Descrição de chapéu Eleições 2020

Tucano de berço, Covas esconde PSDB em material de campanha à reeleição

Partido sofre desgaste devido a investigações sobre líderes; campanha destaca coligação

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São Paulo

A campanha do prefeito Bruno Covas (PSDB), um tucano de berço, esconde de seu material de divulgação o partido do candidato à reeleição. O PSDB foi relegado às letras miúdas, junto com as demais siglas que formam a coligação do tucano.

A campanha de reeleição do prefeito coincide com momento complicado para a imagem do PSDB, alvejado pela operação Lava Jato. Geraldo Alckmin, José Serra e Aécio Neves, todos ex-presidentes da sigla, foram denunciados em ações em São Paulo.

A reportagem verificou dezenas de imagens de santinhos virtuais de Covas, mas não encontrou a marca do partido ou seu mascote, o tucano. O mesmo acontece no plano de governo e nas redes sociais do prefeito.

A campanha do tucano adota uma estética mais limpa, com grande destaque para o número para a urna, o 45, e o bordão "força, foco & fé", ao lado de um desenho que lembra tanto um balão quanto um coração.

O slogan remonta tanto à batalha no tratamento do câncer pelo prefeito quanto faz um aceno ao público religioso, o mais cobiçado pela campanha do tucano neste momento.

O sumiço do PSDB na campanha dos tucanos à prefeitura

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Campanha do prefeito Bruno Covas (PSDB) esconde PSDB, enquanto João Doria, em 2016, usava sigla

O antecessor de Covas no cargo, João Doria (PSDB), um outsider na época, deu mais destaque ao PSDB em seu material de 2016. Doria enfrentava um racha no partido, o que não acontece atualmente, hoje controlado por ele.

A reportagem encontrou materiais antigos da campanha de Doria, com a sigla do partido no alto, em azul, com direito a um tucaninho miniatura. A sigla, na ocasião, ainda permanecia relativamente poupada das denúncias que haviam implodido o seu principal rival, o PT.

Isso não duraria muito. Em maio de 2017 surgiriam as denúncias que, entre outros políticos, atingiram o então principal nome do partido, Aécio Neves, no bojo do escândalo do frigorífico JBS. Com rejeição de 39%, Doria também não aparece na campanha de Covas, por enquanto.

Questionada, a campanha do prefeito negou que esteja escondendo o PSDB. Afirma que a escolha tem a ver com a coligação.

"A legislação brasileira trata essa matéria. Quando coligados, os partidos integrantes passam a ser um único no período de eleições. Todos por São Paulo reúne 11 partidos políticos, um espectro amplo da representação política brasileira", diz a campanha, em nota.

A equipe de Covas ainda afirma que o prefeito é filiado ao partido desde jovem e nunca mudou. "É um social democrata e defende o fortalecimento dos partido políticos".

Materiais da campanha do prefeito Bruno Covas, usados durante adesivaço
Materiais da campanha do prefeito Bruno Covas, usados durante adesivaço - Reprodução

Tucanos minimizam a questão, afirmando que o PSDB aparecerá na hora certa. Na visão deles, agora é hora de apresentar Covas e seus projetos. O PSDB, dizem membros do partido, deve aparecer no material usado enviado a vereadores, por exemplo.

O cientista político da FGV Marco Antonio Teixeira vê um movimento generalizado no sentido de minizar os partidos.

"Tem o histórico do desgaste das siglas que vem se acumulando ao longo do tempo, culminou na personalidade do Doria quando ele disse que não era político, era gestor. Como esse desgaste aínda é substantivo, as candidaturas têm destacado muito mais a personalidade do que a legenda", diz.

"É um paradoxo, porque o monopólio das candidaturas é dos partidos. Se não tiver partido, não tem candidato. Ao mesmo tempo os partidos são deixados na penumbra para evitar que atinja a candidatura individual".

Ele afirma que o PT já vinha tentando diminuir a aparição da sigla, o que pode se inverter nesta eleição. Já o PSDB, ressalta, vem de um processo de desgaste mais recente, com seus principais líderes afetados por investigações.

Outro candidato que tem escondido a sigla em seu material é Márcio França, do PSB (Partido Socialista Brasileiro).

À direita dentro de seu partido, o ex-governador tenta, ao mesmo tempo, conseguir votos de bolsonaristas, com grande rejeição ao socialismo, e de pessoas à esquerda que têm rejeição a Doria.

"O eleitor vai ouvir as propostas do candidato da coligação. Portanto, é razoável que ele —ou seja, o postulante ao cargo— seja o destaque no material de campanha, e com quem, naturalmente, o cidadão busque identificação. Além disso, os perfis oficiais de França nas redes sociais já destacam que ele é filiado ao PSB e candidato, pela sigla, à Prefeitura de São Paulo", diz a campanha de França, em nota.

Os demais candidatos, embora não destaquem os partidos, não chegam a omitir as siglas tão intensamente nos materiais como fazem Covas e França.

Embora discreta dentro de um coração, a estrela do PT ainda figura nos materiais de Jilmar Tatto. Petistas paulistanos afirmam que a principal aposta é que Tatto melhore justamente porque é do PT.

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