Candidatas em SP, Joice, Marina e Vera defendem o feminismo apesar de diferenças ideológicas

Representantes do PSL, Rede e PSTU combatem o machismo e querem mais mulheres na política

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São Paulo

Minoria entre os 13 nomes que concorrem à Prefeitura em São Paulo, as mulheres Joice Hasselmann (PSL), Marina Helou (Rede) e Vera Lúcia (PSTU) compartilham a defesa do feminismo apesar de suas diferentes ideologias.

As candidatas se manifestaram ao longo da campanha a favor de maior participação política das mulheres e empunharam bandeiras de combate ao machismo e à violência contra a mulher –pautas também abraçadas pelos candidatos homens.

Marina Helou (Rede), Joice Hasselmann (PSL) e Vera Lúcia (PSTU) - Divulgação/ Renato S. Cerqueira/Folhapress e Danilo Verpa/Folhapress

Durante os dois únicos debates na TV, Marina foi alvo de comentários machistas nas redes sociais. Mulher negra, Vera afirma que as violações são constantes.

Joice, por sua vez, trouxe para a campanha os ataques e a difamação que sofreu em uma ação orquestrada pelos filhos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) —um processo que a ajudou a entender o machismo e a defender as mulheres.

“É algo focado estritamente no fato de eu ser mulher. Uma coisa que eu não tinha vivido. Sempre critiquei esse papo de machismo e feminismo, achava cafona, imagina, eu nunca vou sofrer machismo porque eu sou um trator. E eu mordi a língua. Eu não podia imaginar que alguém fosse capaz de fazer uma coisa dessas, tão sujo, nojento, torpe e criminoso.”

Rompida com Bolsonaro, a ex-líder do governo no Congresso fez a campanha municipal com 24 kg a menos e resolveu compartilhar com as mulheres sua experiência, que teve fake news, gordofobia e montagens pornográficas.

“Eu fui muito humilhada, achincalhada por esses bandidos que cercam ali a tropa do Palácio do Planalto. Eu engordei porque eu estava ajudando eles. Quantas mulheres não são xingadas dentro de casa pelo marido porque engordaram. Ou não sofrem bullying no trabalho e na escola porque engordaram”, completa.

Questionada pela Folha se hoje vê machismo no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), por exemplo, Joice, que é antipetista ferrenha, diz que “montagens pornográficas não se faz com ninguém, nem de esquerda nem de direita”.

A deputada do PSL afirma que Bolsonaro é machista, que a política é um ambiente hostil e masculino e prega que as mulheres sejam incentivadas a entrar nesse meio –ou os homens continuarão decidindo sobre temas que dizem respeito às mulheres.

Segundo Joice, a esquerda se apropriou do movimento feminista e grupos como o Femen não a representam, mas, para ela, a luta pela igualdade tem que ser abraçada por todas as ideologias, num movimento que una as mulheres.

Para Marina e Vera, o feminismo também não é só de esquerda. A candidata da Rede diz ter clareza de que “todas as mulheres precisam do feminismo”.

“O feminismo, enquanto a busca por equidade de gênero, é uma pauta urgente para todas as mulheres”, afirma Marina, enfatizando que as mulheres devem ser incluídas em políticas públicas.

“A opressão à mulher está em todas as classes sociais. Em determinados pontos, é comum tanto a quem é de direita ou quem é esquerda, às mulheres ricas e às mulheres pobres. Com a mulher que é da classe trabalhadora e a negra, o problema do machismo se apresenta de forma mais agravada e intensa”, diz Vera.

A candidata do PSTU diz, portanto, que a luta do feminismo contra o machismo engloba o conjunto das mulheres, mas há diferença em relação às soluções propostas. “Nós entendemos que a luta contra o machismo é uma luta combinada com a exploração capitalista”, afirma.

Marina conta que, durante a campanha, sofreu perseguições machistas nas redes sociais. Um candidato a vereador, apoiador de Arthur do Val (Patriota), chegou a fazer gesto obsceno em um vídeo ao vivo.

“O tema do feminismo ainda aparece sob a ótica de uma violência das mulheres nesse espaço [da política], mas também eu venho sentido uma força das mulheres que querem fazer diferente, querem votar em mulheres e impedir esse retrocesso”, diz.

A questão chegou a causar discussão entre as candidatas. Num debate online, Marina pediu que Joice não utilizasse o termo “estupro”, que tem um peso para todas as mulheres vítimas de abuso sexual.

Joice costuma dizer que o governo Bolsonaro foi estuprado pelo centrão, e o pedido de Marina foi em relação ao uso do termo no contexto político.

A deputada do PSL reagiu com irritação, ao entender que a candidata da Rede referia-se à experiência com o machismo dos ataques bolsonaristas.

“Menina, você não sabe o que eu passei. […] Nunca mais fale isso, Marina. Se você entende o que é sororidade. Eu sei, Marina, o que é viver um estupro moral. […] Eu perdi meu útero, perdi minha saúde, mas não perdi minha dignidade”, respondeu Joice.

Segundo Marina, as candidatas conversaram após o episódio e desfizeram o mal-entendido.

“Ela viveu a experiência de um governo misógino, que atacou utilizando as piores formas possíveis. A gente conversou bastante sobre a diferença entre os dois termos e a importância de não banalizar uma experiência tão ruim, que ela inclusive viveu”, disse.

No último dia 7, as três candidatas organizaram uma live em que discutiram violência política de gênero.

Cada uma delas também tem propostas relacionadas às mulheres. Joice pretende criar o Banco da Mulher, para oferecer microcrédito exclusivamente a mulheres das periferias.

Marina propõe a Bolsa-Neném, uma renda mínima mensal para mulheres com filhos de até 4 meses.

E Vera planeja uma série de medidas de combate à violência contra mulher e fala em reserva de 70% das vagas de empregos para mulheres e negros.

Os demais candidatos homens também fizeram acenos às mulheres ao longo da campanha, incluindo propostas e agendas específicas. Guilherme Boulos (PSOL), Andrea Matarazzo (PSD), Orlando Silva (PC do B) e Arthur têm candidatas a vice mulheres.

Márcio França (PSB) e Boulos chegaram a travar um embate em torno do tema da violência doméstica.

A sentença do caso Mariana Ferrer, que absolveu o empresário André de Camargo Aranha da acusação de estupro, foi rechaçada pelos candidatos em São Paulo –homens e mulheres.

Para as candidatas, a participação dos homens na luta contra o machismo é bem-vinda.

“É muito importante que todos os candidatos tenham se posicionado, porque esse retrocesso está acontecendo e é urgente se posicionar contra ele. Mas também é preciso ter representatividade, ter mulheres ocupando esse espaço. Numa democracia representativa, a política tem que ser para todo mundo”, diz Marina.

“É importante se colocar contra [o machismo], mas não para ficar bem aos olhos das mulheres e ganharem votos agora nas eleições, isso tem que se revelar nas práticas”, afirma Vera.

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