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Eleições 2020 DeltaFolha

Bruno Covas avança mais em áreas ricas das zonas leste e norte de São Paulo

Já Guilherme Boulos ganhou algumas periferias neste segundo turno, mas de forma insuficiente

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São Paulo

O atual prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), conseguiu neste segundo turno forte crescimento em regiões com perfil alto e médio de renda, especialmente nas zonas leste e norte. O candidato derrotado Guilherme Boulos (PSOL) avançou na periferia, mas de forma insuficiente.

A análise por zona eleitoral mostra que os maiores crescimentos do tucano em relação ao primeiro turno foram no Tatuapé (de 35% para 70% dos votos), Vila Formosa (de 35% para 70%) e Vila Maria (de 34% para 70%).

A reportagem comparou a proporção de votos dos candidatos no primeiro e no segundo turno deste ano.

Das seis zonas em que Covas mais cresceu, três são na zona leste e três na norte. Todas próximas ou acima da média de renda do município.

No geral da capital paulista, Covas foi de 33% dos votos para 59% entre os turnos (avanço de 26 pontos percentuais); Boulos, de 20% para 40% (20 pontos).

Estavam em disputa nesta reta final 47% dos votos do primeiro turno (que não haviam sido dados para nenhum dos finalistas), além de eventualmente a virada de votos entre eles (situação mais rara).

Se o tucano avançou fortemente em áreas de rendas média e alta, ele cresceu menos nas áreas mais pobres.

Seus menores crescimentos foram em Piraporinha, Cidade Tiradentes, Valo Velho e Grajaú, locais com renda familiar inferior à média da cidade.

No primeiro turno, Covas venceu todas as 58 zonas. No segundo, Boulos conseguiu ganhar em 8, todas na periferia.

Seus maiores crescimentos ocorreram em Cidade Tiradentes (votação foi de 37% para 57% entre o primeiro se segundo turno), Piraporinha e Grajaú.

O movimento no segundo turno deixou a cidade mais parecida com o padrão de votação das últimas eleições.

Tradicionalmente, o PSDB vence nas áreas centrais e mais ricas; o PT, e agora o PSOL, nos extremos da capital.

Mas Boulos não chegou a conquistar maciçamente as periferias. Ele perdeu, por exemplo, na Capela do Socorro, Pedreira (ambas na zona sul) e Brasilândia (zona norte), áreas fora do centro expandido, com média de renda inferior ao da cidade.

Para analisar a renda das zonas eleitorais, a reportagem considerou os dados do IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano nos municípios) —as subprefeituras, divisão utilizada no estudo, foram consideradas para se verificar o perfil das zonas eleitorais.

Na tentativa de atrair os votos dos mais pobres, Boulos fez campanha enfatizando a necessidade de a prefeitura priorizar ações para regiões mais vulneráveis. O candidato também utilizou fortemente em sua propaganda o fato de ele viver no Campo Limpo, periferia sul da cidade.

Nessa zona eleitoral, Boulos ganhou, mas por apenas 1,2 ponto percentual (50,6% contra 49,4%).

Por outro lado, Covas vendeu pesadamente ações que sua gestão fez para as áreas mais pobres, como entrega de UPAs (unidades de saúde) e ampliação de vagas em creches.

Na reta final da campanha, o prefeito anunciou auxílio emergencial de R$ 100 para inscritos no Bolsa Família, para mitigar os efeitos da crise econômica criada pela pandemia.

O tucano também contou com o apoio ativo da ex-prefeita petista Marta Suplicy, que conseguiu bons resultados nas franjas da cidade quando foi candidata.

Na outra ponta de renda, alguns pontos do programa de Boulos podem ter prejudicado seu desempenho nesse segmento. Ele prometia, por exemplo, aumento de IPTU para "mansões", sem especificar o tamanho dos imóveis que entrariam nessa categoria.

Pesquisa do Datafolha feita na véspera do pleito mostrou que, segundo as intenções de voto, Covas batia o rival em três das quatro faixas de renda familiar consideradas: as duas mais baixas e a mais alta de todas.

Entre a população que recebe até dois salários mínimos (R$ 2 mil), Covas tinha 46% das intenções de votos, ante 39% do adversário.

No topo das faixas, com renda acima de dez salários mínimos (mais de R$ 10 mil), o tucano possuía 53% das intenções dos votos, contra 42% do psolista.

Boulos só tinha mais intenção de votos numa faixa intermediária, entre mais de 5 salários mínimos e até 10 salários mínimos (equivalente a faixa entre R$ 5 mil e R$ 10 mil).

​Em relação ao padrão de votação, os prefeitos vencem na capital com diferentes perfis no segundo turno. Em 2000, a então petista Marta Suplicy bateu Paulo Maluf (então no PPB) em todas as zonas de São Paulo.

Nas eleições posteriores, passou a haver uma divisão: as áreas mais ricas preferiram José Serra (PSDB, em 2004 e 2008) e Gilberto Kassab (então DEM, em 2012).

As regiões mais pobres votaram mais nos candidatos do PT (Marta em 2004 e Fernando Haddad em 2012).

Na última vitória da esquerda na cidade, um fator importante foi que Haddad conseguiu ganhar com folga nos distritos mais populosos.


Já Boulos, além de vencer em menos zonas do que o PT conquistou em 2012, não conseguiu larga vantagem nesses distritos —ou seja, não obteve uma boa margem em termos absolutos.

Após os movimentos no segundo turno, a eleição deste ano também se aproximou a esse padrão.

O mapa de 2020 da cidade também se parece muito com o da eleição presidencial de 2018. Covas ganhou praticamente em todas as zonas em que Jair Bolsonaro também venceu.


​No meio do centro expandido, uma zona chama a atenção: a Bela Vista foi onde Covas teve a menor vantagem (55% a 44%). Na vizinha Santa Efigênia, o tucano ganhou por 60% a 40%.

Em 2018, a Bela Vista também foi onde o petista Fernando Haddad, que apoiou Boulos na reta final deste ano, conseguiu a menor diferença em relação a Bolsonaro no segundo turno.

Cientistas políticos, porém, afirmam que eleições municipais diferem muito de padrão com as nacionais, por isso, comparações ficam muito prejudicadas.

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