Forte na Câmara, centrão patina no Senado como bloco de apoio a Bolsonaro

Ação em conjunto das legendas esbarra em maior independência dos parlamentares na Casa

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Brasília

Pilar de sustentação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas articulações na Câmara dos Deputados, o bloco de partidos conhecido como centrão não tem conseguido deixar sua digital nas negociações no Senado.

Embora possua menos parlamentares que a Câmara —81 contra 513, o que, em tese, poderia facilitar as negociações—, o Senado impõe aos partidos do centrão uma forma diferente de atuação em relação à Casa ao lado.

“O centrão não tem vez no Senado. Aqui temos um trato diferente”, afirma o senador Wellington Fagundes (PL-MT), que se identifica como um aliado governista.

Formado por representantes de PP, PSD, PSC, PL, PTB, Solidariedade, PROS e Avante, o centrão tem patinado na tentativa de negociar em bloco no Senado propostas em prol do governo.

Nem mesmo o presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), cobra dos senadores posicionamentos em defesa do governo, segundo relatam seus colegas de legenda. Procurado pela Folha, Nogueira não se manifestou sobre o assunto.

O senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, conversa com Bolsonaro e aliados durante pronunciamento da prorrogação do auxílio emergencial, no Palácio da Alvorada - Pedro Ladeira - 1.set.20/Folhapress

“Ele [Ciro] não tenta nem colocar a rédea no Senado. A primeira pessoa que me disse que cada um aqui é um partido foi ele. Ele [Ciro] sabe que no Senado é diferente”, diz o senador Esperidião Amin (PP-SC).

Um dos mais recentes exemplos de como o centrão não atua em bloco na Casa se deu na votação do novo CBT (Código Brasileiro de Trânsito).

Relatado por Nogueira, o projeto de iniciativa do governo sofreu alterações acatadas pelo próprio aliado, a fim de garantir que fosse votado no plenário do Senado. Com isso, a proposta teve de voltar para a Câmara, atrasando os planos do governo de implementação.

“No Senado, o poder de sedução do governo tem de ter muito mais racionalidade por causa da experiência das pessoas, como indivíduos que somos. No Senado, o nosso posicionamento pessoal tem peso”, diz Amin.

Para a senadora Kátia Abreu (PP-TO), a força dos senadores nas negociações faz com que o governo respeite a individualidade de cada parlamentar, sem que imponha um bloco político como testa de ferro nas negociações.

Kátia Abreu, por exemplo, costuma discutir projetos de interesses das suas bases políticas diretamente com os representantes do governo, sem interferência do partido. “No Senado só tem cacique, não tem índio, não. Ninguém dá satisfação, todo mundo vota do jeito que quer, de acordo com as suas convicções.”

Além da resistência dos parlamentares, o centrão enfrenta no Senado lacunas na representatividade das forças governistas. PTB e Solidariedade não têm representantes na Casa.

Já o PL, que na Câmara tem 41 deputados, no Senado tem apenas dois parlamentares. Outro exemplo é o PSC, que tem nove deputados federais e apenas um senador.

Já o PSD, que na Câmara tem 33 deputados, tem a segunda maior bancada do Senado, com 12 parlamentares. Mesmo assim, os senadores também não se consideram sob o aval das orientações do centrão. Embora vote muitas vezes alinhados, os senadores do partido não seguem o grupo de legendas.

Para o líder da legenda na Casa, Otto Alencar (BA), a palavra entre os senadores é independência. “Respeito os deputados porque eles se alinham no centrão. Eles fazem quase uma profissão de fé, mas eu jamais faria isso. Aqui [no Senado] somos independentes, não tem rédea aqui”, afirma.

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