Com Lula virtual, PT segue na disputa em três cidades da Grande São Paulo

Antigos nomes da legenda foram vencidos pela máquina de mandatários no primeiro turno

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Mogi das Cruzes (SP)

A estratégia do PT de apostar em ex-prefeitos para tentar voltar a governar cidades da região metropolitana de São Paulo não surtiu o efeito esperado no primeiro turno. Dos seis candidatos com esse perfil, apenas dois conseguiram avançar para a segunda etapa do pleito. Com a candidatura de um vereador, o partido segue na disputa em três cidades.

Nas 39 cidades da Grande São Paulo, o PT lançou 26 candidaturas e não conseguiu eleger nenhuma em primeiro turno. Em 2016, em seu pior resultado, o PT elegeu apenas um prefeito na região, em Franco da Rocha.

O melhor desempenho do partido neste ano veio em Diadema, na região do ABCD Paulista. Ali o PT lançou a candidatura do ex-prefeito José de Filippi, que já comandou a cidade por três mandatos, os dois últimos de 2001 a 2008.

Filippi conseguiu quase 46% dos votos e disputará o segundo turno contra o engenheiro Taka Yamauchi (PSD), que também disputou a prefeitura da cidade em 2016 e, desta vez, recebeu 15% dos votos.

“Vamos seguir conversando com o povo, visitando os bairros e levando nossa mensagem de esperança. O próximo prefeito vai enfrentar grandes desafios a partir do ano que vem, após 8 anos de abandono, e eu, junto com uma equipe experiente, estou pronto para resolver os problemas deixados pela atual administração”, disse Filippi por meio de sua assessoria.

No primeiro turno, em mensagem ao lado do candidato, o ex-presidente Lula disse que Filippi era o homem que aparecia em Brasília com um projeto na mão.

“Conheci Diadema desde 1969 e conheço agora. Sei que grande parte das coisas bonitas que Diadema tem foi feita pelo companheiro Filippi quando prefeito ou secretário de obras”, diz Lula.

Para o segundo turno, o candidato diz que o ex-presidente está gravando mais um vídeo. “Lula sempre foi um grande amigo de Diadema, e o povo sabe disso. Foi ele que trouxe a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) a Diadema e ajudou a construir o Quarteirão da Saúde”, afirma.

Um homem de camisa vermelha e boné falando ao microfone do alto de um caminhão
O ex-prefeito e candidato à Prefeitura de Diadema, José de Filippi - Divulgação

Já o pior desempenho de um ex-prefeito petista na campanha foi em Rio Grande da Serra. Ali Ramón Velásquez, que governou a cidade de 2000 a 2004, foi escolhido por apenas 487 eleitores, o equivalente a 2% dos votos válidos. Com 35% do eleitorado, foi eleito Claudinho da Geladeira (Podemos).

Em São Bernardo do Campo, após uma campanha marcada pela polarização e críticas à gestão tucana, o ex-ministro do governo Lula e ex-prefeito Luiz Marinho teve 23% dos votos, insuficientes para frear a reeleição do tucano Orlando Morando, que venceu em primeiro turno com 67% dos votos válidos.

Se em 2010 Marinho saiu pelas ruas da cidade ao lado de Lula, que mora no município, dessa vez a pandemia impediu a presença física do ex-presidente, que se envolveu na campanha virtualmente.

Lula também gravou ao lado do aliado, a quem classificou como “melhor prefeito que São Bernardo já teve”, finalizando com uma bênção aceita com um “amém” de Marinho.

Apesar da derrota, o presidente do PT na cidade, Cleiton Coutinho, destacou que a sigla conseguiu votação melhor do que em 2016, quando terminou em terceiro lugar. Ele atribuiu o resultado ruim à diferença de recursos entre as campanhas, acusando a campanha de Morando de ter feito boca de urna.

Por meio de sua assessoria, Morando disse que o dirigente deve "respeitar a vontade do povo" e reconhecer o trabalho feito por sua gestão, destacando ter entregue "o maior pacote de obras da história da cidade".

"Entendemos que deve ter sido uma derrota muito sofrida para o PT, por isso fica procurando justificativas", disse.

Na região-berço do partido —onde em 2016, pela primeira vez, o PT não elegeu prefeitos— a sigla também disputa o segundo turno em Mauá, com o vereador petista Marcelo Oliveira, que recebeu quase 20% dos votos válidos contra 36% do atual prefeito que tenta a reeleição, Átila Jacomussi (PSB).

Em 2018, Átila foi preso após a Polícia Federal encontrar R$ 87 mil em sua residência durante buscas da Operação Prato Feito, que investiga desvios na compra de merenda escolar.

Naquele ano, os vereadores rejeitaram um pedido de impeachment contra o prefeito, que acabou cassado pela Câmara em 2019. Meses depois, Átila voltou ao posto após uma decisão favorável do Tribunal de Justiça de São Paulo.

Cleiton Coutinho contabiliza os votos que foram dados para os outros candidatos —o terceiro lugar, Juiz João (PSD), recebeu 19% dos votos— para concluir que a maioria dos mauaenses busca opção ao prefeito.

“Mauá parece que começa a caminhar no sentido de uma frente ampla pelo bem da cidade e isso significa uma frente contra o Átila, porque ele é o inimigo de Mauá”, diz.

Fora do ABC, os ex-prefeitos petistas Emídio de Souza e Sergio Ribeiro terminaram em terceiro lugar nas disputas de Osasco e Carapicuíba, respectivamente, onde os atuais mandatários, Rogério Lins (Podemos), com 61%, e Marcos Neves (PSDB), com 73%, conseguiram a reeleição já no primeiro turno.

Emídio governou a cidade de 2005 a 2012, fez o sucessor, elegeu-se deputado estadual em 2018 e foi advogado de Lula. Desta vez, porém, não teve o mesmo apelo no eleitorado: conseguiu 13% dos votos e terminou atrás do vereador Elissandro Lindoso, que recebeu cerca de 20%.

Emídio também gravou ao lado de Lula, que o apresentou como “uma pessoa muito especial pra mim e um companheiro que tem uma trajetória política e muito bem sucedida, na luta pela de defesa dos interesses do povo trabalhador em Osasco, em São Paulo e no Brasil”.

“É claro que uma presença do presidente Lula na rua impulsionaria ainda mais nossa candidatura. Entendo como a pandemia inviabilizou isso, mas o presidente gravou mensagens, e sou muito grato por esse apoio”, disse Emídio por meio de sua assessoria.

Embora sem o resultado esperado, o deputado diz que sai com “cabeça erguida" e que foi feito o que "estava ao alcance", acusando Lins de abuso de poder econômico e lembrando que o PT não conseguiu eleger vereadores na cidade em 2016, o que deu espaço para novos atores na oposição.

Um homem idoso de óculos parado numa esquina diante de uma faixa de pedestre e pessoas caminhando ao fundo
O ex-prefeito e candidato do PT à prefeitura de Guarulhos, Elói Pietá - Adriano Vizoni - 18.nov.2020/Folhapress

Um dos fundadores do PT, o ex-prefeito de Guarulhos Elói Pietá decidiu não seguir o mesmo caminho e manteve Lula fora de sua timeline, ao contrário do que fez em 2018, quando disputou uma vaga na Câmara e publicou diversas mensagens em defesa do ex-presidente. Pietá, porém, não conseguiu se eleger.

Desta vez —depois de terminar em terceiro lugar na disputa pela prefeitura em 2016— Pietá recebeu 32% dos votos válidos e disputa o segundo turno contra o atual prefeito Gustavo Henric Costa (PSD), o Guti, que recebeu 45%.

“Elói Pietá foi escolhido pelos eleitores descontentes com o atual prefeito para ir ao segundo turno justamente por ser o mais experiente e ter obtido 80% de aprovação popular em seus dois mandatos à frente da prefeitura. Agora, trata-se de uma nova eleição”, afirma a campanha.

Questionado sobre o motivo de ter deixado Lula fora da campanha na primeira etapa e se isso mudará durante o segundo turno, o petista desconversou e disse, por meio da assessoria, que pretende focar em temas locais.

“Os eleitores querem discutir sua cidade, não querem discutir temas nacionais. Prova disso foi a derrota de todos os candidatos que tentaram nacionalizar a disputa”, diz.

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