Descrição de chapéu Eleições 2020

Para evitar nova derrota, Russomanno se diz mais maduro e tem Bolsonaro como incógnita

Candidato do Republicanos não quer usar fundo eleitoral e evita responder sobre apoio do presidente

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São Paulo

“Eu continuo sendo o mesmo Celso, só que agora mais maduro, experiente, preparado”, narra Celso Russomanno, o candidato do Republicanos à Prefeitura de São Paulo, em seu vídeo de lançamento de campanha.

Anunciando ter o apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Russomanno chega à sua terceira campanha municipal seguida sendo cobrado por aliados a entender seus erros de 2012 e 2016 para não repeti-los.

Também pesa sobre ele a obrigação de afastar a imagem de “cavalo paraguaio”, aquele que sempre sai na dianteira, mas perde no fim.

Celso Russomanno às vésperas da eleição municipal de 2016, na qual ficou em terceiro lugar
Celso Russomanno às vésperas da eleição municipal de 2016, na qual ficou em terceiro lugar - Eduardo Knapp - 28.set.2016/Folhapress

O deputado federal e apresentador da TV Record, que fez fama em programas voltados para a defesa do consumidor, largou na frente nas últimas campanhas, mas tropeçou ladeira abaixo rumo ao terceiro lugar.

“Creio que a experiência das outras eleições, os erros das outras eleições, só podem fazer a gente acertar nesta eleição”, disse em sua convenção.

Se no passado teve uma campanha vista como frágil e amadora, com um programa de governo sem credibilidade, e foi considerado um candidato sem propostas, agora Russomanno se apresenta como alguém que evoluiu.

Questionado sobre eleições anteriores, responde que propostas suas, como ônibus com ar-condicionado, foram implementadas. O postulante tem repetido o discurso de que sonha em administrar São Paulo, cidade que prega conhecer como ninguém pelos anos de reportagem.

Seus aliados não querem que ele repita falhas como chegar atrasado a compromissos ou surpreender a equipe com declarações não combinadas.

Até o momento, a avaliação em seu entorno é a de que há acertos, como a defesa de propostas (colégios militares) e valores (Deus, pátria e família) associados a Bolsonaro. Na convenção, Russomanno ainda fez ataques aos ex-prefeitos Fernando Haddad (PT) e João Doria (PSDB).

Entre seus aliados, o clima é de “agora vai”. Eles entendem que Russomanno não é mais “mãe de primeira viagem” e vai saber lidar com acusações, ataques e propostas que lhe derrubaram das últimas vezes. Além disso, dizem membros do partido, o Republicanos tem equipe e estrutura mais robustas.

Boa parte do otimismo pode ser creditada ao fator Bolsonaro, mas a efetiva participação do presidente na campanha e o suposto benefício eleitoral ainda são algumas incógnitas.

Questionado sobre como o presidente vai apoiá-lo, se em vídeos e eventos ou apenas nos bastidores, Russomanno desconversa. “Estaremos juntos com certeza absoluta”, diz. O candidato afirma ser natural essa aproximação, pelos anos de amizade na Câmara dos Deputados e pelos valores compartilhados.

A atuação de Bolsonaro é uma entre muitas estratégias que a campanha definirá nos próximos dias. Sem uma pré-campanha ativa e com um vice arranjado meia hora antes da convenção, na última quarta (16), a equipe de Russomanno ainda será organizada.

Marcos Alcântara, presidente municipal do Republicanos, deve coordenar o time. É provável que o marqueteiro seja escolhido entre os publicitários que já servem ao partido.

No momento, o assunto discutido entre os caciques da legenda é o fato de que Russomanno impôs como condição não usar o fundo eleitoral. Desde as primeiras conversas sobre sua candidatura, o deputado rechaçou o uso do dinheiro público para campanha, especialmente num momento de pandemia.

Sua propaganda no pleito de 2016 já ressaltava essa posição. Mas, na época, a campanha custou R$ 6,27 milhões, sendo R$ 6 milhões de verba pública do fundo partidário (o fundo eleitoral foi criado só em 2017).

Membros do Republicanos tentam demovê-lo da ideia de não usar o recurso disponível, sobretudo com o argumento de que a chapa de candidatos a vereador depende desse dinheiro.

Na pré-campanha, Russomanno se manteve afastado da mídia e de agendas eleitorais, enquanto buscava acertos com outros partidos e coligações —sobretudo com o PSDB do prefeito Bruno Covas, de quem poderia ser vice. Sua candidatura era tida como incerta por adversários.

Russomanno só topou a parada após três encontros com Bolsonaro —em um deles foi fotografado ao lado do presidente em visita a uma obra no aeroporto de Congonhas— e o compromisso do titular do Planalto em apoiá-lo.

O movimento de Bolsonaro veio em resposta à aliança de 11 partidos construída pelo governador Doria em torno de Covas. A coligação tem ares de base de apoio ao tucano para a eleição presidencial de 2022.

Com a ação tucana e a reação palaciana, a eleição de São Paulo foi nacionalizada e se transformou em uma espécie de prévia entre Doria e Bolsonaro.

A esquerda também busca sua trincheira paulistana para as eleições presidenciais, com Márcio França (PSB), Guilherme Boulos (PSOL), Jilmar Tatto (PT) e Orlando Silva (PC do B).

Se a presença de Bolsonaro no palanque (ainda que virtual) é dúvida, sua atuação em costuras pró-Russomanno é evidente.

O Palácio do Planalto acabou falhando na tentativa de derrubar a candidatura de Joice Hasselmann e trazer o PSL para a coligação, mas foi um telefonema do presidente que levou os caciques do PTB, Roberto Jefferson e Campos Machado, a cederem Marcos da Costa (PTB), cuja candidatura estava oficializada, para se tornar vice.

A princípio, Russomanno resistiu à candidatura e apontou que sua família era contra mais uma empreitada no vale-tudo da política. O candidato tem a visão de que governar implica virar alvo de investigações. Para ele, mesmo a etapa anterior, a campanha, é fonte de problemas variados.

O deputado acabou sendo lançado pré-candidato sob pressão do partido, em uma live em 7 de agosto durante a qual seu constrangimento era nítido. A convenção foi marcada para o último dia possível permitido pela legislação para dar tempo a negociações.

A reclusão da pré-campanha segue mantida, com entrevistas limitadas e perguntas filtradas pela assessoria. Russomanno e dirigentes do Republicanos não atenderam a Folha para esta reportagem. Um vereador declinou do pedido de entrevista alegando orientação do partido.

A ida do postulante aos debates de TV ainda está sob análise. Antes da confirmação da candidatura, circulou o rumor de que ele se recusaria a ir aos confrontos para ficar menos exposto a crises. Uma opção analisada pelos estrategistas é filtrar os convites e comparecer só aos principais eventos.

A blindagem, adotada também em 2016, se explica pelas falhas passadas. Em 2012, a proposta da tarifa de ônibus proporcional ao trajeto, lida como “periferia paga mais e centro paga menos”, foi a razão de sua ruína.

Houve ainda a associação com a Igreja Universal do Reino de Deus, que é ligada ao Republicanos, e o bordão “vamos falar de São Paulo?”, usado para confrontar jornalistas que lhe perguntassem sobre acusações incômodas.

Em 2016, nova enxurrada de fragilidades exploradas por adversários, como ex-funcionários de um restaurante do qual era sócio reclamando direitos trabalhistas, falas contra a Uber e a afirmação de que sua campanha “naufragaria” se dissesse o que pensava sobre a reforma trabalhista.

Russomanno atribuiu as derrotas ao pouco tempo de TV e ao bombardeio de ataques de adversários.

Com 2% do PTB, a estimativa é que Russomanno chegue a quase 8% do tempo de TV desta vez. A demora em se colocar na campanha afastou a chance de coligações mais vantajosas e quase obrigou a formação de chapa pura.

Quatro anos atrás, também houve dificuldade em alianças. O candidato iniciou a campanha ameaçado por uma denúncia de peculato a ser julgada no Supremo Tribunal Federal —a condenação como ficha-suja o tiraria das urnas.

A suspeita de que uma funcionária paga pela Câmara realizava atividades pessoais dele afugentou parcerias com partidos e prejudicou o tempo de TV. Russomanno acabou absolvido por três votos a dois e pôde registrar a candidatura.

“O trem da história parou na nossa estação. Não podemos perder outra eleição. Nós perdemos por causa do ‘já ganhamos’”, afirma o deputado estadual Campos Machado, presidente estadual do PTB, partido que ocupa a vice de Russomanno agora e esteve no posto nas eleições passadas.

Assim como Machado, o deputado estadual Wellington Moura (Republicanos) vê seu partido mais animado e propenso a enterrar os erros, além de contar com um apoio visível de Bolsonaro. “Russomanno aprendeu muito”, diz.

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