanno já tinha esclarecido sua posição em uma live na segunda-feira (28). "Lá em 2016, quando a gente descobriu essa história, estavam começando os aplicativos. Ninguém sabia direito como isso ia funcionar", afirmou.

A explicação parece ter sido assimilada pelo presidente do sindicato, Leandro da Cruz, que disse após o encontro ter interesse em conversar com o postulante "independentemente se teve um vídeo lá atrás ou não". "A gente não pode ser contra uma colocação de 2016", afirmou.

Na saída da reunião na entidade, Russomanno apresentou sua principal proposta até agora, a criação de um auxílio emergencial paulistano, vista com ressalvas por adversários e especialistas em contas públicas.

A ideia do projeto foi dada pelo marqueteiro da campanha, o publicitário Elsinho Mouco, que trabalhou com o ex-presidente Michel Temer (MDB).

A Folha mostrou que o candidato dependerá de Bolsonaro para cumprir a promessa caso seja eleito, já que os recursos para bancar o benefício viriam, de acordo com Mouco, de uma renegociação da dívida do município com a União.

A decisão de se manifestar via redes sociais reforça a estratégia de exposição controlada que o líder está adotando. Na live na segunda, assessores selecionavam as perguntas de internautas que seriam lidas.

A inspiração, guardadas as devidas diferenças, é o efeito positivo que o recolhimento de Bolsonaro após a facada exerceu sobre a campanha do então presidenciável, em 2018.

Com os vídeos gravados e divulgados por ele mesmo, Russomanno tem vantagens como a de poder elaborar com antecedência o discurso, sem o risco de dar respostas intempestivas ou entrar em desentendimentos com entrevistadores, por exemplo.

Nas gravações, ele lança mão de frases como: "Eu não nego meu passado" e "Nós todos erramos, não é verdade? Eu também tenho direito de errar".

Também já disse: "Parem de procurar as coisas da minha vida para tentar desconstruir minha imagem".

Em um dos vídeos, o deputado respondeu sobre seu apoio a Dilma Rousseff (PT) na eleição de 2010. "Quantos de nós, brasileiros, votamos e acreditamos na Dilma? Acreditamos que ela podia fazer bem ao Brasil. Não foi só eu. A maioria da população brasileira acreditou", disse.

Ele também não tem se furtado a reexibir vídeos do passado que viralizaram por causa da eleição, como um em que entrevista mulheres no Carnaval nos anos 1980. A sequência mostra Russomanno comentando o corpo das entrevistadas —chega a tocar o seio de uma delas.

"Eu era solteiro. Estava gravando baile de Carnaval, tinha que brincar com as minhas entrevistadas", justificou.

A periodicidade das lives, segundo Mouco, ficará condicionada ao ritmo dos petardos. Depois da exibição ao vivo, os vídeos continuam disponíveis. "O que vier de ataque vai ter resposta em vídeo", afirma.

Na transmissão de segunda-feira, o deputado afirmou que "estão aí inventando um monte de coisas para que as pessoas fiquem com medo de votar no Celso Russomanno".

"Parece que a minha história se apaga nas eleições, que tudo o que eu faço [de bom] se apaga nas eleições. E aí começam a valer os fake news da vida, os posts que eles fazem para desconstruir a minha imagem", acrescentou.

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