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Com disputa acirrada, servidores da Prefeitura do Recife são convocados a fazer campanha para João Campos

Chefes pressionam subordinados em grupos de WhatsApp a trabalhar pelo candidato do prefeito Geraldo Julio (PSB)

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Recife

Servidores com cargos comissionados na Prefeitura do Recife estão sendo escalados pelos chefes diretos para cumprir desde o primeiro turno missões diárias na campanha de João Campos (PSB). Filho do ex-governador Eduardo Campos, o candidato é apoiado pelo prefeito Geraldo Julio (PSB).

As convocações incluem bandeiraços, distribuição de panfletos em semáforos e comunidades e o uso de camisetas amarelas —cor da coligação do PSB. São feitas em grupos organizados pelo WhatsApp e divididos de maneira sistêmica por secretarias e órgãos públicos municipais.

A Folha teve acesso ao conteúdo de grupos de pelo menos quatro secretarias municipais e confirmou a autenticidade das mensagens após entrevistar alguns dos funcionários que integram o que eles chamam de “time”.

João Campos, candidato à Prefeitura de Recife, durante discurso na sede do PSB - Divulgação PSB

Em algumas das mensagens postadas, o servidor precisa indicar qual a agenda em que ele estará presente.

Os grupos são compostos por no máximo dez pessoas e têm uma espécie de capitão, geralmente o que tem maior poder hierárquico dentro do órgão municipal, que orienta os comandados.

Parte deles relata que, apesar de serem chamados de "voluntários", são pressionados e constrangidos pelos chefes a cumprir a missão determinada.

Em um dos grupos a que a Folha teve acesso, uma funcionária que ocupa cargo de chefia na Secretaria de Turismo da Prefeitura do Recife lista numa mensagem postada o que os cargos comissionados devem fazer naquele determinado dia.

“Pessoal, amanhã preciso do grupo inteiro. Vamos sair do posto às 17h de ônibus, pontualmente, para alguma ação na nona zona (não tenho o destino final). Peço que usem amarelo, ok?”

Em seguida, uma nova mensagem informa aos subordinados o ponto onde os servidores públicos devem se encontrar para começarem o trabalho.

“O ponto de encontro é no posto shell às 16h45. Não vou confirmar os nomes porque conto com a presença de todos nesta reta final”, diz o aviso postado.

Um dos integrantes do grupo confirmou à Folha que existe uma coação velada para que todos os servidores estejam no local determinado após as convocatórias.

No fim da agenda, uma foto de todo o grupo é postada para comprovar o cumprimento da demanda estabelecida.

“Gente, nesse segundo turno, não iremos fazer sinal. Será apenas comunidade e com carga máxima. Aguardem novas orientações”, diz a mensagem postada pela mesma funcionária.

Dois dias após a divulgação dos resultados do primeiro turno, que colocou João Campos e Marília Arraes (PT) na disputa final, uma nova mensagem foi encaminhada a todos os comissionados da secretaria.

“Gente, vencemos a primeira batalha e agora vamos ganhar a guerra. A partir de amanhã, voltaremos às ruas com toda força. Teremos ações todos os dias para todos os times. Aguardem novas orientações."

Em outro grupo, um alerta importante para os servidores é emitido: “Ontem, às 23h, recebi uma nova planilha com alteração de algumas escolas. Vou colocar a planilha aqui e peço que, com muito cuidado, vocês procurem os nomes de vocês e em seguida preencham uma lista confirmando que sabem onde vão atuar no dia D!”.

Os funcionários municipais respondem com um “ok”. Um dos servidores explicou à Folha que, na maioria das vezes, as mensagens convocatórias estabelecem um ponto de encontro.

De acordo com ele, que não se identificou por temer represálias, todos entram em um ônibus e vão para os destinos estabelecidos.

Não há, de acordo com o relato dele, pagamentos de lanches ou uso de carros oficiais.

“Peço que não esqueça de usar amarelo, tá? Acabaram de reforçar esse pedido. Peço que todos contribuam. Muito obrigada”, diz a mensagem postada no grupo na primeira semana do segundo turno.

Os nomes dos funcionários são listados um a um com a ação de campanha a ser feita no dia. “Ação Panfletagem porta a porta. Quarta-feira (25/11). Saída: 16h30 (Praça do Arsenal). Local: Nova descoberta (6ª zona)”, avisa mensagem postada nesta quarta-feira (25) em um dos grupos.

A Folha conversou com um dos “capitães”, que exerce cargo de chefia em um dos órgãos municipais. Ele relatou que os ônibus com os servidores saem com 40 pessoas.

Há determinação para as pessoas não irem com seus próprios veículos ao local da ação. De acordo com as mensagens convocatórias, o objetivo é não dispersar o grupo e mostrar força e união. Há ainda a ressalva de que os ônibus estão pagos e são caros.

A Prefeitura do Recife, por meio de nota oficial, informou que não existe qualquer tipo de pressão ou influência para a participação de servidores em qualquer ato relativo às eleições municipais.

Comunicou também que mantém um posicionamento institucional diante de todo o processo eleitoral e a conduta dos seus servidores é regulamentada pela “Cartilha de Condutas Vedadas”, estabelecida por decreto municipal.

O documento, segundo a nota da prefeitura, foi elaborado e divulgado pela Controladoria Geral do Município e Procuradoria Geral do Município.

A prefeitura destacou que os servidores municipais têm a liberdade assegurada para exercer seu direito e participar das eleições dentro dos limites estabelecidos pela legislação.

Em 2008, durante a campanha eleitoral, a Polícia Federal chegou a cumprir mandado de busca e apreensão na Secretaria Municipal de Educação após denúncias de que computadores da prefeitura eram utilizados para coagir servidores a participar de eventos do então candidato João da Costa (PT).

Naquele ano, contando com o apoio do prefeito João Paulo (PT), que tinha o PSB na coligação, a Justiça Eleitoral chegou a cassar a candidatura de João da Costa por uso da máquina pública. Mas, após recursos, a decisão foi derrubada e o petista venceu, no primeiro turno, Mendonça Filho (DEM).

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