Descrição de chapéu Eleições 2020

Com internações em alta, Covas e Boulos se aglomeram com militantes no segundo turno em SP

Candidatos afirmam que seguem medidas, mas que nem sempre conseguem distanciar apoiadores

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São Paulo

Com as internações em decorrência da Covid-19 em alta em São Paulo, as aglomerações vistas ao longo de toda a campanha na capital paulista se tornaram mais evidentes e mais incômodas no segundo turno.

O ambiente propício para o contágio, com amontoados de apoiadores em busca de selfie e dezenas de jornalistas, foi uma realidade nos compromissos de campanha do prefeito Bruno Covas (PSDB) e de Guilherme Boulos (PSOL) ao longo desta semana.

Enquanto paulistanos se preparam para uma nova onda da doença que começa a se pronunciar, o tema é explorado entre os candidatos. Covas afirma que não há números que indiquem a necessidade de nova restrição das atividades.

O prefeito Bruno Covas (PSDB) durante entrevista em meio a apoiadores na zona sul de São Paulo
O prefeito Bruno Covas (PSDB) durante entrevista em meio a apoiadores na zona sul de São Paulo - Zanone Fraissat - 18.nov.20/Folhapress

Para a prefeitura, o aumento nas internações está dentro dos padrões de oscilação da doença. O governo do estado, porém, vetou a realização de novas cirurgias eletivas e não flexibilizou novas regiões na segunda-feira (16), como estava previsto.

O governo de João Doria (PSDB), aliado de Covas, marcou para 30 de novembro, um dia após o segundo turno, a revisão do Plano São Paulo, que determina o que abre e o que fecha em cada região.

Eleitores críticos do PSDB logo viram sinais de que os tucanos farão novo "lockdown" logo após as eleições, mas o prefeito afirmou que essa suposição é fake news. O governo admite rever o plano antes do dia 30, se necessário.

Boulos também deu voz a essa desconfiança, mas Covas rebate afirmando que as medidas são orientadas por médicos e pela vigilância sanitária, não pela política eleitoral.

Nesta sexta-feira (20), em ato no qual recebeu o apoio ​de outros sete partidos, Boulos foi questionado sobre a contribuição dos eventos de campanha, dele e de Covas, para o aumento do número de casos de Covid-19.

Realizado no auditório de um hotel na região central, o evento reuniu políticos e representantes das legendas, além da imprensa. Todas as cerca de cem pessoas usavam máscara, mas a ventilação era limitada porque as janelas só abriam parcialmente.

Boulos afirmou que, em outros tempos, um encontro como esse atrairia muito mais gente.

Guilherme Boulos (PSOL) faz caminhada com apoiadores no centro de São Paulo ao lado dos derrotados no primeiro turno Jilmar Tatto (PT) e Orlando Silva (PC do B)
Guilherme Boulos (PSOL) faz caminhada com apoiadores no centro de São Paulo ao lado dos derrotados no primeiro turno Jilmar Tatto (PT) e Orlando Silva (PC do B) - Marlene Bergamo - 18.nov.20/Folhapress

"O debate da pandemia tem que ser tratado sob uma outra ótica: a de que visivelmente existe o risco de uma segunda onda na cidade. Negar isso é uma irresponsabilidade que pode custar vidas", afirmou, emendando críticas à prefeitura. "O tema da pandemia tem que ser tratado com responsabilidade, não com conveniências políticas e eleitorais."

Durante a semana, ambos promoveram agendas de campanha que ignoraram o distanciamento social. A aglomeração se intensificou já no dia da votação do primeiro turno, no domingo (15).

Pela manhã, Boulos foi cercado na PUC, em Perdizes, por dezenas de jornalistas e militantes. Enquanto a multidão se dirigia para a seção de votação, uma minoria de eleitores reclamou do distanciamento ignorado e da confusão.

Covas também se viu cercado pela imprensa durante a votação. À noite, após a apuração, o prefeito chegou ao diretório estadual do PSDB carregado nos ombros por um grande grupo de apoiadores. “Bruno, Bruno, Bruno é o maior prefeito do Brasil”, cantavam.

Na quarta-feira (18), Covas foi até o Jardim Ângela, no extremo sul, acompanhado de aliados como o vereador Milton Leite (DEM). Mais uma vez seus apoiadores lotaram as calçadas, alguns deles sem máscaras.

Covas foi questionado pela imprensa sobre o assunto. "Eu já inclusive pedi para uma [pessoa], que estava próximo de mim, para colocar a máscara. Não é porque é campanha que o vírus acabou. Evitando aglomeração, evitando ao máximo, mas é difícil também segurar o apoio das pessoas que querem vir aqui ajudar.”

Bruno Covas (PSDB) durante visita ao Comércio do Jardim Ranieri - Zanone Fraissat - 18.nov.2020/Folhapress

As cenas se repetiram nesta sexta, quando Covas chegou acompanhado por uma multidão ao Siemaco (sindicato de trabalhadores da limpeza urbana) e falou em um auditório.

Os organizadores até tentaram seguir protocolos, como bloquear o acesso à maioria das poltronas para garantir espaçamento. No entanto, apoiadores com bandeiras e camisetas com o slogan da campanha de Covas (força, foco e fé) se aglomeraram nos corredores, em clima de torcida.​

Uma caminhada promovida por Boulos na quarta-feira no centro da capital teve cenas de aglomeração, empurra-empurra e também apelos da equipe do candidato por distanciamento, além de distribuição de álcool em gel.

Quando a passeata entrou pelas ruas estreitas do centro histórico, os participantes andaram em bloco, enquanto gritavam palavras de ordem e aplaudiam o candidato.

A reportagem da Folha não detectou pessoas sem máscara. Boulos, Jilmar Tatto (PT) e Orlando Silva (PC do B) tiraram o acessório para comer fatias de bolo entregues por um entusiasta. Em seguida, recolocaram a proteção.

Questionado sobre a aglomeração, Boulos repetiu que sua campanha tem "tomado os cuidados sanitários".

"Tem equipe com álcool em gel, orientando o distanciamento", disse, acrescentando que optou por não divulgar antecipadamente, para o público em geral, sua aparição em locais públicos.

Guilherme Boulos (PSOL) faz caminhada pela avenida M'Boi Mirim, na zona sul - Marlene Bergamo - 17.nov.2020/Folhapress

Foi a mesma resposta dada um dia antes, em caminhada pelo comércio na Estrada do M'Boi Mirim, na zona sul.

Boulos passou álcool em gel na mão e no microfone antes de pegar o equipamento. O cuidado era paliativo diante da cena completa: ao discursar, ele estava cercado por dezenas de militantes, que usavam máscara, mas não mantinham distância. A aglomeração ocupava a calçada e a faixa de ônibus da avenida.

O candidato do PSOL tirou fotos e até carregou uma criança, entregue pela mãe. Ele também distribuía panfletos aos comerciantes —prática que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) não recomenda.

No carro de som, uma voz feminina passou a pedir atenção ao distanciamento social.

​"Nem sempre, infelizmente, é possível garantir todo o distanciamento necessário. Às vezes as pessoas se empolgam, se emocionam, querem chegar mais perto, querem abraçar. Mas nosso esforço tem sido garantir os protocolos", afirmou Boulos.

Como mostrou reportagem da Folha, a cardiologista Ludhmila Abrahao Hajjar, que atua no InCor (Instituto do Coração) e no Hospital Vila Nova Star, afirma que o período eleitoral foi um dos fatores que levaram ao aumento de casos e de internações em São Paulo.

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