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Campanha de Russomanno mira vice de Covas e diz que ele deverá assumir se tucano vencer

Ideia é mostrar que isso é comum em SP; candidato do Republicanos ainda trouxe o câncer à tona

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São Paulo

Seguindo a estratégia de mirar no prefeito Bruno Covas (PSDB) para tentar garantir lugar no segundo turno, a campanha de Celso Russomanno (Republicanos) passou a atacar o candidato a vice do tucano, o vereador Ricardo Nunes (MDB).

Aliados de Russomanno vão propagar o discurso de que, em São Paulo, é bastante possível que um vice venha a assumir a cadeira, como já aconteceu com o próprio Covas, quando João Doria (PSDB) se candidatou a governador, e com Gilberto Kassab (PSD), que assumiu o posto de José Serra (PSDB) em 2006 e foi eleito para mais um mandato em 2008.

Com isso, além do embate Russomanno contra "Bruno-Doria", que vem sendo explorado pela propaganda do candidato do Republicanos, querem forçar uma comparação entre Nunes e o vice Marcos da Costa (PTB), ex-presidente da OAB em São Paulo.

A questão é duplamente delicada em relação a Covas e Nunes. Primeiro porque Covas enfrenta um tratamento de câncer que não tem previsão de término —a doença está controlada e o prefeito apresenta bom quadro clínico.

Há ainda o fato de que Nunes protagoniza uma série de acusações, reveladas pela Folha, de que seu grupo político se beneficia financeiramente da administração de creches em São Paulo.

Na quarta-feira (28), ao falar a empresários da União Brasileira de Feiras e Eventos de Negócios, Russomanno sugeriu que Covas pode não terminar seu novo mandato se reeleito.

"A população acreditou [na propaganda de Marta em 2016 contra Russomanno] e votaram no João Doria. Todo mundo sabe o resultado. Em um ano e meio fugiu. E deixou o que nós temos aí, o vice. E agora eles já prepararam o novo vice, que deve ser o que vai assumir, é cheio de rolo na vida. O pior: ganhando dinheiro em cima de crianças, de creches. É esse o quadro que a gente tem aí", afirmou.

Questionado pela imprensa sobre por que acredita que Covas não terminaria o mandato, Russomanno trouxe a questão da saúde à tona. "Não vou fazer considerações, isso quem tem que fazer é o médico dele. Tem que falar com o médico dele", respondeu.

O oncologista Tulio Eduardo Flesch Pfiffer, responsável pelo tratamento de Covas, disse à Folha que a forma como o prefeito tem reagido ao enfrentamento da doença surpreende a todos. “Não apenas no aspecto do tumor, mas em relação a toda condição clínica. Teve Covid, foi praticamente assintomático. Fisicamente, está tirando tudo de letra. Emocionalmente, nunca se deixou abater.”

Segundo Pfiffer, Covas tem sido transparente desde o início do diagnóstico, o que diminui as chances de rumores, mas, ainda assim, eles se intensificaram nesse período eleitoral. "Desde a primeira coletiva de imprensa, ele pediu para gente ser sincero e transparente com as informações."

Os estrategistas de Russomanno contam ainda com o embarque de outras campanhas rivais de Covas no ataque a Nunes. A Folha mostrou que entidade gestora de escolas infantis ligada ao vice utilizou recursos recebidos dos cofres públicos municipais para pagar empresas investigadas na máfia das creches e também a uma dedetizadora pertencente à família do vereador.

O grupo de Nunes ainda fatura por ano ao menos R$ 1,4 milhão com aluguel de creches à prefeitura, também como mostrou a Folha.

"Isso é uma indecência. Os aluguéis praticados pelas casas das quais ele é proprietário estão acima dos outros aluguéis. Então existe um favorecimento aí e o que é pior: tomando dinheiro de criança, de quem não tem como se defender", afirmou Russomanno na segunda (26).

Nunes foi anunciado vice durante a pré-campanha, após saírem do páreo nomes mais conhecidos como José Luiz Datena (MDB), Marta Suplicy (que pediu desfiliação do Solidariedade) e o próprio Russomanno, que foi cogitado numa chapa com Covas.

A união entre PSDB, DEM e MDB na chapa de Covas foi costurada por Doria, que pretende manter essa sustentação para concorrer à Presidência da República em 2022.

Entre aliados de Covas, há o entendimento de que a escolha por Nunes se deu por pressão de Doria. O próprio prefeito estava inclinado a convidar seu secretário Ricardo Tripoli (PSDB), mas cedeu para evitar desgastes.

O PSDB trabalhava pela chapa pura, enquanto integrantes do DEM e do MDB insistiam num vice da coligação.

Covas lidera a corrida pela Prefeitura de São Paulo com 23%, numericamente à frente de Russomanno, que tem 20%, segundo pesquisa Datafolha do último dia 22. O candidato do Republicanos, que é apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), caiu sete pontos em relação à pesquisa anterior.

A queda tem sido associada à rejeição de Bolsonaro em São Paulo, de 46% segundo o Datafolha. Russomanno e seu marqueteiro, Elsinho Mouco, porém vêm dizendo que o resultado das pesquisas não mudará a estratégia de campanha —de colar em Bolsonaro e atacar "Bruno-Doria".

Nesta semana, porém, Russomanno deixou Bolsonaro de lado em seus programas eleitorais na TV e usou jingles que não mencionam o presidente em sua campanha de rua. Pelas redes sociais, o candidato chama de fake news notícias de que a aliança com o presidente está estremecida.

"A gente está juntos e vamos continuar juntos", disse Russomanno nesta quinta-feira (29), ressaltando que a parceria com o presidente é necessária para trazer recursos a São Paulo.

"Não vamos mudar nada, a campanha está ótima. Tínhamos pouco tempo de TV, isso [a queda nas pesquisas] já era previsível. O que importa para gente é estar no segundo turno e vamos mostrar o que queremos fazer", completou.

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