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Apreensão de R$ 102 mil em dinheiro com ex-assessor de Covas é tema tabu após 6 anos

Caso foi arquivado, mas juiz disse que versão de investigado não era verossímil; ele também carregava cheques da campanha

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São Paulo

Um episódio que envolveu há seis anos a campanha de Bruno Covas (PSDB) à Câmara dos Deputados e motivou abertura de inquérito policial permanece ainda hoje como um assunto tabu entre os envolvidos.

O investigado foi um ex-assessor de Covas flagrado em setembro de 2014, durante a campanha eleitoral, transportando R$ 102 mil em espécie, sem documento que comprovasse sua origem, e 16 cheques em branco assinados "Eleição 2014 Bruno Covas Lopes".

Esse valor equivale a cerca de R$ 140 mil em valores atualizados pela inflação.

Radialista e suplente de vereador de São José do Rio Preto (SP) à época, Mário Welber Bongiovani Ferreira embarcaria em Congonhas, na capital paulista, para a cidade do interior paulista.

Parado no raio X, Welber não chegou a ser preso. Foi levado com a maleta para prestar depoimento, e o dinheiro, apreendido, junto com um pen-drive que carregava com ele.

Bruno Covas, prefeito de São Paulo e candidato à reeleição pelo PSDB
Bruno Covas, prefeito de São Paulo e candidato à reeleição pelo PSDB - Danilo Verpa/Folhapress

À polícia justificou que o dinheiro era seu e não tinha relação com a campanha. Disse que pretendia fazer negócios com os valores em São Paulo. Também disse que os cheques lhe foram entregues por um auxiliar de Covas e que seriam repassados, no interior, a outro auxiliar do tucano, com o objetivo de pagar despesas de campanha. ​

Mário Welber trabalhava em 2014 na Cetesb, companhia vinculada à Secretaria do Meio Ambiente do Estado, da qual Bruno Covas foi secretário de 2011 a abril de 2014.

O funcionário, que exercia desde janeiro de 2013 o cargo de assessor técnico 1, com remuneração de R$ 9.546, estava de licença para trabalhar em campanhas eleitorais.

Antes da Cetesb, ele esteve lotado no gabinete de Covas na Assembleia Legislativa de São Paulo, quando o tucano era deputado estadual.

A Justiça Federal tratou o caso como suspeito de lavagem de dinheiro. Bruno Covas, atual prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, não foi investigado no inquérito.

Em 2018, após quatro anos, a apuração foi arquivada por falta de provas. No despacho de arquivamento, contudo, o juiz disse que as explicações dadas por Welber sobre o transporte e a origem do dinheiro não eram verossímeis e listou uma série de questões que não foram esclarecidas.

O radialista havia afirmado em depoimento que, a pedido do coordenador da campanha de Bruno, Ricardo Torres, entregaria os cheques a um "sr. Ulysses" [Terceiro, coordenador regional da campanha] e que o dinheiro era seu e "visava realizar alguns negócios em São Paulo, dentre eles a compra de um veículo".

Também afirmou que, naquele momento, ajudava algumas campanhas "de maneira informal".

Ao arquivar o caso, o juiz questionou a verossimilhança das declarações, considerando que Welber "não sabia a quantia de valor que transportava; que não soube indicar nenhum contato realizado com o fim de concretizar a suposta compra de veículo; que não soube indicar nenhuma campanha eleitoral para a qual estaria prestando serviços; e que não indicou a origem precisa do numerário que transportava".

Apesar disso, afirmou, "de todas as diligências realizadas pela autoridade policial não foi possível colher indícios de sua eventual origem ilícita". O Ministério Público também se manifestou pelo arquivamento.

No ano seguinte, os autos chegaram a ser desarquivados, porque Welber não concordava com o índice de correção usado pela Caixa Econômica Federal para remunerá-lo pelos valores que ficaram apreendidos e solicitou que a instituição financeira demonstrasse qual cálculo fez.

Welber foi procurado pela reportagem e não quis falar. Atendeu o telefone e pediu para a reportagem retornar em 15 minutos. Não atendeu mais nem respondeu às mensagens enviadas pela Folha.

Seu advogado no inquérito, Evandro Capano, também foi procurado por email e não se manifestou.

A reportagem procurou Ricardo Torres, que teria entregue os cheques a Welber. Ele disse por mensagem à reportagem que "estava em um compromisso" e que retornaria. Não retornou e, depois, bloqueou o repórter no WhatsApp.

Ulysses Terceiro, que atualmente é vereador e candidato à reeleição em Severínia (SP) pelo PSDB, foi procurado por email e pelo Facebook. Não se manifestou.

Também procurada, a campanha de Bruno Covas diz que o prefeito não mantém nenhum tipo de relacionamento com Mário Welber Bongiovani Ferreira e que "qualquer ilação a algum envolvimento do prefeito Bruno Covas neste episódio representa uma séria distorção da verdade".

Segundo a campanha, Covas não foi nem "sequer avisado sobre procedimentos investigatórios relacionados ao caso porque, obviamente, ele não tem qualquer relação com os fatos narrados".

"Os cheques encontrados à época foram devidamente contabilizados nos gastos da campanha", acrescentou a campanha.

A apreensão dos valores e cheques com Welber teve repercussão durante as eleições de 2014. O PT, adversário político de Bruno Covas, pediu apuração sobre o tema no Conselho de Ética da Assembleia Legislativa. Alegando motivos pessoais, Welber pediu demissão da Cetesb.

Segundo o seu perfil no Linkedin, desde então ele trabalha em uma empresa de consultoria. A Justiça Federal chegou a autorizar a quebra de sigilo bancário e fiscal de Welber.

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