Cracolândia, evasão escolar, pandemia: erros de Matarazzo na sabatina Folha/UOL

Candidato do PSD foi o sétimo convidado da série de entrevistas

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São Paulo | Agência Lupa

O candidato à prefeitura de São Paulo Andrea Matarazzo (PSD) foi o entrevistado desta quinta-feira (29) na série de sabatinas promovidas pela Folha e pelo UOL.

Ele criticou ações da atual gestão durante a pandemia de Covid-19 e falou sobre sua experiência como secretário de Subprefeituras, entre outros assuntos.

A Lupa verificou algumas das declarações do candidato. Confira a seguir.


"Quando eu saí da prefeitura nós tínhamos lá cerca de 150 pessoas cadastradas que ainda estavam gravitando por lá [na cracolândia]"
Andrea Matarazzo (PSD), candidato a prefeito de São Paulo, na sabatina feita pela Folha, em parceria com o UOL, em 29 de outubro de 2020

FALSO A saída de Andrea Matarazzo do cargo de secretário municipal das Subprefeituras de São Paulo ocorreu em 2 de setembro de 2009. Cerca de um mês antes disso, em 6 de agosto daquele ano, um balanço da Secretaria Municipal de Saúde indicou que 2.186 pessoas haviam sido abordadas na região da cracolândia, no centro de São Paulo. É falso, portanto, que cerca de 150 dependentes de crack "gravitavam" pela área nessa época.

De acordo com o balanço da prefeitura, somente 46 usuários de drogas haviam sido internados para tratamento de dependência química, enquanto 240 pessoas foram atendidas em postos de saúde. Os dados fazem parte de uma ação iniciada em 22 de julho com 120 agentes de saúde, que atuaram em conjunto com a polícia, para levar os dependentes da região para fazer tratamento.

Em julho de 2009, uma operação da polícia na região da cracolândia resultou na retirada de 256 pessoas da área —número também superior ao citado por Matarazzo. O objetivo era levar os usuários de drogas para abrigos da prefeitura. As ações faziam parte de um projeto de requalificação daquela área, rebatizada de Nova Luz. A iniciativa foi abandonada em 2013, por ser considerada inviável economicamente.

Procurado para comentar o resultado da checagem, Matarazzo respondeu à Lupa, em nota, que os dados apontados em balanço da Secretaria de Saúde podem estar superestimados. “Com relação à cracolândia, eu, quando subprefeito da Sé, coordenava operações em conjunto com as Secretarias de Saúde, Assistência Social, Polícia Militar e outros órgãos. Na contabilização das abordagens, é preciso considerar que uma mesma pessoa era abordada várias vezes num determinado período (dia, semana e até mês). Isso pode causar desvio na estatística, como a do balanço citado por vocês”, disse.

Ele afirmou que na página 34 do Censo da População de Moradores em Situação de Rua, publicado em dezembro de 2009, consta que havia 154 pessoas na região. O documento aponta os moradores de rua encontrados naquela área. “Insisto que nunca houve mais que 500 pessoas na cracolândia durante minha gestão. Desafio alguém a ter documentação de imagem com situação similar àquela que encontramos hoje em dia”, disse.


“Aquele programa da Unicef identificou que 70% da evasão escolar, por exemplo, era proveniente de algum tipo de violência, doméstica ou do bairro, etc”
Andrea Matarazzo (PSD), candidato a prefeito de São Paulo, na sabatina feita pela Folha, em parceria com o UOL, em 29 de outubro de 2020

FALSO O dado citado pelo candidato é uma interpretação equivocada de um estudo feito pela Unicef em Fortaleza e outros seis municípios do Ceará (página 18), em 2016.

De acordo com o levantamento, 70% dos adolescentes que foram mortos no ano de 2015 nessas cidades estavam fora da escola havia pelo menos seis meses. Ou seja, ao contrário do que afirma Matarazzo, o estudo não mostrou que a violência causou a evasão escolar, e sim que jovens que deixaram a escola são mais suscetíveis à violência.

Esse estudo foi citado em 2019 durante a abertura do seminário nacional Educação é Proteção contra Violência, realizado no Rio de Janeiro.

Na época, a Unicef lançou a publicação A educação que protege contra a violência, com dados e informações sobre as diferentes violências que afetam os jovens, dentro e fora das escolas, além de recomendações para garantir a educação como prevenção à violência.


“Você não podia nunca, na hora que começou o problema [pandemia], ter tirado 70% dos ônibus de circulação”
Andrea Matarazzo (PSD), candidato a prefeito de São Paulo, na sabatina feita pela Folha, em parceria com o UOL, em 29 de outubro de 2020

EXAGERADO Não há registros de que a prefeitura tenha retirado 70% da frota de ônibus de circulação no início da pandemia. Em 28 de março, dia em que foi anunciada a maior redução da frota, 60% dos veículos tinham sido tirados de circulação.

No dia 23 de março, a prefeitura de São Paulo informou que houve redução de 55% no número de passageiros e, por isso, 7,8% dos veículos seriam retirados de circulação. Em seguida, no dia 24 de março, informou que a redução de passageiros tinha chegado em 70% e, por isso, apenas 55% da frota seria mantida. Ou seja, 45% não circularia. No dia 28, o anúncio foi de que 40% da frota normal estaria em circulação e, assim, o corte chegou a 60%.

No dia 31, a frota foi ampliada para 41,35%. Em 2 de abril, 44,14%, dos veículos circularam. Em 7 de maio, foi anunciado o incremento de 1.000 ônibus em circulação. A quantidade de ônibus aumentou sucessivamente até chegar a 92,31% em junho.


“E cerca de 1.300 favelas na cidade de São Paulo”
Andrea Matarazzo (PSD), candidato a prefeito de São Paulo, na sabatina feita pela Folha, em parceria com o UOL, em 29 de outubro de 2020

SUBESTIMADO São Paulo tem 1.730 favelas cadastradas pela Secretaria Municipal de Habitação (Sehab), número consideravelmente maior do que o citado pelo candidato.

A secretaria estima que essas ocupações, em geral assentamentos precários, abrigam 391.489 domicílios. Os dados são atuais e foram confirmados pela assessoria de imprensa da secretaria.


“A cidade tem mais de 300 equipamentos esportivos”
Andrea Matarazzo (PSD), candidato a prefeito de São Paulo, na sabatina feita pela Folha, em parceria com o UOL, em 29 de outubro de 2020

VERDADEIRO São Paulo tem 348 equipamentos esportivos públicos administrados diretamente pela prefeitura. Os indicadores são do projeto Rede Social de Cidades e a lista (a partir da página 15) consta no site da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer. Os dados foram atualizados em 2018.


“Ela [Marta Costa, candidata a vice-prefeita] foi minha colega na Câmara de vereadores, são três mandatos como vereadora e dois como deputada [estadual]”
Andrea Matarazzo (PSD), candidato a prefeito de São Paulo, na sabatina feita pela Folha, em parceria com o UOL, em 29 de outubro de 2020

VERDADEIRO A deputada estadual Marta Costa (PSD), candidata a vice-prefeita na chapa de Matarazzo, foi eleita vereadora pela primeira vez em 2004, pelo PTB, e reeleita em 2008, pelo DEM, e em 2012, pelo PSD. Neste último mandato, ela foi colega do candidato, que esteve na Câmara Municipal entre 2013 e 2017.

Em 2014, ela foi eleita deputada estadual pelo PSD, e reeleita em 2018. Marta foi, também, segunda suplente do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), entre 2010 e 2018.

Carol Macário , Chico Marés , Ítalo Rômany , Juliana Almirante e Maurício Moraes
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