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De aliado festejado a pivô de problemas, deputado vira calo de Marília Arraes no 2º turno no Recife

Túlio Gadêlha (PDT) trouxe turbulências para dentro da campanha petista após declarar apoio

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Recife

Escanteado da corrida pela Prefeitura do Recife após acordo de cúpula entre PDT e PSB, o deputado federal Túlio Gadêlha (PDT), que declarou apoio a Marília Arraes (PT) nesta semana, transformou-se em pivô de problemas para a candidatura da petista nesta reta final do segundo turno.

No domingo (22), seis horas após o apoio a Marília, Túlio Gadêlha afirmou nas redes sociais que seu chefe de gabinete havia sido procurado pela coordenação da campanha do PSB no Recife —que é adversária da candidata petista. “Disse que eles estavam querendo negociar meu silêncio”, postou.

Três horas depois, o então chefe de gabinete dele, Rafael Bezerra, pediu demissão pelo Twitter e disse que nada do que Túlio Gadêlha tinha dito havia acontecido. Classificou o ato do deputado como “uma tentativa vil de exposição”.

No dia seguinte, Túlio Gadêlha, ainda sem apresentar provas, afirmou que era comum, na vida e na política, pessoas recuarem no que dizem diante de pressão.

Era o começo de um desgaste para a deputada Marília Arraes, neta do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes. Ela lidera as pesquisas na disputa deste segundo turno contra o primo João Campos (PSB), filho do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos e bisneto de Miguel Arraes.

Nesta segunda (23), a revista Veja publicou uma gravação em que Túlio Gadêlha diz a um interlocutor que, em conversa com Marília Arraes, ela teria dito que ele precisava fazer fundo de caixa de campanha a partir dos assessores e juntar R$ 30 mil.

Não é possível identificar com quem o parlamentar conversa nem precisar a data do diálogo. Logo depois da publicação, por meio da assessoria de imprensa, Marília Arraes informou que, por ser uma conversa de terceiros, quem teria que falar sobre as circunstâncias do diálogo revelado era o deputado Túlio Gadêlha.

Só na manhã desta terça-feira, por meio de nota, ele se pronunciou. Disse que se tratava de mais uma “fake news” do PSB. “Tática essa que tem se tornado corriqueira na campanha pela Prefeitura do Recife.”

O deputado alegou que o áudio estava, em suas palavras, completamente descontextualizado. “Solicitei perícia para comprovar, em tempo, a manipulação da gravação apresentada fora de contexto”, disse.

O assunto foi mencionado poucas horas depois pelo candidato João Campos durante debate numa TV aberta do Recife para atacar a prima Marília Arraes. Aproveitou para citar que ela foi investigada pela prática de "rachadinha".

Neste ponto, entra em cena outro personagem na eleição mais acirrada do Recife nos últimos anos: a delegada Patrícia Domingos (Podemos), que ficou em quarto lugar no primeiro turno.

Em 2017, à frente da Decasp (Delegacia de Crimes Contra Administração e Serviços Públicos), investigou a petista e a indiciou sob suspeita do crime de peculato.

A pedido do Ministério Público, a Justiça arquivou o inquérito por falta de provas. A delegada Patrícia Domingos também indiciou sob a suspeita do mesmo crime o ex-vice prefeito do Recife Milton Coelho (PSB) na gestão do petista João da Costa.

Primeiro suplente do PSB, ele assume a vaga em caso de vitória de João Campos. Os fatos contra ele investigados, também arquivados, referiam-se ao período em que ele comandava a Secretaria de Administração do governador Paulo Câmara (PSB).

Em relação a Marília Arraes, na instância cível, a respeito do mesmo fato, houve desdobramento para apurar se fica comprovada a improbidade administrativa. Desde 2019 parado, nesta terça-feira (24), o juízo expediu a citação para que Marília Arraes fosse notificada.

Procurado pela Folha, o advogado Walber Agra, responsável pelo jurídico de Marília Arraes, disse causar estranheza que o processo que estava adormecido volte à tona na semana final das eleições.

“As tipificações penais podem mudar, mas o fato é o mesmo. A instância penal se sobrepõe à instância cível. Estava morto para ser despachado desde 11 de dezembro de 2019 e, apenas um ano depois, no calor eleitoral, é que existe a ordem para citação”, declarou.

No segundo turno, o PSB tem feito uma ofensiva na propaganda eleitoral na tentativa de diminuir a vantagem de Marília nas pesquisas. A temperatura eleitoral na disputa entre os primos aumentou bastante.

Nesta sexta-feira (27), os dois ficarão novamente frente à frente durante o último debate na televisão.

Pesquisa Datafolha realizada na semana passada apontava Marília Arraes com 55% dos votos válidos na disputa do segundo turno, contra 45% de João Campos. Os votos válidos excluem brancos, nulos e indecisos.

O Datafolha ouviu 924 eleitores nos dias 17 e 18 de novembro. A pesquisa, feita em parceria com a TV Globo, tem margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos.

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