Descrição de chapéu Eleições 2020

Márcio França oficializa candidatura em SP, fala em dar exemplo e rejeita rótulo de bolsonarista

Postulante do PSB pregou diálogo entre antagonistas e declarou guerra ao PSDB, do qual foi aliado

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São Paulo

O ex-governador Márcio França (PSB) confirmou sua candidatura à Prefeitura de São Paulo nesta sexta-feira (11) com um discurso em que refutou as associações de seu nome ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e se apresentou como um postulante que pode construir pontes em meio à polarização.

Ex-aliado do PSDB —ele foi vice do tucano Geraldo Alckmin e assumiu o governo paulista por nove meses em 2018, após Alckmin renunciar para disputar o Planalto—, França declarou guerra ao candidato à reeleição e favorito da disputa, Bruno Covas (PSDB), apoiado pelo governador João Doria (PSDB).

Sem mencionar explicitamente Bolsonaro, o ex-governador reiterou ser um político de convicções fortes e buscou afastar a possibilidade de pegar carona na popularidade do presidente para se crescer na disputa, a exemplo do que fez Doria dois anos atrás, com o voto "BolsoDoria".

"Não há hipótese de me fazerem pular para algum lugar que eu não acredite. Se eu não acreditar, eu não vou", afirmou.

O ex-governador Márcio França oficializa sua candidatura a prefeito de São Paulo pelo PSB na eleição municipal de 2020, na convenção do PSB, na Câmara Municipal de São Paulo.
O ex-governador Márcio França oficializa sua candidatura a prefeito de São Paulo pelo PSB, durante a convenção do PSB, na Câmara Municipal - Joyce Cury/Divulgação

"Se eu ganhar aqui, nós vamos lá falar com ele [Doria], de prefeito para governador. Prefeito não é menos que governador nem que presidente da República. E o Bolsonaro é o presidente da República. Nós vamos falar com ele. Não há problema", disse.

"Aqui, em São Paulo, nenhum dos dois manda. Aqui em São Paulo, quem manda é o povo de São Paulo."

A fala, durante a convenção do PSB, realizada na Câmara Municipal, reforça declarações recentes em que tentou afastar os rumores de seu alinhamento a Bolsonaro, que ganharam peso depois que França se encontrou com o presidente durante um evento no mês passado.

Como mostrou a Folha, França, que foi tachado de comunista na disputa pelo governo estadual com Doria em 2018, tem mantido uma postura ambígua em relação ao governo federal, evitando críticas diretas e preferindo atacar as gestões do PSDB no estado.

Sua campanha, que tem como principal partido aliado o PDT do ex-presidenciável Ciro Gomes, notório detrator de Bolsonaro, iniciou uma ofensiva para combater a tese.

Diante das críticas na esquerda, o ex-governador tem respondido que preza o diálogo e conversa com quem for preciso, independentemente de partido. Ele frisa, contudo, que possui diferenças ideológicas com Bolsonaro e não tem proximidade com o titular do Planalto.

Nesta sexta, pregando respeito entre os diferentes, França afirmou que sua vitória pode servir de exemplo para o país, em um momento de divisões. "Se nós tivermos a chance de poder fazer esse movimento em São Paulo, certamente a gente ajuda a mudar o Brasil. A gente vai mostrar que é possível conviverem [governantes] completamente antagônicos. Não há problema nenhum", disse.

Filho do candidato, o deputado estadual Caio França (PSB) endossou ao microfone a retórica do pai. "Nem Márcio Cuba [apelido dado por Doria] nem Márcio Bolsonaro. Não é um nem outro. É Márcio França", disse, responsabilizando indiretamente o PSDB pela campanha contra o ex-governador.

"Eles [tucanos] morrem de medo de enfrentar a gente no segundo turno. Eles vão fugir o tempo todos nos debates. Vão querer enfrentar o [Guilherme] Boulos [PSOL], o [Jilmar] Tatto [PT], para não ter que nos enfrentar", afirmou o parlamentar.

O presidente Jair Bolsonaro e o ex-governador Márcio França, pré-candidato a prefeito de São Paulo, durante encontro em São Vicente (SP).
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) cumprimenta o pré-candidato a prefeito de São Paulo Márcio França (PSB), durante evento em São Vicente (SP) - Reprodução

França acredita que pode receber o voto de apoiadores de Bolsonaro em um segundo turno contra Covas. A aposta é que bolsonaristas vão preferir votar no PSB a apoiar o correligionário de Doria. O governador é visto como adversário do presidente por causa de sua pretensão de concorrer ao Planalto em 2022.

Por esse raciocínio, França seria novamente beneficiado com o voto anti-Doria, que o favoreceu na eleição pelo governo do estado em 2018. Na capital paulista, ele ganhou do rival, por 58% a 42%. O tucano, entretanto, conquistou a vitória empurrado pelos votos do interior do estado.

França também recebeu no segundo turno o apoio de uma ala do PSL (à época, partido do presidente) ligada ao senador Major Olímpio (SP) e de outros líderes declaradamente bolsonaristas. Correligionários chegaram a espalhar adesivos com o mote "BolsoFrança" e fotos de ambos.

Nesta sexta, o postulante do PSB reconheceu que terá trabalho para vencer Covas, que herdou a cadeira com a renúncia de Doria em 2018 para tentar o governo. Por ironia, a ascensão de Doria teve o dedo de França, que, à época aliado do PSDB, costurou acordos da candidatura tucana em 2016.

"Vamos ter muito trabalho. Eles não são crianças", disse na convenção. "É claro que não vão eles próprios falarem. Vão botar algumas línguas de aluguel, aqueles bonecos de ventríloquo. Também não sou tatu, sei como eles fazem. Eles vão ajudar alguns candidatos, que vão fazer o papel de brigar com a gente."

O ex-governador então citou o ataque a ele feito pela candidata Joice Hasselmann (PSL), na semana passada. O PSB foi à Justiça contra um vídeo postado pela deputada federal em que ela chama França de gângster e diz que ele pretende roubar caso se eleja. O juiz do caso mandou Joice apagar o post.

"Do nada não foi, né? Ela está sob a orientação espiritual de alguma coisa ali passando perto do Morumbi", comentou França, em alusão ao bairro onde fica o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.

Em outro momento, o ex-governador deixou claro que sua briga é com o PSDB e que pretende romper o ciclo de administrações tucanas no estado e na prefeitura. "Eles farão de tudo, tudo o que você pensar. E nós estamos preparados para isso."

"Só há uma disputa aqui: é nós contra eles. O resto é tudo pinto, como a gente fala, é tudo pato. E eles [tucanos] vão tentar fugir, [mas] a gente tem que respeitar todo o mundo", completou, afirmando ter tido bom relacionamento com o ex-governador Mário Covas e se dar bem com seu neto e agora oponente.

O candidato distribuiu críticas à atuação de Covas e Doria na pandemia do novo coronavírus. Disse que foi caracterizada por "bateção de cabeça" e que os dois gestores "erraram em quase tudo".

Deu também uma alfinetada no governo federal, ao mencionar a inflação dos alimentos, crise que tem sido debitada na conta de Bolsonaro. "E, além de tudo, vai o arroz a R$ 40. Daqui a pouco você vai ter que trabalhar o mês todo para comprar um saco de arroz", disse.

França exaltou ainda a adesão à sua coligação do Solidariedade, partido que cogitou apoiar a candidatura de Bruno Covas. A aliança, anunciada nesta quinta-feira (10), se deu após o desentendimento da cúpula do partido com a ex-prefeita e ex-senadora Marta Suplicy, que se filiou à sigla no início do ano.

Marta queria que a legenda presidida nacionalmente pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SP), endossasse o nome do PSDB. Ela chegou a ser cotada para a vaga de vice, mas, diante da recusa dos tucanos em aceitá-la na posição, o Solidariedade decidiu interromper a negociação.

A ex-petista anunciou o apoio a Covas a contragosto da legenda, da qual deve se desfiliar nos próximos dias. O atual prefeito convidou Marta para coordenar uma frente suprapartidária que fará parte de sua campanha, atraindo nomes que não são filiados a partidos e apoiam sua reeleição.

Além do Solidariedade e do PDT, a coalizão de França conta com o PMN e o Avante. Pelos cálculos da campanha, o ex-governador deverá contar com a metade do tempo de propaganda na TV e no rádio que Covas terá. O candidato do PSDB reúne, até agora, outras nove siglas —a maior coligação deste pleito.

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