Descrição de chapéu Eleições 2020

Candidatos a vereador driblam limitações com comício em casa, delivery e até santinho com QR code

Com restrições da pandemia, políticos tem pouco tempo para contato com eleitores, além de raras aparições no rádio e na TV

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São Paulo

Em número maior do que nas eleições passadas, os candidatos a vereadores enfrentam desafios em 2020 que vão além das limitações impostas pela pandemia do novo coronavírus.

Com restrições e pouco tempo para contato com eleitores, além de raras aparições na televisão e no rádio, os políticos que tentam uma vaga nas Câmaras Municipais são obrigados a inovar nas estratégias de comunicação.

Com comícios em casa, delivery de santinhos e adesivos para carro com QR code, eles tentam se fazer conhecidos em meio a uma multidão de concorrentes.

Em todo o Brasil, 517.023 candidatos para o cargo de vereador pediram registro na corrida eleitoral até esta quinta-feira (22), de acordo o com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O número é 11,5% maior que o de 2016, quando 463.405 candidatos pediram registro nas eleições aos legislativos municipais.

Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, houve um aumento de 52% no total de candidatos. É a eleição mais concorrida ao menos desde 2004 —nas disputas de 1994 a 2002, as bases de dados estão incompletas, segundo o TSE.

Os números maiores são consequência das novas regras para eleição de vereadores. Uma das principais mudanças neste ano é o veto das coligações, que consistem na união de diferentes partidos para a disputa do pleito.

Sem a possibilidade de juntar forças, partidos expandiram o total de candidaturas como estratégia para atingir o quociente eleitoral, número que cada legenda precisa alcançar para conseguir uma cadeira no legislativo.

Nas regras de 2016, uma coligação com várias legendas podia lançar no máximo duas vezes o total de vagas de uma câmara municipal na sua chapa de candidatos. Neste ano, cada partido pode lançar até uma vez e meia o total de vagas no legislativo.

Se o número de candidatos aumentou, o mesmo não aconteceu com o tempo de propaganda na TV e no rádio.

Hoje os vereadores ocupam 28 minutos (40%) de um total de 70 minutos de inserções diárias ao longo da programação televisiva.

O restante fica com os candidatos às prefeituras, que também têm dois blocos fixos de dez minutos para venderem suas propostas, espaço que não é compartilhado com os postulantes ao legislativo.

Quem define as aparições são os partidos. Os políticos considerados puxadores de votos, mais conhecidos, costumam estar nos horários nobres e, por vezes, têm mais de uma inserção durante a campanha. Outros têm direito a apenas uma inserção, e alguns nem aparecem na TV.

Diante das dificuldades, os candidatos precisam de criatividade para se fazerem conhecidos. Diferentemente das campanhas para prefeito, eles atuam de forma mais independente, muitas vezes sem a assessoria de marqueteiros, publicitários e estrategistas.

Com as limitações impostas pelo coronavírus, a candidata a vereadora em São Paulo Ana Mielke (PSOL) teve a ideia de realizar o que chama de comício em casa.

A estratégia consiste em reunir familiares ou colegas de trabalho em um mesmo ambiente. A candidata, então, se conecta virtualmente para apresentar as propostas e ouvir demandas. Apesar de online, o evento, que costuma reunir até 25 pessoas, não é transmitido de forma aberta na internet, como uma live, e, sim, por chamada de vídeo.

“Aposto muito nessas reuniões remotas porque garantem a segurança de quem participa, sobretudo quem é de grupo de risco à Covid-19”, diz Mielke. Qualquer pessoa pode solicitar à candidata o comício em casa. Basta entrar em contato pelas redes sociais ou através do site.

Eventualmente, ela participa de forma presencial desses encontros, que funcionam como uma roda de conversa, mas com distanciamento social, máscaras e álcool em gel.

A pandemia também criou obstáculos aos candidatos a vereador que precisam colar sua imagem aos candidatos a prefeito, que têm maior exposição e conseguem atrair mais gente em eventos físicos. Como consequência, os partidos tentam impulsionar a propaganda digital.

O PT colocou no ar um site com materiais que os candidatos podem baixar para encaminhar ao eleitorado. São jingles, vídeos, cards para stories do Instagram e capas para Facebook. Também fica disponível no site uma ferramenta de busca em que é possível pesquisar por município as realizações dos governos petistas.

O PSDB criou santinhos e adesivos de carro para seus candidatos com QR Code, que leva a arquivos digitais da campanha. O tucano Maurício Martins, que concorre em Pelotas (RS), foi além: investiu em um QR Code personalizado para que os eleitores acessem o seu site pessoal.

No Patriota, o candidato em São Paulo Rubinho Nunes implementou um sistema de delivery de kits que incluem santinhos, panfletos e adesivos para carros. Ele faz questão de distribuir pessoalmente alguns, feitos sob encomenda.

Antes da pandemia, o plano de Rubinho era dividir em partes iguais os recursos entre a campanha digital e materiais físicos. Mas com as dificuldades do corpo a corpo, os gastos tiveram de ser recalculados. Hoje a expectativa para os investimentos digitais é de 70%. As estratégias incluem impulsionamento e direcionamento de conteúdos.

Sem ligação com nenhum partido, foi criado um serviço para conectar candidatos e eleitores em 2020. Com o intuito de dar espaço para aos postulantes a uma vaga nas câmaras municipais se apresentarem e ajudar os cidadãos a terem informações para a escolha do seu vereador foi criado o projeto Tem Meu Voto.

A plataforma funciona em um site, onde o eleitor responde perguntas sobre temas que considera prioritários em planos de governo. Ao concluir o questionário, ele recebe uma lista com os postulantes que se aproximam de suas ideias.

Um clique em cada perfil apresentado mostrará mais informações sobre o candidato: partido, minibiografia, sites oficiais e propostas. O eleitor pode refinar a pesquisa apontando gênero e raça do político pretendido. Ao final, pode gerar uma espécie de "colinha eletrônica" com os escolhidos.

"Nosso objetivo é apresentar ao eleitor um serviço que desperte o interesse pela política”, diz o empresário André Szajman, coordenador do projeto. A plataforma, gratuita, pode ser acessada em temmeuvoto.org.

Para a eleição de 2020, as 33 legendas têm direito a R$ 2,03 bilhões do fundo eleitoral. O diretório nacional de cada partido é que estabelece os critérios para divisão dos recursos entre os candidatos que deve ser comunicados ao TSE.

Também em relação ao aporte financeiro às campanhas, os novatos ficam em desvantagem. Os partidos priorizam os que têm mais chance de se elegerem, ou seja, os candidatos mais conhecidos ou que buscam reeleição.

"No PSOL, são considerados os candidatos da faixa A os que tentam reeleição, que são mais conhecidos. A faixa B é destinada aqueles que foram bem votados nas últimas eleições e que têm potencial de ampliação de bancada. A faixa C é considerada de candidaturas que têm grupos de apoios, mas que estão em construção. E os novatos ficam na faixa D", explica Miguel Carvalho, que acompanha as chapas dos vereadores do PSOL.

O partido anunciou em agosto regulamento para distribuição do fundo eleitoral que afirma priorizar as mulheres com 30% e os negros com 50% a mais dos recursos.

As restrições impostas pela pandemia e o tempo relativamente curto de campanha, de 45 dias, também são fatores que favorecem os políticos que tentam reeleição, segundo Bruno Silva, pesquisador do Laboratório de Política e Governo da Unesp (Universidade Estadual Paulista).

Ele diz que o número expressivo de candidatos provoca excesso de informação, o que pode cansar o eleitor.

”A informação é importante, mas quando o estímulo é muito, isso acaba dificultando as escolhas. As pessoas acabam optando em votar nos mais conhecidos ou seguem a indicação de amigos, familiares ou líderes religiosos, por exemplo”.

Dos atuais ocupantes das 55 cadeiras da Câmara Municipal de São Paulo, apenas 19 (35%) estão em seus primeiros mandatos.

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