Descrição de chapéu Eleições 2020

Com formato inovador, debate Folha/UOL acirra disputa pelo 2º lugar para Prefeitura de SP

Covas virou alvo preferencial e rivalizou com Boulos; Russomanno e França também se enfrentaram

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São Paulo

Candidato à reeleição e líder nas pesquisas, Bruno Covas (PSDB) virou o alvo preferencial dos adversários no debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo promovido pela Folha e o UOL nesta quarta-feira (11), palco também de uma briga acirrada entre os que buscam uma vaga no segundo turno.

Cobrado por problemas de sua gestão, o tucano optou por rivalizar com Guilherme Boulos (PSOL). Ele é um dos que estão empatados tecnicamente em segundo lugar, ao lado de Celso Russomanno (Republicanos) e Márcio França (PSB), que também compareceram ao confronto.

Realizado com o formato de banco de tempo, o debate teve várias discussões diretas entre os participantes, que tinham liberdade para administrar seu tempo de fala. A dinâmica abriu espaço para provocações e respostas rápidas, além de explicitar as estratégias na escolha dos oponentes.

Russomanno, Boulos e França usaram os 15 minutos a que tinham direito cada um para disparar ataques ao primeiro colocado e se confrontarem com perguntas sobre experiência, alianças políticas e propostas.

Inovador no país, o modelo em que cada candidato tem um banco de tempo é usado tradicionalmente na França. Cada convidado começa com um saldo que vai sendo descontado ao longo do programa até chegar a zero.

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Debate com candidatos à Prefeitura de São Paulo realizado por UOL e Folha de S.Paulo. Relógio mede o banco de tempo dos candidatos - Mariana Pekin/UOL

Covas e Boulos tiveram protagonismo com uma intensa troca de perguntas e críticas.

O prefeito atacou o líder de moradia pela inexperiência em cargos públicos. O candidato do PSOL rebateu, falou de sua atuação em movimentos sociais e questionou o adversário sobre a ausência do governador João Doria (PSDB) na campanha dele.

"Desculpa, mas a diferença entre vender sonho e vender ilusão é exatamente conhecimento e responsabilidade fiscal. Falar bonito, falar fácil, é muito lindo de se ouvir. Só que precisa conhecer os números da cidade de São Paulo", disse Covas para Boulos.

"Eu queria aproveitar a oportunidade para deixar bem claro que eu não tenho nenhum problema em apresentar os apoios que eu tenho. Tenho toda a felicidade de ser o candidato apoiado pelo governador João Doria. Mas o candidato nesta disputa sou eu", disse o prefeito.

"De fato, a experiência que você tem, governando com o PSDB, que deixou um legado de um governo elitista, com escândalos, essa eu quero longe de mim. A respeito de capacidade de gestão, ninguém governa sozinho. Precisa ter equipe. Eu tenho. E tenho sensibilidade social", respondeu o postulante do PSOL.

Candidatos a prefeito de São Paulo e as duas mediadoras no cenário do debate Folha/UOL - Mariana Pekin/UOL

O candidato à reeleição ouviu dos três concorrentes críticas à sua gestão em áreas como saúde, educação, moradia e transporte. Ele buscou demonstrar conhecimento da máquina pública, distribuiu números e destacou sua atuação durante a pandemia de Covid-19.

Sobre o sumiço de Doria, Covas repetiu o argumento de que o governador está ocupado com seus afazeres e voltou a usar o tema para alfinetar Russomanno, lembrando a participação de membros do governo Jair Bolsonaro na campanha do rival. O presidente apoia o deputado e apresentador de TV.

A discussão sobre vivência no Executivo também apareceu na boca de Covas no embate com Russomanno. Ele disse que o parlamentar "não conhece o que se passa na cidade de São Paulo" e, ao comentar a poluição dos rios Tietê e Pinheiros, falou que o deputado "não sabe do que está falando".

Já França quis se apresentar como experiente e buscou fazer um contraponto a Boulos e Russomanno. "Às vezes eu ouço você falar e dá uma sensação de que tudo é possível", disse para o nome do PSOL.

O ex-governador ainda ironizou Russomanno, famoso pela bandeira do consumidor na TV, perguntando se o eleitor pode invocar o Código de Defesa do Consumidor para reclamar de quem abandona mandato. O deputado federal, com mandato até 2022, teria que renunciar se fosse eleito prefeito.

"Sempre cumpri os meus mandatos até o fim", arrematou o ex-governador, em tom de autopromoção.

Nos bastidores, a avaliação das campanhas foi a de que Covas escolheu antagonizar Boulos porque ele seria um candidato mais fácil de ser superado no segundo turno. A equipe de França tem dito que o tucano tenta evitar o avanço do candidato do PSB porque ele seria um rival mais forte.

Em ritmo de derretimento nas pesquisas, Russomanno aproveitou o debate para fustigar principalmente Covas, dentro de sua estratégia de atacar a dupla "Bruno-Doria", e Boulos, contra o qual lançou suspeitas a respeito da contratação de uma empresa pela campanha do PSOL.

De modo geral, o candidato apadrinhado por Bolsonaro mais atacou do que foi atacado, o que Boulos descreveu como sinal de desespero pela queda ininterrupta nas intenções de votos.

Russomanno também tentou se defender da acusação de censura à pesquisa Datafolha que seria divulgada nesta quarta. Ele não apresentou evidências, no entanto, de que a metodologia do instituto seja falha, como argumentaram os advogados de sua campanha.

"A gente questiona a metodologia. Ninguém está restringindo absolutamente nada", disse ele. "Estou tranquilo em relação a isso. Parabenizo vocês [do instituto] por tentar mostrar o que o eleitor pensa. Agora, vamos cumprir a legislação."

Em resposta ao candidato, o Datafolha afirma que segue todas as diretrizes impostas pela legislação eleitoral, com transparência e rigor, e que confia na Justiça para garantir ao eleitor o direito à informação. Por isso, entrou com recurso e aguarda decisão para divulgar os números.

Indiretas e ataques

Pontos controversos da trajetória dos candidatos também foram levantados, além de aspectos considerados negativos pelos rivais.

Covas defendeu seu vice, Ricardo Nunes (MDB), das suspeitas que pesam contra ele por sua atuação no setor de creches do município e afirmou que não há nada que desabone seu colega de chapa. "Tenho total confiança nele", frisou.

Em indireta para Boulos, o tucano criticou a esquerda por ser "contra a responsabilidade fiscal".

O candidato do PSOL, por sua vez, se esforçou para associá-lo a Doria, de quem Covas herdou a cadeira de prefeito em 2018. O governador é rejeitado por 39% dos moradores de São Paulo, segundo o Datafolha. O instituto também mostrou que 59% não votariam de jeito nenhum em um candidato apoiado por ele.

"O João Doria abandonou São Paulo. Você foi eleito junto com ele. Ele foi mais vezes para Nova York do que para o Capão Redondo quando era prefeito. Fez da cidade um trampolim para projetos pessoais. E você herdou isso", afirmou.

Boulos ainda ouviu de Russomanno a acusação de que a campanha do PSOL contratou empresas fantasmas —o que a equipe do candidato, em nota, contestou. No ar, depois de muita insistência do deputado, ele disse que o deputado estava "querendo fazer pegadinha em debate".

O candidato do Republicanos fez acenos ao eleitorado da periferia e disse que, se eleito, vai "governar dentro das subprefeituras, andando nas ruas e ouvindo as pessoas".

Com uma retórica semelhante à de Bolsonaro no tema da pandemia, ele provocou Covas com uma indagação que o tucano, com poucos segundos disponíveis, deixou sem resposta: "É verdade que você e o Doria vão fechar o comércio de novo, fazer lockdown, se vier uma segunda onda [do coronavírus]?".

França também mencionou o governador para atingir o atual prefeito, dizendo que "Bruno está certo [em omiti-lo de suas propagandas], é muito difícil você arrastar o contêiner que o Doria é do ponto de vista eleitoral".

Boulos não deixou passar a oportunidade de lembrar que o candidato do PSB era até 2018 aliado dos tucanos —foi vice de Geraldo Alckmin (PSDB) no Palácio dos Bandeirantes e ajudou a costurar a coligação que elegeu Doria prefeito da capital quatro anos atrás.

"Eu, Márcio, jogar junto com o PSDB? Eu, não!", disse o postulante do PSOL para o adversário, quando uma pessoa no estúdio insinuou, em tom de brincadeira, estar se desenrolando uma dobradinha entre ele e Covas. Boulos tenta colar França nos tucanos para fazê-lo perder votos na esquerda.

Cobrado pela inexperiência em cargos públicos, o psolista dirigiu observação semelhante ao rival do PSB. Ele sugeriu que a passagem de França pela Prefeitura de São Vicente (SP), exaltada pelo próprio, é incomparável à tarefa de administrar uma capital do porte de São Paulo.

"É importante reiterar que você foi prefeito de São Vicente, com todo respeito a São Vicente. Foi governador [de um mandato] tampão [de nove meses, em 2018]", afirmou.

França retrucou: "E você, foi prefeito de onde? Tem uma noção mínima de orçamento? Às vezes eu ouço você falar e dá uma sensação de que tudo é possível".

"Não tenho nada contra São Vicente, não é nenhum tipo de desprezo. Não sinta da minha parte como qualquer tipo de soberba", acrescentou Boulos, diante de críticas do oponente.

Na sequência, da esquerda para a direita e de cima para baixo, Covas (PSDB), Russomanno (Republicanos), Boulos (PSOL) e França (PSB) durante campanha - Divulgação

Até a dinâmica do debate foi pretexto para brigas. Covas, em indireta para Russomanno, disse no início do programa, depois que o oponente tirou uma dúvida com as mediadoras: "Tem candidato que não consegue entender a regra do debate. Imagina estar preparado para governar a cidade de São Paulo".

França, que chegou ao terceiro bloco com o maior tempo disponível, brincou: "Esse é um bom exemplo da experiência, de que administrar o tempo é como administrar sua casa. Com experiência, você aprende que tem coisas que você tem que fazer a seu tempo", disse.

Covas e Boulos, que se confrontaram muito e foram também alvejados pelos demais participantes, foram os que gastaram mais rápido o saldo de minutos.

Foram convidados para o debate os quatros candidatos à Prefeitura de São Paulo mais bem colocados na última pesquisa Datafolha, divulgada no último dia 5. De acordo com o levantamento, Covas está isolado em primeiro lugar, com 28% das intenções de votos.

Empatados tecnicamente em segundo lugar estão Russomanno, com 16%, seguido de Boulos, com 14%, e França, que aparece com 13%. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.

Os postulantes à prefeitura foram entrevistados pela editora do Núcleo de Cidades da Folha, Luciana Coelho, e pela colunista do UOL Thaís Oyama.

Para evitar aglomeração devido à pandemia do coronavírus, o debate foi realizado sem plateia, no estúdio UOL, na avenida Faria Lima, em São Paulo. O evento seguiu as orientações de distanciamento, uso de máscara e medição de temperatura.

O primeiro turno da eleição acontece neste domingo (15). Se houver segundo turno em São Paulo, o debate Folha/UOL será no dia 26 de novembro, às 10h.

O formato adotado será o mesmo de banco de tempo, mas com 30 minutos para cada candidato.

Como mostrou a Folha, a semana anterior ao primeiro turno será decisiva, com uma sequência de três debates. Nesta terça (10), o jornal O Estado de S. Paulo realizou o encontro em parceria com a Faap (Fundação Armando Alvares Penteado). Nesta quinta (12), os candidatos se encontram em debate da TV Cultura.

Além dos quatro candidatos em melhor posição nas pesquisas, a TV Cultura convidou os postulantes com representação no Congresso, como determina a lei eleitoral para debates televisivos, o que inclui também: Jilmar Tatto (PT), Arthur do Val (Patriota), Joice Hasselmann (PSL), Orlando Silva (PC do B), Andrea Matarazzo (PSD) e Marina Helou (Rede).

Russomanno, que indicava a intenção de não comparecer aos embates, reviu a estratégia no momento em que sua queda nas intenções de voto se acelera. Na pesquisa Datafolha divulgada em 23 de setembro, ele liderava a corrida com 29%.

Seu derretimento é atribuído ao apoio de Jair Bolsonaro (sem partido). Segundo o Datafolha, 64% dos moradores de São Paulo dizem que não votariam de jeito nenhum em um postulante a prefeito apoiado pelo presidente da República.

A campanha eleitoral foi marcada até aqui pela pandemia, pela ausência de debates na TV e pela míngua nos atos de rua.

Nesta última semana, além da sequência de debates, os principais candidatos se voltaram para visitas e compromissos em bairros periféricos da cidade, enquanto optaram por veicular no horário eleitoral peças que resumem suas propostas.

Adiadas de outubro para novembro por causa da pandemia do novo coronavírus, as eleições de 2020 só agora passam a receber atenção maior do eleitor. Na pesquisa espontânea do Datafolha, 30% dos entrevistados ainda respondem que não sabem em quem votarão —no levantamento anterior, eram 36%.

Entre os que respondem já ter candidato para a votação do próximo domingo, há uma cobiçada fatia de 42% que dizem que seu voto ainda pode mudar. Segundo dados do Datafolha do último dia 5, a migração de votos favorece sobretudo os candidatos Covas e França.

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