Vereadores migram para grandes partidos após veto das coligações nas eleições

Legendas como DEM, PSD, PP, MDB ganham vereadores, em especial na janela partidária deste ano

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Salvador e São Paulo

Na campanha que marca o fim das coligações partidárias em eleições proporcionais, vereadores eleitos em 2016 buscaram partidos mais robustos para disputar um novo mandato no pleito deste ano.

Levantamento da Folha aponta que os principais partidos considerados de centro estão entre os que mais ganharam vereadores neste período por meio da migração entre legendas.

Essas mudanças mexeram na base política das Câmaras Municipais, que têm 57.282 vereadores espalhados pelas 5.570 cidades do país. A maioria das mudanças aconteceu na janela partidária de abril, período que isenta de punições os vereadores que trocaram de legenda.

Legendas como DEM, PSD, PP, MDB e Republicanos estão entre as que mais ganharam vereadores que cumprem mandato na atual legislatura. Têm em comum o fato de serem partidos com inserção na maioria das cidades, fundo partidário e tempo de propaganda na TV e rádio.

A principal mudança no formato das eleições municipais deste ano está no veto de coligações para o cargo de vereador. As coligações consistem na união de diferentes partidos para a disputar do pleito. Com isso, os candidatos a vereador somente poderão participar em chapa única dentro do partido.

Os partidos do campo da esquerda, caso de PT, PDT, PSB, PC do B e PSOL, tiveram leve queda na ocupação de assentos nas Câmaras Municipais. Juntos, as cinco siglas tinham 11.225 vereadores no país e caíram agora para 10.131.

A despeito do revés na eleição de 2018 com a derrota para Jair Bolsonaro (sem partido) na disputa presidencial, as legendas de esquerda tiveram capacidade de segurar a maior parte de seus quadros nas bases.

As perdas mais robustas aconteceram nos partidos nanicos, caso de legendas como PRTB, PMN, PTC, DC e PMB. Este último registrou uma queda de 81%, saindo dos 218 vereadores eleitos em 2016 para 39 após a janela partidária.

“Com o fim das coligações na eleição proporcional, há uma tendência de vereadores buscarem partidos mais robustos. Muitos deles, que estavam em partidos menores, se elegiam por causa das coligações”, avalia o cientista político Paulo Fábio Dantas Neto, professor da Universidade Federal da Bahia.

Em geral, os dados revelam uma maior concentração nos maiores partidos. Em 2016, os dez partidos com mais eleitos para os legislativos municipais tinham 71% do total de vereadores do país. Em 2020, este percentual subiu para 76%.

Também mostram que nem sempre o desempenho dos partidos no campo federal se replica nos municípios. É o caso, por exemplo, do MDB, legenda que cresceu sua base de vereadores.

A sigla vem de uma sucessão de revezes: viu sua bancada de deputados federais diminuir quase pela metade, de 65, em 2014, para 34, em 2018. Perdeu a presidências da Câmara e do Senado e deixou o Palácio do Planalto com o então presidente Michel Temer com sua avaliação no chão.

“O MDB é de uma resiliência impressionante. Nos últimos anos, o partido virou a Geni da política brasileira. Mesmo assim, permanece praticamente intacto nos municípios”, afirma Dantas Neto.

No mesmo campo político, o DEM foi o partido que mais cresceu no período, saindo de 2.896 vereadores para 4.409. Com isso, saltou de nono para quinto partido com mais vagas nas câmaras municipais.

No sentido contrário, o PSDB encolheu: saiu de 5.353 para 4.765 vereadores.

Os tucanos mais perderam do que ganharam vereadores em todas as regiões do país, com exceção do Sudeste. Em São Paulo, o partido saiu de 1.032 para 1.287 vereadores após a janela partidária. Cresceu atraindo políticos de outros partidos, sobretudo MDB e PTB.

O maior tombo aconteceu no Nordeste, onde os tucanos perderam vereadores principalmente para legendas do centrão.

Dentre os pequenos partidos, destacaram-se aqueles que passaram por um recente processo de mudança de nome, caso do Avante, Patriota e Podemos, que saltou de 762 para 1.300 vereadores.

Nos estados, os governadores acabaram funcionando como uma espécie de pêndulo partidário para os vereadores com mandato.

O Cidadania, por exemplo, teve um desempenho próximo do desastroso na Paraíba em 2016: elegeu apenas 33 vereadores em todo o estado. Quatro anos depois, antes mesmo da eleição, o partido chegou a 325 vereadores no estado.

O ponto de virada foi a chegada ao partido do governador João Azevêdo. Eleito em 2018 pelo PSB, ele rompeu com seu antigo partido e assinou a ficha de filiação do Cidadania em janeiro deste ano.

Movimentos semelhantes aconteceram em Goiás, Espírito Santo e Paraná, estados onde houve uma revoada de vereadores em direção ao partido do novo governador.

No Nordeste, PSD e PP predominam entre os vereadores apesar não governarem nenhum dos maiores estados da região –o PSD tem o governador de Sergipe, Belivaldo Chagas, e o PP não governa nenhum estado nordestino.

Isso acontece porque os dois partidos são aliados da maioria dos governadores da região e atraem vereadores que não se identificam com partidos de esquerda, mas buscam um lugar dentro da base aliada.

A exceção é o Piauí, onde o senador Ciro Nogueira (PP) rompeu com o governador Wellington Dias (PT), mas PP dobrou o número de vereadores no estado comparado a 2016. É A base que vai ancorar a candidatura de Nogueira ao governo do Piauí em 2022.

Presidente nacional do partido, Nogueira projeta um avanço ainda maior da legenda no país após a eleição de novembro: “Acho difícil que qualquer outro partido tenha um crescimento maior que o nosso”, aposta.

Por outro lado, o MDB, que tradicionalmente tinha capilaridade do Nordeste, perdeu espaço em estados como a Paraíba e Bahia.

No caso baiano, o partido ficou sem uma liderança forte após a prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, em 2017. O resultado foi uma desestruturação nas bases: o pardido caiu de 351 para 72 vereadores no estado.

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