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Eleições 2020 datafolha

A 20 dias das eleições, pesquisas apontam tendências que podem se intensificar

Russomanno revive desidratação de anos anteriores em SP; no Rio, delegada Martha Rocha oscila positivamente em estratos importantes do eleitorado

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Alessandro Janoni

Diretor de Pesquisas do Datafolha

Segundo o histórico de eleições anteriores, as pesquisas realizadas a 20 dias do pleito podem captar movimentos que se intensificam ao longo do processo e que eventualmente perduram até o dia da votação.

Com quase duas semanas de propaganda no rádio e na TV, os eleitores, de um modo geral, passam a conhecer mais os candidatos e a identificarem em suas propostas pontos em comum com demandas do dia a dia.

Em São Paulo, por exemplo, Celso Russomanno (Republicanos) apresenta uma espécie de “loop temporal” e revive a desidratação de sua candidatura a exemplo de eleições anteriores.

Em 2016, neste mesmo período, ele caía cinco pontos percentuais, enquanto João Doria (PSDB) crescia na preferência do eleitorado.

Em 2012, a 20 dias da eleição, o deputado apresentava oscilação negativa de três pontos, enquanto Fernando Haddad (PT) colhia a então popularidade de seu partido.

Agora, por enquanto, os pontos perdidos pelo líder não têm um receptor bem definido. A migração não é homogênea nem direcionada a um único candidato.

No que mais oscila positivamente, Jilmar Tatto (PT), ela se dá muito concentrada entre os simpatizantes do PT (16% dos paulistanos), segmento onde Russomanno liderava e onde hoje cai 18 pontos.

Tatto alcança apenas 4% das intenções de voto e continua desconhecido por metade do eleitorado.

Mesmo entre os que se dizem petistas, ele fica numericamente atrás de Guilherme Boulos (PSOL) e empata com Russomanno. É interessante notar que até o prefeito Bruno Covas (PSDB) tem bom desempenho no segmento.

Aliás, a queda na rejeição ao tucano e sua liderança numérica se explica pela eficácia da comunicação nas propagandas eleitorais.

Covas tem divulgado não só as ações da prefeitura durante a pandemia, como focado em valores caros aos eleitores —a inspiração no avô, Mario Covas (família), a proposta de retomada com segurança (trabalho), a entrega de hospitais (saúde) e principalmente a construção de novos CEUs (educação), marca da gestão Marta Suplicy e que historicamente tem alta correlação com votos à esquerda nos bairros periféricos.

Para ilustrar como se pulverizam os pontos perdidos por Russomanno, Boulos, por sua campanha em redes sociais, parece herdar a maior parte dos nativos digitais, jovens de 16 a 24 anos, antes seduzidos pela “patrulha do consumidor” do deputado.

Com o crescimento entre eleitores de baixa renda e entre os de escolaridade média nesta pesquisa, o candidato do PSOL agrega cinco pontos de evolução no total, no último mês.

Márcio França (PSB) rouba de Russomanno parcela dos que têm renda familiar entre dois e cinco salários mínimos. Já Covas fica com a maior parte dos pontos perdidos pelo deputado entre os católicos.

Fora a reprovação da maioria dos paulistanos a Jair Bolsonaro (sem partido) como cabo eleitoral, o apoio do presidente parece carregar viés religioso e pode prejudicar Russomanno junto a boa parte dos 43% de paulistanos que se dizem católicos —o candidato a prefeito perdeu 10 pontos percentuais no estrato.

No Rio de Janeiro, a fidelidade dos evangélicos é o que garante a manutenção do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) em empate no segundo lugar, mesmo com a oscilação positiva de Marta Rocha (PDT).

A campanha do prefeito na TV, que carrega marcadores de culto gospel, arrisca pregar para convertidos. Mas, mesmo entre os evangélicos há dissidentes —entre os pentecostais, Crivella tem metade das intenções de voto das verificadas entre os neopentecostais, ramo à qual sua igreja pertence.

Já a deputada estadual do PDT tem oscilação positiva em estratos com participação forte no eleitorado, especialmente os que têm renda de até dois salários mínimos. A “empatia” que a delegada sugere junto ao segmento está na ênfase da campanha em sua origem no bairro da Penha e no resgate dos CIEPs, associados ao brizolismo.

A oscilação negativa do líder Eduardo Paes (DEM) se dá principalmente entre os homens e mais jovens, que, em boa parte, migram para Crivella em função do apoio de Bolsonaro, maior no segmento masculino, e pela presença do prefeito nas redes sociais, reduto dos que têm de 16 a 24 anos.

No Recife, outra delegada, a novata Patrícia Domingos (Podemos), apresenta crescimento mais expressivo do que sua colega de profissão carioca e embaralha a disputa pelo segundo lugar na capital pernambucana. Patrícia cresce em praticamente todos os segmentos sociais com a bandeira do combate à corrupção e na oposição aos governos locais do PSB.

Disputa a segunda colocação com o ex-ministro Mendonça Filho (DEM) e com Marília Arraes (PT), que apesar de ter recebido a declaração pública de apoio do ex-presidente Lula nos programas de TV, ainda não conseguiu anular o apoio de 33% dos simpatizantes do seu partido a João Campos (PSB), seu primo, que lidera a disputa com vantagem de 13 pontos percentuais.

João emula a força política da família Arraes —apesar de muito jovem, seu crescimento é alavancado não só pelos que têm de 16 a 24 anos como também pelos com 45 anos ou mais, assim como pelas mulheres e pelos que aprovam as gestões do PSB.

Em Belo Horizonte, o empate na segunda colocação nada significa.

O prefeito Alexandre Kalil (PSD) abre vantagem de 53 pontos para os adversários na disputa pela reeleição e, caso algo muito grave não aconteça, pode ser reeleito em primeiro turno, com quase 70% dos votos válidos, se a eleição fosse hoje.

Nas repostas espontâneas, o atual prefeito é citado por metade dos moradores da capital mineira.

Daqui para frente, no geral, os resultados das pesquisas eleitorais podem determinar mudanças de estratégias das campanhas e os próximos números devem refletir o fenômeno, num processo contínuo que se retroalimenta até o dia da eleição.​

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