Após cobranças, governadora de SC agora se posiciona e diz ser contra o nazismo

Daniela Reinehr não havia especificado quais direitos e liberdades defende e qual regime repudia

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Porto Alegre

Após ser cobrada a se pronunciar sobre o nazismo, a governadora interina de Santa Catarina, Daniela Reinehr (sem partido), se posicionou sobre o tema.

"Antes de mais nada é preciso declarar que sou contrária ao nazismo”, disse em nota divulgada nesta quinta-feira (29). “Sou amiga de Israel e dos judeus, e qualquer ilação contrária não corresponde com a verdade."

A afirmação ocorreu depois que a Confederação Israelita do Brasil (Conib) e a Associação Israelita Catarinense (AIC) cobraram que Reinehr repudiasse explicitamente o regime responsável pela morte de mais de 6 milhões de judeus e outras minorias durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

“É importante que ela se pronuncie sobre o assunto e demonstre de forma inequívoca sua rejeição às ideias que levaram ao extermínio de 6 milhões de judeus inocentes”, diz a nota assinada por Fernando Lottenberg, presidente da Conib, e Sergio Iokilevitc, presidente da AIC.

Mulher loira de cabelo comprido e blusa preta sorri
Daniela Reinehr (sem partido), que assumiu como governadora interina de Santa Catarina após afastamento de Carlos Moisés (PSL) - Julio Cavalheiro/Secretaria de Comunicação

Na última terça-feira (27), Reinehr não especificou quais direitos e liberdades defende e qual regime repudia. Ela foi questionada sobre o tema pelo repórter Fábio Bispo, do site The Intercept Brasil.

Reinehr já havia sido questionada pela Folha, por meio de sua assessoria, sobre sua opinião sobre o nazismo, mas ela não respondeu.

A reportagem tentou esclarecer se ela rejeita as ideias do pai, Altair Reinehr, que é professor de história. Ele já escreveu textos em que relativiza medidas do nazismo.

Uma fotografia dele, em frente à casa onde nasceu Adolf Hitler, em Braunau am Inn, na Áustria, ilustrou um texto no qual Altair reclama de que “nem é permitido lembrar obras reconhecidamente positivas” de Hitler, citando como exemplo as rodovias construídas pelo regime nazista e os supostos 90% de aprovação popular de que o ditador gozaria.

No texto, o pai da governadora interina afirma ainda que, em Braunau, Hitler, “após uma infância bastante infeliz, teve uma adolescência e juventude marcada por enormes dificuldades, sacrifícios de toda a ordem e notadamente incompreensões”.

Além disso, sem citar o genocídio dos judeus, afirma que o nazista, “num curto espaço de tempo, acabou com o problema do desemprego de 6 a 7 milhões de pessoas, revitalizou a indústria, moralizou os serviços públicos e transformou a Alemanha num canteiro de obras”.

O pai de Reinehr também testemunhou favoravelmente a Siegfried Ellwanger Castan, condenado por racismo por publicar livros antissemitas.

“Antes de mais nada é preciso declarar que sou contrária ao nazismo, assim como sou contrária a qualquer regime, sistema, conduta ou posicionamento que vá contra os direitos individuais, garantias de segurança ou contra a vida das pessoas, e sinceramente, pensei ter deixado isso claro quando fui questionada durante entrevista coletiva concedida na terça-feira (27/10), independente das palavras usadas”, afirmou a governadora interina na nota.

Ela disse ainda que entende a reação das pessoas “ante o posicionamento que me imputaram, e principalmente porque isso aconteceu de forma injusta, a partir de uma atitude antiética, que apresentou um vídeo editado, com uma pergunta alterada”.

Vídeo publicado pela Folha mostra a pergunta e a resposta completas.

Ela assumiu o cargo após o governador Carlos Moisés (PSL) ser afastado temporariamente enquanto seu processo de impeachment é julgado. Se o placar da votação da denúncia se repetir no Tribunal Especial, Moisés pode ser absolvido e voltar ao cargo. A denúncia contra Reinehr foi arquivada.

Bolsonarista, Reinehr anunciou que deixaria o PSL logo após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) abandonar a sigla para fundar a Aliança pelo Brasil. Ela permanece sem partido, enquanto a Aliança não sai do papel.

O partido que Bolsonaro tenta fundar adotou o mesmo lema do integralismo, movimento fascista criado no Brasil na década de 1930.

“Deus, Pátria e Família”, lema que chegou a ser usado pela Aliança, de Bolsonaro, foi originalmente usado pela Ação Integralista Brasileira (AIB), movimento fascista e anticomunista fundado por Plínio Salgado em 1932, em São Paulo, que atraiu milhares de simpatizantes em todo o país. Uma coleção de itens integralistas é conservada no Rio Grande do Sul.

Em 1945, a FEB (Força Expedicionária Brasileira) —uma força especial, extinta após a Segunda Guerra— derrotou os nazistas na batalha de Monte Castello, na Itália. Soldados brasileiros chegaram a ser torturados pelas tropas de Hitler, e enfermeiras foram pioneiras na participação feminina no combate ao nazismo.

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