Eleição em Guarulhos tem apostas para drama da água e conflito sobre obras antigas

Segunda maior cidade do estado de SP tem ex-prefeito, atual mandatário e mulher de adversário político na disputa eleitoral

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Imagem do trevo de Bonsucesso, na rodovia Presidente Dutra, em Guarulhos

Imagem do trevo de Bonsucesso, na rodovia Presidente Dutra, em Guarulhos Foto Danilo Verpa/Folhapress

São Paulo

A disputa pela Prefeitura de Guarulhos, segunda maior cidade do estado de São Paulo, com cerca de 1,4 milhão de habitantes, deve reeditar o pleito de 2016 num contexto diferente daquele que interrompeu um ciclo de 16 anos do PT na cidade.

O ex-prefeito Elói Pietá (PT), que comandou o município de 2001 a 2008, tentará impedir a reeleição de Gustavo Henric Costa (PSD). No último pleito, a rejeição ao Partido dos Trabalhadores deixou o político fora até mesmo do segundo turno.

O segundo colocado há quatro anos foi o hoje deputado federal Eli Corrêa Filho (DEM-SP), que será o cabo eleitoral da esposa, a empresária Fran Corrêa (PSDB), candidata em 2020. Estreante nas urnas, a tucana conseguiu formar o maior arco de alianças, com outras sete siglas, incluindo um vice do PDT e o apoio do PSL.

Pietá torce pela presença do ex-presidente Lula na campanha, que pode entrar em cena caso o cenário da pandemia melhore. Ao longo da gestão petista no governo federal várias obras foram realizadas na cidade, o que Pietá pretende usar como trunfo.

O escolhido ou a escolhida pela população terá pela frente desafios na área de infraestrutura e outros problemas agravados pela pandemia, como o atendimento na saúde —área que os três elencam como prioritária— e a geração de empregos.

Eleito prefeito mais jovem da cidade, aos 31 anos, Guti, como é conhecido, diz que dedicou sua gestão à “reconstrução da cidade”—algo que os adversários contestam.

Finalizou obras paradas e afirma ter equilibrado as contas públicas. Ele diz que isso dará fôlego para novas construções, caso seja reeleito. Entre suas promessas está a ampliação do número de UBSs (Unidades Básicas de Saúde).

Seu maior legado até agora é ter conseguido um acordo para resolver o problema crônico do rodízio de água.

No primeiro ano e meio de gestão, em 2017, ele afirma ter tentado um acordo com o então governador Geraldo Alckmin (PSDB) para a dívida de R$ 3,5 bilhões da empresa municipal de água com a estatal estadual Sabesp.

As tentativas fracassaram, e o caminho foi negociar um novo contrato de concessão de 40 anos com a empresa, assinado em dezembro de 2018, que tirou a dívida da conta do município.

Um ano e meio depois, o prefeito afirma que a cidade está livre do rodízio, e isso deve marcar seu discurso na busca pela reeleição. “Tínhamos 92% do território guarulhense com rodízio de água. Hoje, 100% de Guarulhos tem água todos os dias. É uma questão relevante que conseguimos resolver”, diz Guti.

Há moradores que criticam a mudança. O estudante de pedagogia Emerson Dutra, 29, diz que em Cidade Tupinambá, no bairro Pimentas, ao lado da rodovia Ayrton Senna, o fornecimento de água piorou e ficou mais caro. Ele também reclama da falta de limpeza dos bueiros, o que faz com que a cada chuva o esgoto invada a viela, onde ele mora.

Guarulhos é o quinto município entre as 100 cidades mais populosas do país que menos investe em tratamento de esgoto em termos de arrecadação, segundo levantamento do Instituto Trata Brasil, de 2018.

O presidente-executivo do instituto, Édison Carlos, diz que a cidade tem melhorado suas políticas de saneamento. Segundo o atual prefeito, o município deve fechar 2020 com 40% do esgoto tratado. Atualmente, o total é de 15%.

O historiador e contista Elton Soares de Oliveira, 59, viu a melhoria na distribuição da água no bairro do Taboão, onde vive com a família há 25 anos. Porém, diz que resta resolver os alagamentos que tomam a praça 8 de dezembro, local de entroncamento de várias vias da região, deixando os moradores presos em casa.

"Não precisa muita chuva para acontecer [alagamento]. A última vez foi agora, em junho", diz. Segundo ele, os comerciantes precisaram adicionar comportas para tentar conter as enchentes, problema que se agravou a partir da década de 1980, conforme se intensificou o processo de impermeabilização da cidade.

Senhor de óculos e cabelos brancos com os braços sobre a mesinha de uma praça, que tem no meio um tabuleiro de xadrez
Elton Soares de Oliveira, historiador e morador do bairro Taboão, afetado há anos por alagamentos em Guarulhos. A praça 8 de dezembro fica coberta pela água - Danilo Verpa/Folhapress

Até o final de 2020, a prefeitura estima concluir uma obra de drenagem no Taboão e o recapeamento de asfalto numa área de 18 mil metros quadrados para tentar resolver o problema.

A 4 km da praça 8 de dezembro, no bairro Cidade Serodio, próximo ao aeroporto de Cumbica, a auxiliar de enfermagem aposentada Aparecida Alves, 60, diz também conviver com alagamentos há duas décadas.

“Quando comprei o terreno da minha casa, não tinha enchente. Depois, fizeram muita construção, estacionamentos, e quando chove, alaga. Na minha casa já entrou água umas cinco vezes.”

Na primeira semana de setembro, o prefeito Guti afirma ter fechado o apoio da Corporação Andina de Fomento —instituição internacional multilateral de desenvolvimento da América Latina. O acordo prevê R$ 516 milhões para a macrodrenagem do rio Baquirivu-Guaçu.

De acordo com o político, as obras têm o potencial de impactar 300 mil pessoas, que “não vão ter mais suas casas invadidas pela água.”

Praça tomada pela água turva, que encobre parte de uma árvore
Alagamento na Praça 8 de Dezembro, em Guarulhos - Reprodução

Além da questão da água, outro gargalo da cidade é a mobilidade urbana. O diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Guarulhos, Maurício Colin, diz que esse é um problema que afeta o deslocamento de funcionários e a logística das empresas.

“O caos de Guarulhos se chama trevo de Bonsucesso. Há carros que ficam duas horas para rodar 1,5 quilômetro”, diz.

O trevo liga os dois bairros mais populosos do município, Pimentas e Bonsucesso, que são cortados pela rodovia Presidente Dutra. Iniciada em 2014, na gestão do petista Sebastião Almeida como extensão de um projeto do governo de Pietá, a obra ainda não foi concluída.

Emerson conta que em dias de trânsito e chuva, o trajeto de ônibus pelo local chega a levar 1 hora e meia. Em dias sem trânsito, 30 minutos.

“Como não houve obras de infraestrutura importantes nos últimos seis anos, as coisas se complicaram em todas as grandes regiões", resume o candidato petista Pietá. Ele diz ter a área como uma de suas prioridades.

Uma mulher negra usando mascara posando para foto com os braços apoiados no corrimão de uma escada. Atras dela, um canteiro verde e outras escadarias
Gisele Trevas, 41 anos, moradora do bairro do CECAP, em Guarulhos. É usuária do transporte público e reclama que linhas da EMTU que ligavam o bairro à capital foram cortadas na pandemia - Danilo Verpa/Folhapress

O transporte público é motivo de queixa dos eleitores. Moradora do Cecap, a executiva de contas Gisele Trevas, 41, classifica o serviço como péssimo, pelo intervalo entre as linhas e lotação.

Antes da pandemia, para se deslocar para a Vila Mariana (zona sul de São Paulo), onde trabalha, ela usava uma linha expressa da EMTU até o Tietê. O trajeto era mais rápido do que o pela linha da CPTM, inaugurada em 2018, que não atende aos bairros mais populosos e não para no terminal do aeroporto.

Com a pandemia, porém, três linhas que ligavam o Cecap à capital paulista foram retiradas. Após um abaixo-assinado dos moradores, apenas uma voltou, mas operando num trajeto mais longo, com veículos cheios, diz Gisele. Com isso, a guarulhense conta que tem recorrido ao aplicativo para conseguir levar os pais idosos ao médico na capital.

A candidata Fran Corrêa, do PSDB, critica a cobrança de valores diferentes de usuários do transporte com cartão (tarifa de R$ 4,45) e no dinheiro (R$ 4,70). Ela promete rever contratos das empresas.

Para Pietá, é preciso integrar o sistema local ao metropolitano e assim resolver o problema da sobreposição de linhas. “Vamos fazer um esforço para o governo do estado para mudar isso. Não tem sentido ter os dois sistemas não se conversando", diz.

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