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Assessora de gabinete de Covas, secretário e creche agem em campanha, e Boulos vê uso da máquina

Gestão nega irregularidades na reta final do segundo turno da disputa pela Prefeitura de São Paulo

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São Paulo

Na reta final do segundo turno, a atuação de servidores ligados à gestão Bruno Covas (PSDB) levou a campanha de Guilherme Boulos (PSOL) a acusar a candidatura tucana de uso da máquina da Prefeitura de São Paulo.

Em um episódio, o secretário Municipal de Educação, Bruno Caetano, mandou mensagem de áudio que circulou entre servidores pedindo para “gerar mais informações positivas para serem reverberadas”.

Em outro, uma creche mandou mensagem aos pais de alunos matriculados pedindo votos para Covas.

Por fim, em caso localizado pela Folha, uma assessora do gabinete do prefeito enviou mensagens ao empregador de uma eleitora de Boulos pedindo que a empresa “tomasse cuidado” com a funcionária.

A prefeitura nega irregularidades e diz que não há ilegalidade nas ações dos servidores, que são livres para manifestarem suas opiniões fora do horário de expediente e sem usar recursos públicos.

A advogada Sabrina Ribeiro Carvalho é assessora do gabinete de Covas, com salário bruto de cerca de R$ 5.000. Na última semana, ela abordou o empregador de uma eleitora afirmando que a empresa “deveria tomar cuidado” com a funcionária, que estaria propagando notícias falsas.

A eleitora é uma estilista de 34 anos que pede para não ser identificada. Ela afirma que recentemente publicou no Instagram e no Twitter críticas ao candidato a vice-prefeito Ricardo Nunes (MDB) e uma imagem, falsa e em tom de piada, de que Covas estaria apoiando Boulos.

A imagem, segundo a estilista um meme feito com o intuito de piada, mostra Boulos e Covas lado a lado e uma mensagem que diz: “Bruno Covas apoia Boulos no 2º turno! Vote 50”.

No mesmo dia, a empresa onde a estilista trabalha recebeu pelo Instagram a mensagem de Sabrina, que se apresenta na rede social como membro do Movimento Covas Prefeito.

O grupo coordenado por Alê Youssef (Cidadania), ex-secretário de Cultura de Covas, e apoiado pelo próprio prefeito —que segue Sabrina na rede com seu perfil pessoal.

Além de afirmar que “deveriam tomar cuidado” com a funcionária, a advogada que trabalha com o prefeito diz na mensagem que a estilista “já foi denunciada e as providências tomadas”.

Meia hora depois de a empresa receber a mensagem pelo Instagram, a companhia também foi procurada por email por uma pessoa identificada como Renata Oliveira, mas que usa Figueiredo no email, que dizia: “Lamentável a empresa ter em sua equipe gente que propaga fakenews, péssimo”. A reportagem, no entanto, não identificou Renata Oliveira ou Renate Figueiredo no quadro de funcionários da prefeitura.

A reportagem procurou Sabrina por telefone e nas redes sociais, mas não obteve resposta.

À Folha a estilista diz que soube das mensagens pela chefe, e diz que não se sentiu intimidada ou constrangida porque trabalha com pessoas que têm a mesma opinião política. “Mas poderia ser bem chato numa outra situação”, afirma.

Outros episódios foram parar em uma ação de Boulos contra Covas sob a acusação de abuso de poder econômico.

O secretário da Educação, Bruno Caetano, compartilhou mensagem em grupo que inclui servidores no qual fala sobre espalhar informações positivas e explora o posicionamento de Boulos, crítico das entidades conveniadas, conforme a ação judicial.

“Independente da tentativa deles de mudarem de posição, o estrago tá feito, e justo, porque tá escrito no programa de governo do Boulos, tá escrito na Folha de S.Paulo, tá escrito no Estadão e tem uma declaração do Boulos falando mal da rede de parceiros. Podem espernear, podem tentar o que quiserem, mas tá lá, cravado, a posição. Porque é, de verdade, o que eles pensam, né?”, disse.

“Então... Agradecer aí a todo mundo que tá ajudando a espalhar a verdade, combater a fake news, e vamo que vamo... Vamos gerar mais informações positivas, para serem reverberadas.”

A ação também cita uma diretora regional que enviou um áudio no qual Boulos é tratado como “o oponente”. Nessa mensagem, a funcionária fala sobre uma reunião com mantenedores de creches para tratar de propostas de Covas —no áudio, ela também refuta ilegalidades.

Além disso, a entidade gestora de creches Associação Beneficente Sonia Maria enviou aos pais mensagem de apoio a Covas, como mostram imagens anexadas à ação da equipe de Boulos.

“Estamos acompanhando na mídia a repercussão das eleições e uma possível reviravolta no segundo turno e por esse motivo, viemos aqui pedir encarecidamente que pensem antes de votar, caso o candidato de vocês não seja o atual prefeito Bruno Covas. O outro candidato não tem propostas muito favoráveis a nós da Rede Parceira e chegou a dizer inclusive que tem a intenção de reverter de forma gradativa a privatização”, diz uma mensagem.

Além disso, pais de crianças matriculadas em creches municipais veem o cartão alimentação, dado a crianças da rede municipal e que tem chegado a muitos pais próximo da eleição, com fins eleitoreiros.

O benefício é um vale anunciado para famílias que têm crianças matriculadas na rede municipal, que ficou fechada por causa da pandemia de Covid-19. Inicialmente, a ideia da prefeitura era pagar o benefício a quem estivesse cadastrado no Bolsa Família. Em julho, o prefeito anunciou que o cartão seria distribuído para toda a rede.

Suzana Aparecida, 33, que tem uma filha de dois anos matriculada na rede, conta que resolveu pedir o benefício quando soube que ele seria estendido. “Os custos com alimentação aumentaram com ela passando tanto tempo em casa. A escola avisou na página do Facebook e via Whats´App, eles estavam preocupados de todas as famílias fazerem o cadastro”, conta ela.

Suzana diz que preencheu o cadastro mas, no final, havia um campo onde ela precisava assinalar que tinha dificuldades financeiras, o que a fez desistir e não seguir com o pedido.

No entanto, mesmo sem seguir com o pedido, no último dia 6, a nove dias do primeiro turno da eleição, a prefeitura telefonou dizendo que o benefício tinha sido concedido. ”Foi eleitoreiro, com certeza”, afirma.

OUTRO LADO

A gestão Bruno Covas afirma que os “referidos servidores não incorreram em nenhuma ilegalidade e são livres, como qualquer outro profissional brasileiro, para exercerem os seus direitos garantidos pela Constituição de expressar suas opiniões fora do horário de expediente e sem usar recursos públicos de qualquer natureza”.

Segundo a prefeitura, as manifestações citadas ocorreram fora de horário de expediente ou de dependências públicas e não infrigem a lei eleitoral.

Sobre a assessora do prefeito, a prefeitura diz que a mensagem enviada se deu "em sua conta pessoal no Instagram às 21h29, portanto também fora do expediente e do seu local de trabalho, a um post 'falso', como relata a própria reportagem”, diz a gestão.

A administração afirma ainda que os servidores são livres para “integrar movimentos de apoio às candidaturas de sua preferência, desde que eventuais atividades ou manifestações não sejam feitas, repetimos, em horário de trabalho e não utilizem recursos públicos de qualquer natureza”.

A respeito do vale merenda que tem chegado próximo da eleição, a prefeitura diz que, em outubro, "verificando a dificuldade para que algumas famílias atualizassem seus cadastros a Secretaria Municipal de Educação optou por emitir cartões para todos os estudantes cadastrados e aqueles que tiveram suas matrículas efetivadas no período", diz a gestão, que diz que o benefício no total foi dado a 1,034 milhão de pessoas. Do total, cerca de 100 mil cartões chegaram no mês de novembro.

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