Descrição de chapéu Eleições 2020

No topo em SP, Russomanno e Covas minimizam prejuízo com padrinhos e querem exaltar parcerias

Contra desgaste de Bolsonaro e Doria, medido pelo Datafolha, campanhas falarão de boa relação com gestão federal e estadual

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São Paulo

Para driblar o eventual prejuízo eleitoral trazido por seus padrinhos políticos, as campanhas de Celso Russomanno (Republicanos) e Bruno Covas (PSDB) pretendem mirar além das figuras de Jair Bolsonaro (sem partido) e João Doria (PSDB), enfatizando ​que, para a cidade de São Paulo, é importante ter boa relação com o governo federal e o governo estadual.

Russomanno e Covas são os dois primeiros na pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (24) sobre a disputa à Prefeitura de São Paulo —com 29% e 20%, respectivamente.

O governador João Doria (PSDB) ao lado do prefeito Bruno Covas (PSDB), na convenção tucana - Bruno Santos/Folhapress

Segundo o levantamento do instituto, 64% dos entrevistados dizem que não votariam de jeito nenhum em candidato apoiado pelo presidente Bolsonaro, enquanto 11% votariam com certeza e 23% talvez votariam em seu afilhado.

O apoio de Bolsonaro é justamente ao que se agarra Russomanno na tentativa de não repetir o desempenho de 2012 e 2016, quando largou em primeiro e terminou em terceiro.

Rival do presidente, o governador Doria tampouco é bom padrinho. Entre os entrevistados, 59% não votariam em candidato apoiado por ele, sendo que 8% votariam e 29% talvez votariam.

O resultado contradiz o discurso da campanha de Covas, de que o eleitor paulistano superou a rejeição ao governador por ele ter descumprido a promessa de ser prefeito por quatro anos após se eleger em 2016.

Entre tucanos e republicanos, porém, a postura é de minimizar os reveses trazidos pelos padrinhos e exaltar a liderança na pesquisa. Depois de Russomanno, com 29%, e Covas, com 20%, aparecem empatados em terceiro Guilherme Boulos (PSOL), com 9%, e Márcio França (PSB), com 8%.

"Recebemos com satisfação a pesquisa Datafolha. Primeiro porque Bruno parte de um excelente patamar. Segundo, porque Bruno lidera na [pesquisa] espontânea. A parceria do governador com o prefeito é valorizada pelo eleitor, e com a campanha poderemos mostrar o resultado prático em obras e realizações", afirma Wilson Pedroso, coordenador da campanha de Covas.

Entre os exemplos de articulação entre o governo do estado e a prefeitura, os tucanos listam a Operação Delegada (espécie de bico oficial de PMs), integração no transporte, obras de piscinões e obras viárias, além do financiamento de programas de saúde, assistência, trabalho e habitação.

Apesar do que indica a pesquisa, membros da equipe do prefeito afirmam que o eleitor saberá separar Doria e Covas e que a eleição municipal diz respeito somente à figura do prefeito. Covas já declarou que não irá esconder nenhum de seus apoiadores —é esperado que Doria apareça em sua propaganda na TV.

Por outro lado, aliados de Covas também pretendem controlar a exposição e a ingerência de Doria sobre a campanha.

Em geral, os tucanos seguem na linha de que a eleição paulistana não será nacionalizada e tratará apenas de problemas locais. O objetivo, na propaganda, é comparar a gestão de Covas com gestões anteriores da prefeitura.

"Recebemos com humildade o resultado do Datafolha. Mas acredito que a campanha não será federalizada. As pessoas querem saber se a rua está conservada, se a saúde está funcionando. O tema nacional não afeta", afirma Ricardo Tripoli (PSDB), secretário executivo na prefeitura.

A confirmação, no último momento das convenções, da candidatura de Russomanno apoiada por Bolsonaro, no entanto, transformou o pleito de 2020 em aquecimento para 2022.

O movimento do Palácio do Planalto veio em resposta à aliança em torno de Covas, costurada por Doria e que reúne MDB e DEM, vista como um ensaio da candidatura presidencial do governador.

(São Paulo  - SP, 05/09/2020) Presidente da República Jair Bolsonaro, durante  Visita às obras de recuperação da pista principal do Aeroporto de Congonhas. Foto: Carolina Antunes/Divulgação Presidência
Celso Russomanno (Republicanos), à dir., com Jair Bolsonaro, ao centro, em obra no aeroporto de Congonhas - Carolina Antunes/Divulgação Presidência

No entorno de Russomanno, por sua vez, o tom nacional da eleição não é rechaçado, mas prevalece o entendimento de que o apoio de Bolsonaro será, sim, benéfico, a despeito do que indicam os números da pesquisa.

O tamanho da oposição ao presidente foi considerado dentro das expectativas, e os aliados pinçam o fato de que mais de 30% dos entrevistados não o rejeitam. Ou seja, a aposta ainda é de que, com Bolsonaro, Russomanno mais ganha do que perde.

Outra questão levantada pela campanha é o fato de que não se sabe como Bolsonaro vai declarar seu apoio a Russomanno. Muitos têm a leitura de que isso só se dará no segundo turno, o que minimiza o peso do presidente.

De qualquer forma, Bolsonaro vem fazendo acenos explícitos a Russomanno, como o fato de ter compartilhado um vídeo dele no último sábado (19).

Nesta quinta-feira (24), em sua live semanal, o titular do Planalto afirmou que poderá entrar em eleições de três cidades para tentar influenciar o resultado: São Paulo, Santos e Manaus. "Eu tenho um candidato em São Paulo, mas não vou falar o nome dele", afirmou.

Para justificar Bolsonaro como padrinho, a campanha de Russomanno também traça o caminho de exaltar a necessidade de parceria entre a prefeitura e o governo federal para garantir realizações.

Russomanno já listou, por exemplo, o seu compromisso com a inauguração de um colégio militar na capital paulista —uma obra que teve o pontapé inicial dado por Bolsonaro em fevereiro passado.

"Bolsonaro não atrapalha. O apoio do presidente é muito importante, evidentemente. Mas há um trabalho em torno da cidade, dos problemas. Há um sentimento de que Russomanno pode mudar a cidade com o apoio do governo federal, um sentimento de que é a vez dele", afirma o deputado estadual Campos Machado (PTB), que cedeu Marcos da Costa (PTB) como vice na chapa.

Tendo o ex-presidente Lula (PT) como fiador, Jilmar Tatto (PT) está em situação um pouco melhor em termos de padrinho, embora pontue apenas 2% na pesquisa. O Datafolha mostra que 57% não votariam em nome indicado pelo petista, mas 20% votariam e 20% talvez votariam.

O fato de Tatto ser desconhecido para 64% dos eleitores, o que lhe dá margem para crescer, foi comemorado entre os petistas, assim como o fato de Lula ser um cabo eleitoral mais forte. Por isso, o PT adotará o discurso da nacionalização.

"Trabalhamos com propostas locais, mas não tem como não ter a dimensão nacional na campanha. Existe uma coincidência do ponto de vista econômico entre Covas, Doria e Bolsonaro. Vamos informar o eleitorado sobre quem são esses padrinhos", afirma o deputado José Américo (PT), coordenador de comunicação da campanha petista, referindo-se ao governador e ao presidente.

Para Américo, a pandemia do coronavírus e o auxílio emergencial tendem a aprofundar o desgaste de Doria e Bolsonaro até a votação, em novembro.

Na mesma linha do PT, a campanha de Guilherme Boulos (PSOL) vê impacto nacional na eleição paulistana e, embora não tenha Lula como cabo eleitoral, acaba se beneficiando do potencial de transferência de votos do ex-presidente.

“Vamos respeitar a autonomia do PT, não há atrito ou disputa, mas é conhecida a boa relação de Boulos e do PSOL com Lula. Há até uma naturalidade no eleitorado democrático e popular, inclusive da base petista, de buscar a candidatura anti-Bolsonaro mais sólida”, afirma o deputado Ivan Valente (PSOL), lembrando que figuras públicas ligadas ao PT resolveram apoiar Boulos.

Na opinião de Valente, isso ocorre porque Boulos é a candidatura de esquerda mais bem posicionada, segundo o Datafolha. O resultado foi comemorado, mas a campanha agora foca em conquistar eleitores da periferia, uma vez que a votação do PSOL é concentrada na elite econômica e de nível superior.

Márcio França também falou em não menosprezar o potencial do PT, argumentando que a sigla tem um histórico na capital e pode angariar apoios. "O PT, com Jilmar Tatto, tende a crescer. As pessoas olham a pontuação atual, mas temos que reconhecer as boas votações do partido na cidade", disse.

Para o ex-governador, que busca atrair um voto anti-Doria, a indicação de que o tucano enfrenta dificuldade para influenciar a eleição municipal —e poderia até prejudicar seu correligionário Covas— foi um sinal positivo trazido pela pesquisa, na visão de membros da campanha do PSB.

Por essa leitura, o fato de Doria estar em viés de baixa na capital fortaleceria a candidatura de França.

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