Descrição de chapéu Eleições 2020 STF

Acusados por fake news, candidatos tentam sorte nas urnas e dizem que exposição ajuda

Apoiadores de Bolsonaro, ao menos 4 alvos de ações contra desinformação disputam eleição municipal

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São Paulo

Acusados de integrar a máquina do governo federal de espalhar fake news e fazer discurso do ódio contra adversários do presidente Jair Bolsonaro, candidatos na eleição municipal afirmam que a exposição causou contratempos, mas também ajuda na campanha.

Agentes da Polícia Federal durante ação relacionada ao inquérito das fake news, aberto pelo Supremo Tribunal Federal, em Brasília - Pedro Ladeira - 16.jun.2020/Folhapress

Ao menos quatro alvos de ações contra desinformação tentam a sorte nas urnas, sendo dois disputando mandatos de vereador e dois de prefeito. Todos pertencem ao PRTB, partido do vice-presidente, Hamilton Mourão, que tem se notabilizado por abrigar ativistas de direita.

Em São Bernardo do Campo (SP), Paulo Eduardo Lopes, conhecido como Paulo Chuchu, busca vaga na Câmara Municipal. Ele era assessor parlamentar do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) até o início da campanha, embora continue se apresentando dessa forma em vídeos nas redes sociais.

Em julho, Chuchu foi apontado pelo Facebook como parte de uma rede de desinformação bolsonarista. Um site registrado por ele, o Brazilian Post, teve suas páginas removidas pela rede social e pelo Instagram. Nelas, o assessor atacava rivais do presidente e a imprensa.

Em sua campanha, Chuchu usa a proximidade com Jair e Eduardo Bolsonaro como principal trunfo. “A gente vem aqui pedir para que você também confie no Paulo Chuchu, que é policial civil, é meu assessor e é também candidato a vereador aqui em São Bernardo do Campo. Vamos provar que aqui não é o berço do Lula e é terra de gente trabalhadora”, diz o filho do presidente num vídeo ao lado do candidato.

Procurado, Chuchu não respondeu ao pedido de entrevista. Em suas redes, ele defende valores conservadores e tem especial apreço por armas. Um vídeo mostra um entregador chegando com uma encomenda em sua casa: um fuzil dentro da caixa, que ele abre como se fosse um brinquedo.

“Nossa campanha tende a ser uma das mais baratas da cidade, buscaremos o voto de forma sincera e limpa! Obrigado pela confiança, Eduardo Bolsonaro e Jair Messias Bolsonaro, nunca irei desapontar vocês”, diz ele ao pedir voto.

Embora Chuchu seja crítico de João Doria (PSDB), seu partido está na mesma coligação do atual prefeito da cidade, Orlando Morando (PSDB), aliado do governador.

Em Sinop (MT), uma das capitais brasileiros do agronegócio, o ativista Marcelo Stachin concorre a prefeito. Ele se notabilizou ao acampar em Brasília em defesa de Bolsonaro e por vídeos que publicou atacando o Supremo Tribunal Federal.

Em maio, foi alvo de busca e apreensão no inquérito das fake news no STF. Depois, teve seus perfis em redes sociais suspensos pelo ministro Alexandre de Moraes.

“É uma mordaça que foi colocada na boca de algumas pessoas, inclusive a minha, e que amanhã pode estar na boca de outras, inclusive na sua [repórter da Folha]”, afirma.

Stachin diz que foi alvo apenas por expressar valores conservadores. Afirma que a “censura” a suas redes atrapalha na divulgação de suas propostas. “Eu não uso fundo eleitoral, não tenho tempo de TV e rádio, não sou chamado para debates. Só tenho redes sociais. Por mais que eu tenha propostas boas, as pessoas precisam saber”, afirma.

Em compensação, afirma, o fato de ter sido alvo do STF aumentou seu cacife entre parte do eleitorado. “As pessoas vêm falar comigo, dizem que isso mostra que eu sou uma nova opção de verdade, que não sou político, que sou diferente de todos os outros”.

Em seu programa de governo, ele tem propostas conservadoras, como a criação de escolas cívico-militares, mas também faz acenos mais ao centro. Afirma, por exemplo, que cultura é um “vetor de inclusão social” e promete uma gestão sustentável.

Também usa uma citação do líder pacifista indiano Gandhi no início do documento: “Seja a mudança que você quer ver no mundo”. “Serei prefeito para todos, inclusive para pessoas que não pensam como eu”, diz.

Outros dois alvos do inquérito do STF concorrem no estado de São Paulo. Na capital, Edson Salomão disputa um mandato de vereador.

Chefe de gabinete do deputado estadual Douglas Garcia (PTB) e presidente do Movimento Conservador, ele sofreu mandados de busca e apreensão duas vezes: em dezembro de 2019 e em maio deste ano.

Foram apreendidos um laptop, cinco pen drives, dois celulares e dois HDs. Suas contas no Twitter e Facebook foram tiradas do ar.

“Tirando todo o desgaste emocional, porque você é exposto, envolve a família, acabou gerando até uma exposição positiva”, declara.

Em seu Twitter, relata Salomão, ele tinha 7.000 seguidores antes da primeira ação da PF. “Logo em seguida, foi para mais de 90 mil”, diz. Ao ter sua conta desativada, ele criou outra, que já tem mais de 54 mil seguidores.

Há algumas semanas, afirma o candidato, ele recebeu a notícia de que seu nome foi retirado do inquérito e que os equipamentos apreendidos foram liberados, embora ele ainda não os tenha ido buscar. As contas permanecem suspensas, no entanto.

“Ele [Moraes] determinou a quebra de meus sigilos bancário e telefônico, vasculharam e não encontraram nada. Já houve pessoas durante a campanha que comentaram que eu recebi um atestado de honestidade”, declara.

Segundo Salomão, sua campanha prioriza propostas para a cidade, que incluem dar espaço para as famílias na educação dos filhos e combater a doutrinação ideológica nas escolas.

A repercussão que o caso adquiriu, diz o candidato, não é algo que ele ache ruim.

“Não estou usando esse assunto como arma de campanha. Mas sempre tem o pessoal que comenta...”, afirma.

Também vinculado ao gabinete de Garcia e alvo do inquérito do STF, Rodrigo Ribeiro disputa a Prefeitura de Araraquara (SP).

“Esse inquérito não tem nenhum fundamento. A Constituição permite a liberdade da expressão”, diz.

Segundo Ribeiro, grande parte da população da cidade se solidarizou com ele nesse. “As pessoas sabem que houve uma certa injustiça. Eu tenho uma postura gentil, sempre tive muito cuidado de não difundir ataques”, diz.

Da mesma forma que os outros alvos, Ribeiro sofreu busca e apreensão e teve perfis tirados do ar. Diz que até um computador de sua irmã foi levado pela PF.

Ele aposta na “maioria conservadora” da cidade para crescer durante a campanha. E afirma que as pessoas estão mais preocupadas com temas de seu cotidiano, como os serviços públicos e suspeitas de desvios de recursos por parte da atual administração, do que com o tema das fake news. “Corrupção incomoda mais as pessoas do que opinião”, diz.

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